Temos vivido um tempo de movimentos da fé evangélica no Brasil nesses últimos anos.No meio de toda essa torrente religiosa, temos presenciado muita coisa: a queda e ascensão de líderes, o advento de diversos novos movimentos alternativos e suas derivacões, e reagindo a isso, uma forte introspecção dos movimentos e igrejas tradicionais, principalmente as centenárias. Temos visto milhares de igrejas muito diferentes umas das outras, e seus universos hermenêuticos distintos, de sutilezas interpretativas que levam a distâncias colossais umas das outras na forma de pensar, de agir na sociedade, de ensinar e discipular seus jovens e de se projetar no meio onde vivem. E nas entrelinhas dos fatos bons e ruins de tudo isso, permanece o enclausuramento eclesiástico: Todas por Um, cada uma por si.
É verdade que existem motivos reais e suficientes para haver diferenças denominacionais e tradições doutrinárias distintas.Mas me parece que existe uma postura que se repete em qualquer denominacão, independente de doutrinas: todas desejam mostrar que amam a Deus, nos seus conceitos e práticas. E isso se expressa também no indivíduo. Estamos vivendo um tempo em que evangélicos nunca afirmaram tanto amar e adorar a Deus ao mesmo tempo que estão tão distantes e muitas vezes aversivos uns aos outros. Estamos numa época em que nunca se adorou tanto o Cristo como antes, ao mesmo tempo em que tão pouco tem se imitado sua vida aqui na terra. Tempos em que nunca houve antes tantos congressos de adoração, mas tão pouco conhecimento bíblico. Um grande jogo de vaidade está acontecendo: o jogo do “quem ama mais a Deus.” E nesse jogo, acontece uma divisão de “vencedores” e “perdedores”: os que tem razão e os que não tem, os sábios e os ignorantes, os santos e os hereges, os dignos e os indignos.
O perfil da grande maioria evangélica brasileira hoje tem se resumido a comportamentos bizarros como forma de devoção e amor a Deus, que nada tem a ver com a cosmovisão bíblica da real devoção a Cristo. Nem os tradicionais fogem à regra: não falar palavrão, cumprir a corte, ouvir somente músicas que não são “do mundo”, cumprir as programações da igreja regularmente, ler um devocional e tocar ou cantar no culto, se tornaram os critérios essenciais de quem ama a Deus. Porém, o dia em que isso for sequer evidências de amor a Deus, quem sabe a Bíblia deva ser reeditada. Pois esse tipo de comportamento ainda está longe de ser um relacionamento de autonomia e amor a Deus que a própria Bíblia prega. Arrisco dizer mais: nós não amamos a Deus, pois nós não sabemos amar a Deus. Como Pedro, de forma tola, afirmamos amar a Deus em nossas músicas e orações. Mas a verdade é que nem você e nem eu amamos a Deus como deveríamos amar. É muito mais certo que Ele nos ame do que nós amemos Ele.
Pra não entrar em detalhes no mínimo vergonhosos a respeito da realidade do nosso desamor a Deus, terminarei com uma pergunta: se as igrejas pouco sabem se unir pelas suas qualidades, saberia então ao menos se unir pelos seus defeitos? Pois esse joguinho de quem ama mais a Deus, seja lá de que forma for, provavelmente só faz o inferno inteiro rir.
“Você me ama? Conta outra…” João 21.15
Créditos da Ilustração: Paulica Santos – www.paulicasantos.wordpress.com