Os tempos passam. Coisas novas acontecem e outras deixam de acontecer. A história muda o tempo todo. E com ela, pessoas também mudam. Comunidades cristãs vem e vão, movimentos nascem e morrem, pessoas são encontradas e se perdem. A única coisa que permanece, são aqueles acontecimentos que tiveram o dedo do próprio Deus, obras que Ele fez em nós e em outros, que nem o tempo e nem a vida podem desfazer.
Coisas que Ele discretamente fez, invisíveis e permanentes; fragmentos de eternidade, que não podem, por natureza, se quebrarem ou se extinguirem. E como tem sido bom viver o que Deus tem feito em todos esses anos. Porém tenho estado fatigado. Por agora me abstenho de fazer qualquer referência às indignações contra os erros da igreja, contra os mercadores da fé, contra as heresias, etc.
Aliás, tenho percebido cada vez mais de que esses problemas referentes à igreja, são mais de quem os causa, com Deus, do que meus, e que talvez esteja na hora de revogar a sensação de algum controle que penso ter sobre isso. Não quero alimentar a ilusão de que há algum poder na minha indignação verbalizada, que possa amenizar os males da grande igreja institucionalizada.
Posso dizer que tenho a vontade de voltar no tempo e dizer “não” ao selo irrestituível de “evangélico” que ganhei quando me chamaram a aceitar um “deus” que na realidade me jogaria numa vida repleta de luzes, miragens e aparências eclesiásticas, e que por muito tempo, não permitiria que eu fosse eu mesmo e enxergasse a vida como ela é. Hoje, não mudaria minha história, mesmo se tivesse tal oportunidade, porque acredito que essa foi a história onde Deus agiu e me conduziu até aqui. Mas o que sinto, é uma sensação fatalista diante do fato de que seria irrealizável me desfazer da história que me designou com a marca de “evangélico”, marca essa, impossível de ser devolvida! Eu sou evangélico. Não posse negar ou desfazer isso! E por mais que negasse, poucos entenderiam isso.
No entanto, se eu pudesse realizar um único desejo ainda hoje, com a benção e a permissão de Deus, seria de recomeçar a minha vida de fé, fugindo de todos os estereótipos, rótulos, manias, linguagens, contextos e condições a que fui submetido por todos esses anos, nessa vida, definida como “evangélica”. Pois definitivamente não acredito mais em qualquer separação, segmentação, ou nomenclatura da vida com Deus. Ela é indefinível e inteira assim como Deus é também. Em Jesus Cristo, tudo para mim, se tornou holístico, santo, suficiente, completo.
Falando assim, parece que não dou crédito algum a realidade do meu encontro, da minha caminhada e da minha história com a igreja. Isso definitivamente não é verdade. Só tenho sentido saudades do tempo em que eu era só mais o fruto belíssimo da união carnal de meus pais do que um “nascido de novo” de um cristo institucionalmente limitado, que infelizmente não existe. Aliás, dentre muitos jargões evangélicos dos quais não acredito mais, o jargão “vida cristã” é o que menos acredito. Hoje, eu creio na Vida. Ponto. Ela já é suficientemente divina por si só, e é inevitavelmente sujeita ao Criador que a clama, inteiramente como sua.
Hoje, desejo ser só mais uma pessoa comum da sociedade que deseja seguir o Cristo e amar as pessoas, mesmo que ninguém venha a entender quem sou ou de onde venho. Fico imaginando, se amanhã eu acordasse, e nem mesmo conhecesse este blog, simplesmente por nunca ter me tornado evangélico… e não tivesse nenhum seguidor evangélico no twitter, tampouco seguisse outros evangélicos. Acho que tudo seria diferente. E , aliás, mais honesto. Verdadeiro. Melhor.
[box type=”info” size=”medium”] O termo “evangélico” significa simplesmente, “portador do Evangelho” e deriva lá do protestantismo. Mas nesse caso o termo foi usado como força de expressão de tudo aquilo que já não é mais isso nos dias de hoje. [/box]