Quantas pessoas você já levou a Cristo?

Internet tem dessas coisas, você fala com alguém que não conhece sobre num assunto em que nem foi convidado; twitter então, é um berço de discordâncias!

Lá na comunidade dos 140 caracteres li a seguinte frase: “quantas pessoas você já levou a Cristo?” Essa indagação surgiu como resultado de uma dessas hashtags que vira sucesso e entra nos trending topics; intrometidamente respondi: não seria a quantas pessoas você levou Cristo? Pra autora da primeira frase as duas frases são a mesma coisa… Deixei quieto, segui minha vida.

Detalhe, são só detalhes. Não fazem a mínima diferença, não têm profundas implicações e não revelam nossa real relação com o evangelho, é tudo a mesma coisa. Não acuso a autora de ler a mesma coisa nas duas frases, o fim parece ser o mesmo, e a igreja vem insistindo que é tudo a mesma coisa.

Levar as pessoas a Cristo não exatamente significa pegar uma pessoa, tirar do lugar em que ela está e colocar ela em outro lugar onde Cristo habita, no sentido metafísico a parada pode ser assim que funciona, você tira alguém do escuro e leva pra luz, dá sabor ao que estava sem sal, na prática, bem… Pra mim isso denota que Cristo está em um lugar, e se está num não está noutro, no fim das contas denota que Jesus mora no templo, o véu não foi rasgado, o templo deve existir!

Talvez me preocupe com coisa pequena. Vai ver isso não sustenta um sistema de consumo religioso onde minha espiritualidade não só é passível de ser medida como é medida pela minha participação nos eventos de determinada comunidade. E isso tudo não tem nada a ver com a discussão “ganhar almas”/ “transformar vidas”, não sustenta um gueto nem excluí ninguém…

Coisa pouca, coisa pequena, não nega a exigência de ser imitador de Cristo, nem nos coloca no conforto de simplesmente fazer um convite pra um programa no final de semana, talvez exija mudança de vida, mas é só uma questão de menos espaço na agenda, nada mais…

Talvez eu esteja levando algumas metáforas muito a sério, talvez o fato de Jesus caminhar no meio do povo não tenha nada a ver, talvez o sacrifício vivo seja só destinado pro primogênito, talvez o negar a si mesmo tenha implicações menores pra mim que sempre fui humano, talvez o fato de Deus ter se diminuído a um ser humano já tenha sido o bastante, talvez agora posso simplesmente viver em meu conforto evangélico, buscando a Deus nos programas da minha comunidade, assistindo e ouvindo celebridades gospel e dando meu dízimo.

Tentar ser igual a Cristo é demais, se compadecer dos pequeninos que não dividem o banco no meu templo exige muito; levar as pessoas a Cristo, essa é a missão da igreja! Ser como Cristo, ser e viver a Verdade, não, isso é demais… Deixa quieto, sigo minha vida…

Por fim, só mais uma exigência; não dava pra trocar esses bancos velhos e duros por poltronas, assim não bato acidentalmente em ninguém e fico mais confortável! Ah, e aumenta o ar condicionado aí, tô começando a suar!

Kyrie eleison

A imagem que ilustra esse post é a obra Lata de Sopa Campbell de Andy Warhol, artista americano que ficou tão ou mais famoso que sua arte, conhecida como Pop Art.

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