Eu acredito que eu duvido da existência de uma vida cristã devotada, isto é, eu duvido que eu creia na devocional cristã na vida. Se assim não fosse eu não estaria escrevendo este artigo, estaria no meu quarto orando, buscando a face daquele que sonda o meu interior corrompido dando ordens aos meus pés para correr em direção ao mal.
Falo tanto na missão integral que esqueci da integralidade da missão em minha própria existência. Falo tanto na teologia, mas intimamente eu duvido da imanência e estudo apenas a transcendência. Me escondo atrás do grego e do hebraico para disfarçar a falência do meu português na oração não realizada.
Falo tanto da graça sobre meu coração, mas me calo diante da transgressão das minhas mãos. Insto contra os vendilhões do templo, mas aprovo a venda da minha santidade. Penso no perdão que Deus concede mas atuo na indiferença de uma vida atéia.
Vivo uma dialética pecaminosa, com a coisificação da santidade e a essencialização da iniquidade.
De que serve o conhecimento? Apenas sei da minha condição escrava, onde as amarras da inércia me impedem de esmurrar meu próprio corpo contra o pecado.
Me arrependo de não me arrepender, um arrependimento não arrependido diante do pecado cometido, mas me lembro do perdão, e volto com um arrependimento sem lágrimas por não ter me arrependido de verdade.
Duvido que creio na graça, e creio que eu duvide de graça, pois muito me custa essa vida que nada vale.