Sobre santos e astronautas


  Como bem se sabe, astronautas passam por um dos mais rigorosos treinamentos da face da terra antes de serem de fato, astronautas. São meses de aulas teóricas e práticas, dentro de um  regime radical de horários calculados para cada uma das atividades básicas como acordar, tomar o café da manhã, almoçar, jantar e dormir. Fora as extenuantes aulas teóricas, o treinamento de um astronauta inclui a fase prática, aonde o sujeito é submetido a vários testes de resistência, dentre eles, o temido “cometa de vômito“, onde sofre um mergulho gravitacional de sete mil metros numa centrífuga mecânica. Nesse teste muitos candidatos não aguentam e são descartados do treinamento por conta de hemorragias e outras sequelas físicas.

Também faz parte do treinamento os testes aquáticos, que inclui nados numa piscina olímpica, onde deve-se percorrer em média duzentos metros por dia, vestindo os trajes e os calçados espaciais, mantendo-se sobre a superfície da água, sem afundar. Nesse teste, muitos também não resistem devido a cãimbras originadas pelo longo esforço físico para se manterem sobre a superfície.Há quem diga que astronautas são homens treinados para a perfeição. E apesar de serem recrutados a isso, é fato que não são pessoas perfeitas. São homens passíveis de erro e que sentem dor, medo, angústia e todo o tipo de fraqueza humana. E eles também sabem disso. Além do mais, sabem que no espaço não há a possibilidade de recorrerem às suas imperfeições como justificativa para o erro. Eles precisam defender e cumprir com exatidão aquilo que lhes foi destinado a fazer, apesar de serem somente meros seres humanos, imperfeitos como quaisquer outros.

   E quando lembro desses homens, penso em nós e em nossa missão. Tenho visto muitas pessoas perplexas e desapontadas com a radicalidade do chamado bíblico à relevância da Igreja na sociedade . Dessas pessoas, tenho ouvido muito uma frase pronta, de efeito moral e falacioso – “Não existe igreja perfeita”. A frase em si , de fato, é totalmente correta. Mas citada de forma muitas vezes pretenciosa, tem sido o argumento mais usado, tanto por grandes líderes quanto por pessoas comuns,  na tentativa de se esquivar da responsabilidade missiológica que Cristo delegou a nós, Igreja, perante a sociedade. Será mesmo que a imperfeição da igreja é uma boa justificativa para suas irresponsabilidades no que diz respeito à sua missão?

 Aliás, quando penso na história da aviação espacial, não lembro de um único astronauta em missão (por menos responsável que fosse) ter apertado botões errados no console da aeronave e dizer: “Não existem aeronaves perfeitas…”

 

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