A manjedoura e o carrinho de recicláveis, lugares para o não estar. Breve reflexão sobre o “Dia das Crianças”

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Um grande compadre(muito conhecido por todos aqui) sugeriu que nesta semana do “diadas crianças” trocássemos nossas fotografias do Face e Twitterpor outras de crianças em situação de risco, para que a data fosselembrada com uma maior relevância, troquei a minha e me dispus a umabreve reflexão.

Ainda hoje em nossopaís (8º economiamundial ?), computados alguns tímidos avanços nos últimos anos em relação àconcretização de direitos básicos das crianças eadolescentes, mesmo assim no Brasil, apenas uma minoria dos pequenos tem assegurados acessoà educação de qualidade, a saúde, a arte, esporte, lazer, alimentação, àvida. A MAIORIA das nossas crianças não tem acesso a todos estesdireitos básicos.
Em Curitiba, uma “cidade praticamente de primeiro mundo” (não há muitos dados para confirmar esta esta afirmação),segundo o Ministério Público, em 2011 faltam 23.000 vagas nas creches de nossa “capital social”. Creche é essencial paraos trabalhadores das periferias, principalmente carrinheiros. Daí ofato destes preferirem levar seus filhos a tiracolo pelas ruas àdeixá-los sem proteção em casa. Outros trabalhadores, que não possuem tanta mobilidade, são obrigados a deixarem crianças muito pequenas sozinhas, sujeitas à vários perigos. Não é difícil encontrar nocentro de Curitiba carrinheiros com seus filhosem meio aos recicláveis ao invés das crianças estarem em espaçosapropriados para seu desenvolvimento e aprendizado enquanto os pais duramente trabalham, ou seja, em uma creche. No “ecocapitalismo”, formam-se os “eco-cidadãos” (nome pomposo para carrinheiros) uma massa de trabalhadores sem “eco”,vivendo uma “cidadania” pelas metades. A não prioridade do poder público em relação à situação destas crianças atesta este fato. Cidadania não é apertarbotão em dia de eleições, é perceber-se relevante no processo deconstrução histórica dos destinos da coletividade. Da sociedadecivil motorizada nas ruas, os filhos de carrinheiros recebem descaso,buzinadas impacientes; do Estado vão aprendendo mais uma antigalição: que são como os recicláveis, um “lixo que não é lixo”,não importam muito, são substituíveis. Das instituições religiosas, recebem… bem, esta você mesmo pode responder.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=2JJSH-qhKRc]
Reportagem do CQC sobre falta de creches em Curitiba
O que a criança, que continua nos olhando na fotografia, percebe do mundo a partir do que enxerga de dentro do carrinho de recicláveis? O que ela sente quando aspessoas ao passarem por ela desviam o olhar? Será que ela teme os carros que buzinam para seus pais saírem logo da frente da mesma forma como sente medo em casa sozinha? 
Mas podemos escolherchamar cocho de animais de “manjedoura”, colocar debaixo do tapete realidadesdesassossegadoras nos escondendo atrás de propagandas consumistas, nas filas do Mac edos shoppings. Podemos também olhar para outro lado, podemos chamar crianças de a“alma dos negócios”.
Se Cristo nos foiapresentado como uma frágil criança, que de forma muito parecidacom os filhos dos carrinheiros, nos olha a partir de um lugar em quea nossa já tão sofrida sensibilidade social mostra ser umlugar para o não estar, um lugar impróprio, um cocho de animais, deve ter algum motivopara isso, deve haver algum sentido no presépio natalino.

Lembremos que foi a partir do olhar de baixo, dos pequenosdesassistidos, que Cristo, quando na forma de pequena criança, em um lugar para não estar, nosviu pela primeira vez.

Mais que brinquedos emuito mais que um dia de idolatria consumista, lembremos do mundo damaioria. Que não nos acostumemos ao sofrimento dos pequenos, que esta realidade não seja escondida, como sempre é, nos anúncios consumistas de um dia que não é para todas as crianças.

E o que podemos fazer?

 Podemos começar orando – Mutirão Mundial de Oração Por Crianças e Adolescentes em Vulnerabilidade

 e continuarmos a ação, simplesmente agindo – Cartilha sobre monitoramento comunitário de políticas públicas da Visão Mundial

FELIZ DIA DASCRIANÇAS???

Crianças precisam serfelizes todos os dias…

O Salvador no cocho dos animais

Obs:

1 – Segundo o dicionário aurélio, manjedoura é uma palavra bonita para cocho de animais, onde se põe a comida dos bichos nas estrebarias.

2 – A diferença entre a falta de 50.000 vagas de 2008  em relação às 23.000 de 2011 é dada pela  metodologia na averiguação do problema pelo Ministério público e não pela construção de novas creches neste período.

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