FilmaSSos: Laranja Mecânica

Primeiro umas ressalvas, esse filme é um Kubrick, então não é o filme pra você ver com sua namorada ou com aquela menina que você tá tentando algo mais que a amizade (a não ser que você queira dar uma de intelectual, aí dá pra chegar na mina e falar: “Tá afim de assistir um Kubrick comigo, gata?” É provável que dê errado, mas vai saber, né?!). Também não é um filme pra te fazer sentir bem, muito pelo contrário, os filmes do Kubrick tem como característica uma tensão e desesperança. Além disso, Laranja Mecânica tem umas cenas de violência, sexo e estupro meio complicadas, então, se você for assistir o filme não vai me xingar depois, porque eu avisei de antemão (e se for me xingar sem assistir o filme, ah, vá catá coquinho!).

O filme é baseado no livro homônimo que trata de uma distopia num futuro incerto na Inglaterra. Alex, o personagem principal, é um garoto problemático (daí as cenas de sexo e violência aparecem no filme pra afirmar o nível do guri, o descaso que ele tem com o próximo e o estilo de vida que ele leva — dava pra entrar mais afundo nessa análise do lugar do sexo e da nudez dentro do filme, mas, a meu ver, esses elementos ajudam a construir o personagem principal… A edição e a direção do filme ajuda pra que a forma como Alex encara o sexo seja bem repugnante; vale lembrar também que o filme é 1971 — o livro é de 1962 — então sexo era mais que um tabu, era algo que a juventude utilizava como forma de expressão e censurada pelos mais velhos). Depois de uma série de crimes, Alex acaba assassinando alguém e é preso por causa disso. Depois de um tempo preso, Alex é posto em uma terapia comportamental onde ele é manipulado a repudiar qualquer ato violento. A terapia é um sucesso e Alex se torna um “verdadeiro cristão”, um homem incapaz de responder a qualquer controvérsia, se é xingado ele não faz nada, ao se encontrar com a nudez de um mulher ele sente tonto e nauseado, Alex se torna então um homem manso e autômato, sem opção de cometer um erro. Me chama a atenção no filme um cena em que um pastor se levanta durante a apresentação do resultado do método e o pastor questiona se o rapaz tinha alguma opção, se existia algum mérito no resultado se Alex estava condicionado a não fazer o “mal”, a resposta do cara que aplicou o método é “Não estamos preocupados com motivos, com uma ética superior, só estamos preocupados em diminuir o crime!” Logo após essa fala, o cara é aplaudido por toda a plateia e o pastor ignorado.

Laranja Mecânica não é um filme “edificante”, é um filme ruim de assistir, que mexe muito com sua cabeça e te deixa com a pulga atrás da orelha. Minha esposa odeia esse filme (e odeia o Kubrick por causa desse filme), mas Laranja Mecânica mostra muito desse jogo político e de como é de interesse dos governantes que seus governados sejam o menos humanos possíveis, respondendo de forma previsível e automática, sem causar alarde, obedecendo cegamente seus líderes.

Sinceramente, se as igrejas tivessem a cabeça mais aberta, acredito que esse seria um ótimo filme pra se passar em qualquer reunião de liderança e, depois de discutido, ser exibido pra toda a comunidade, e discutido mais uma vez com todo mundo. Alex, a meu ver, representa esse movimento de manada em que muito gente é colocada, primeiro um bando de rebelde sem causa, depois um boi seguindo a boiada sem saber o que está fazendo ou porque faz o que faz.

Como a cerejinha do bolo, Alex ao ser manipulado, é manipulado a detestar o seu maior prazer como parte do método de castração. Quantas vezes você já viu uma coisa parecida acontecer, aquilo que você gosta muito é transformado em algo que te dá náuseas?

Bom filme!

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