Os dois primeiros artigos que escrevi sobre esse tema geraram comentários, em sua maioria positivos, algumas poucas críticas interessantes e dignas de um bom diálogo e alguns comentário ácidos temperados de achismos estranhos. Fui comparado a um asno, idiota e cego. Fui acusado de julgar pessoas, de estar magoado com o mercado gospel por não fazer sucesso e de não acreditar na expansão do Reino de Deus, afinal uma grande porta se abriu… Na última parte dessa série quero rever junto com você algumas coisas que pensei ao meditar em tudo isso.
Eu realmente acredito no mover do Reino de Deus. Meu maior desejo é que o Reino Santo venha completamente sobre nós. Anseio por esse dia. E sei que enquanto não chega, Ele se move em nós e através de nós. Também se move independente de nós. Deus não precisa da gente. Porém Ele ama nos envolver em seus projetos assim como um pai ama fazer o mesmo com seus filhos, mesmo que com isso, o projeto demore mais para se concluir.
O que eu tenho dificuldade de acreditar é que toda essa coisa que hoje é chamada mercado gospel, de fato, tenha a relevância que se imagina ter. Eu gostaria que fosse verdade que, se num domingo à tarde numa rede de TV poderosa que tem anulado valores morais com seus valores de liberdade, exibisse um programa evangélico em sua grade, a maioria das pessoas que visse não fossem cristãos e se convertessem. Eu gostaria de acreditar que toda essa logística tivesse como objetivo final revelar a mensagem que Jesus pregou e uma grande multidão de pessoas na segunda feira, estivessem vivendo a plenitude da promessa do Reino de Deus. Eu gostaria que fosse verdade que a massa de pessoas que fosse ver ao vivo aquele show, fosse, na mesma proporção, um grande corpo unido em Cristo que começasse um verdadeira revolução no país, sob a bandeira do amor e da inclusão. Eu gostaria que fosse verdade que eu fosse apenas um idiota magoado e cego que não enxergasse a verdade diante do próprio nariz e vivesse dentro de uma religião que me ensinasse que eu tudo posso naquele que me fortalece e determinasse a vitória na minha vida, sem dores, sem lágrimas, sem vergonhas. Eu realmente gostaria que fosse verdade. Mas não é.
Jesus nos deixou três simples lições básicas: Amá-lo verdadeiramente, lavar os pés uns dos outros nos amando mutuamente e nos diminuirmos para consideramos o próximo como superior. Mas o que tenho visto são pessoas que amam suas carreiras, amam sua forma de fazer culto, amam sua teologia e igreja e amam suas leis de usos e costumes. Vejo pessoas que amam aqueles que lhe fazem bem e adoram ter seus pés lavados ou pior ainda, não permitem que os seus pés sejam lavados pois o orgulho lhes impede de tal ato. Vejo pessoas que buscam engrandecer seus nomes, fortalecer seus ministérios abusando espiritualmente do próximo e fazendo muitas vítimas em nome da fé.
Mas somos uma igreja tão viciada em tudo isso que quando o assunto vem a tona, temos certeza de que não é conosco, assim como um mulher que apanha do marido constantemente pode acabar achando que isso é normal. E se por ventura nos sentirmos ofendidos, não perdemos a oportunidade de responder a altura, usando da falta de bom senso em questões como nosso mercado gospel ou o homossexualismo. Gritamos alto que temos a razão e quem quiser ser salvo que nos siga..se não morrerá no inferno. E as vezes torcemos para que alguns realmente morram assim… Aliás, pregamos muito mais a teologia do inferno do que a Teologia do Reino de Deus.
Mas Deus não pode usar tudo isso para seu propósito? Claro que sim! Ele usa, assim como usou uma mula para falar com um profeta. Mas minha pergunta é: Porque ele usou a mula? Minha resposta é: Porque a mula era menos teimosa que o profeta que estava errado mas não via seu erro. Com isso quero dizer que usar uma mula precisa ser a excessão! Mas temos feito da nossa vida torta a mula que faz o Reino prosseguir. Sim! Deus pode ter usado o Festival promessas para revelar sua glória da mesma forma que usou a mula! Deus usa qualquer coisa porque todas as coisas subexistem n’Ele! Mas até quando isso será nossa desculpa para continuarmos sendo irrelevantes numa sociedade carente da revelação de Deus?! Você já se perguntou porque Deus usou João como a “voz do que clama” no deserto? Se o Templo de Deus estava na cidade por que Deus estava no deserto? Talvez não estivesse no Templo pois lá haviam vendilhões e toda sorte de orações vazias. Deus nunca deixa de falar mas o Espírito se move quando e como quiser. Não é o mercado gospel nem a igreja que controla isso. Deus não está na igreja. A igreja está em Deus. A igreja pode estar tão podre quanto os dentes do mendigo bêbado que dorme às suas portas. Talvez até como um forma de Deus mostrar a verdade. E ambos podem ser igualmente salvos se o corpo de Cristo for relevante como Pedro foi com aleijado na entrada do Templo.
Se você acredita que todo esse louvor e adoração que vende cds e dvds é de fato relevante para o Reino de Deus, ótimo! Meu desejo é que você viva de verdade aquilo que você canta. Meu desejo é que você saia do conforto da sua igreja pra viver o evangelho da renúncia que você tanto defende na teoria. Que você morra pra você mesmo. Que pare de repetir versículos decorados e músicas emocionais para viver tudo aquilo que você prega. Que leia mais que pedaços da bíblia e livros de auto ajuda. Tenho certeza que, se você for por esse caminho, vai ser, assim com eu e tantos outros, considerado cego, idiota e louco. Talvez seja criticado, surrado, ignorado. Perca amigos, oportunidades e seu travesseiro. Vai se tornar escravo de Cristo para jamais voltar a ser escravo da teologia, da igreja e da prosperidade. Viverá livre na verdade que Jesus trouxe a cruz em forma de espada, a paz em forma de guerra e a revolução em forma de amor.
Quem sabe no dia seguinte você acorde e perceba que, para o Brasil ser de Jesus não basta apenas orar, cantar e aparecer na TV no horário nobre. Precisamos, como indivíduos e igreja, sermos a resposta das perguntas que o mundo está fazendo. Sermos a solução dos problemas e a cura dos males. O brasil só será de Jesus se primeiro nós formos dEle, por Ele e para Ele integralmente o tempo todo e não apenas nos fins de semana por algumas horas…