(Semana passada li no twitter de um amigo meu, cristão, a seguinte frase: “Creio que não devemos priorizar relacionamentos em detrimento da verdade.#pensenisso.” A frase dele soou incompleta pra mim, e me fez pensar, conforme era sua intenção. Pensei e decidi escrever. Abaixo, segue minha reflexão.)
Vamos falar a verdade aqui: a bíblia, às vezes tem umas paradas bem loucas e aparentemente contraditórias. Uma hora ela diz para não nos misturarmos com as coisas do mundo; outra hora diz que devemos ser o sal que os próprios homens provam na boca e luz que mergulha na escuridão. Aí diz que não devemos nos juntar à roda dos escarnecedores e dos ímpios, em seguida diz que devemos ir ao mundo todo, pregar a Boa Nova. E por fim ela amarra tudo isso, dizendo que podemos estar no mundo, mas não sermos do mundo. E nós até sabemos discernir a diferença entre essas duas condições. No entanto, ainda temos dificuldades de viver isso, sem cair nos extremos. Mas tenho uma compreensão de tudo isso que gera em mim algumas convicções a respeito de como devo me portar nesse mundo.
Primeiro: só a morte de Jesus nos separa do pecado. Nada mais que isso. Fugir do mundo está longe de fazer de alguém mais santo. Nem um pouquinho que seja. É Jesus que vem a humanidade, e só seu sacrifício nos justifica para uma vida santa. Não os meus esforços humanos. Nada que façamos pode nos elevar a Ele. Jesus não é buda. Segundo: Jesus não é menor que o pecado. Ele é maior. Senão ainda estaríamos dados como mortos. Ou seja, a Verdade jamais recua diante da mentira, a luz jamais retrocede à escuridão e o amor jamais se aparta da multidão de pecados. Isso quer dizer que, Jesus está sempre perto. O pecado não afasta Deus de nós, mas afasta nós de Deus. Tendo isso em mente surgem algumas questões: A verdade é algo a ser protegido do mundo? Ou algo a ser praticado NO mundo? O pecado contamina a fé ou a fé que desmonta o pecado? O pecado é mais forte que a fé, ou a fé “apanha” do pecado? Jesus afinal, venceu ou não venceu o mundo na cruz?
Trazendo esse entendimento para nosso cotidiano de relações com as pessoas no mundo, existem casos em que a proximidade com alguém, pode colocar nossos valores cristãos em risco, porque NÓS simplesmente não aguentamos o tranco. As pessoas influenciam mais a nós do que nós influenciamos elas. Nesse caso, é preciso saber reconhecer isso e tomar distância. Mas tenho visto cristãos que realmente acreditam que se afastando de pessoas estarão protegendo sua fé e com isso, estarão acessando um caminho mais rápido e seguro para praticar sua santidade. E isso é definitivamente uma bobagem, primeiro porque você não pode alcançar santidade pelos seus esforços; segundo porque a capacidade de pecar está em cada um de nós e não nos outros. Se afastar de pessoas é o caminho inverso do caminho de Jesus. Ele desceu ao mundo, e nunca precisou se esquivar ou fugir de alguém, nem das mais abomináveis pessoas que você possa considerar.
Quem se afirma como cristão de fato, não deveria temer o mundo, assim como Jesus não o temeu. Porque passar longe das tentações ou provações é uma coisa bem diferente de você criar um mundinho delimitado pela SUA própria dificuldade de se relacionar com pessoas. Se você tem dificuldade em ser alguém legal com quem não vai na igreja, e não consegue exercer sua força de influência como cristão, simplesmente reconheça isso e não fique arranjando desculpas bobas como “não se contaminar”, “se santificar” etc… Mesmo que a desculpa fosse a grande força das más influências; se um relacionamento com alguém “do mundo” já consegue enfraquecer sua fé, quantas pessoas você espera que possam aprender Dele com você e vê-Lo em você?
É preciso acreditar no poder e na força daquilo em que um dia confiamos. Porque a descrença nesse fato, tem sido a grande linha argumentativa de pastores viciados em “casa lotada”, que tem convencido milhares de pessoas pela via do medo à contaminação, a se trancarem nas igrejas para viver uma realidade longe do mundo, que na verdade não existe.
“Que a Força esteja com vocês, amigos”, ja dizia mestre Yoda… (1Jo. 4.4)