O amor e a justiça de Deus

A briga

Nos últimos dias, por causa de várias catástrofes naturais e não naturais também, o assunto da soberania de Deus veio à baila. Este post não tem a pretensão de ser a última palavra no assunto, mas apenas buscar na Bíblia algum exemplo onde podemos aprender mais sobre este assunto.


Parece que estamos diante de um ring, onde, de um lado, temos os “fundamentalistas” (palavra que ficou desgastada pejorativamente, pois na verdade, todos nós temos nossos fundamentos), e do outro lado os “novos liberais” (termo também desgastado, pois todos nós temos um lado liberal-flexível). De um lado estão os defensores do Deus eternamente irado, e do outro lado estão aqueles que estão praticamente oferecendo um lenço para Deus, de tanto que ele chora conosco.


Será que existe na Bíblia um fundamento que libere (entendeu o trocadilho???) alguma luz sobre a justiça e o amor de Deus? Ou será que Deus está preso numa dialética amor-justiça?

Sobrou para Oséias


Oséias era um profeta nascido no Reino do Norte, que profetiza para seu próprio povo. Oséias profetizou em uma sociedade vivendo um momento de prosperidade sem igual, porém, mergulhada no caos espiritual. Ele viveu durante a era de ouro do reinado de Jeroboão II. As bases para o renascimento político e econômico no reinado de Jeroboão II foram lançadas por seu pai, Jeoás. No relato de II Reis capítulo 13 no verso 25, lemos sobre suas campanhas militares bem sucedidas frente aos sírios, libertando Israel da vergonha e domínio estrangeiro.

A habilidade militar e estabilidade econômica de Jeroboão II originaram uma classe de ricos comerciantes em Israel. Logo se tornaram visíveis o esplendor arquitetônico, luxo e a fartura agrícola proporcionados pelos novos instrumentos que a evolução do ferro originou. Os tempos eram tão bons que os israelitas não queriam saber de advertências proféticas. Além disso, Israel abandonara a Javé, buscando a idolatria, agravando ainda mais a situação do povo da aliança perante seu Deus redentor.

O que o amor tem a ver com a justiça?

No livro de Oséias, a partir do capítulo 4 até o 14 vemos uma série de oráculos, onde o amor de Javé exige o julgamento de Israel em vista de sua infidelidade ao pacto historicamente estabelecido. Este julgamento seria executado antes da restauração nacional, conforme vemos no trecho de Oséias 11:1-11. Apesar do seu amor, o julgamento corretivo de Javé é iminente e inevitável, mas o propósito final de Israel é a sua restauração amorosa.
Israel era o povo da aliança, e, conforme prescrito em Deuteronômio 28:15-67, as maldições designadas para a quebra desta aliança começariam surtir efeito. Como povo da aliança, Israel rejeitara o Senhor violando os dois primeiros mandamentos, sobre os quais se fundamentava toda a aliança. Javé os recorda deste fato, fazendo menção sobre a redenção dada no Êxodo do Egito.
A punição de Javé ao pecado de Israel foi exercido mediante o exílio e a destruição, conforme lemos em Oséias 11:5-7. Mas, apesar de Israel rejeitar o amor de Javé ao longo de toda história, o amor fiel e persistente de Javé restauraria Israel após seu cativeiro, de acordo com o texto de Oséias 11:8-11. 

A ira de Javé não deve ser considerada isoladamente, mas deve ser entendida como a atitude de um Deus santo e justo diante do pecado. Assim, a ira de Deus, não é a última palavra no Antigo Testamento, mas esta é sempre modificada, ou condicionada por seu amor. 
Por isso Oséias não menciona apenas o juízo devastador de Javé, segundo sua justiça e santidade, mas, por causa de seu grande amor para com Israel, anuncia também a sua restauração, pois, sua compaixão e amor, de certa forma, superam a justiça retributiva executada por meio do exilio, conforme Oséias 11:8-11.
O que nós temos a ver com isso?
A disciplina que Deus executa é prova do seu cuidado e amor, tal como um pai disciplina seu filho visando o melhor para ele. Pois, qual o pai vendo seu filho sujo o joga fora ao invés de dar-lhe um banho? 
A justiça de Deus é manifesta, de tal forma, que seu amor, demonstrado para com seu povo, nos faz adorá-lo como o único Deus de amor.
Javé sempre demonstrou seu amor e restauração após o julgamento e punição do pecado. Oséias menciona como o amor e justiça de Javé fazem parte de seu caráter, e como se manifestam a seus filhos, com o propósito do cumprimento de sua palavra: “Eu serei o seu Deus, e vocês serão o meu povo“. 
Ufa, já chega!
Portanto, Deus não é um ser chorão que fica se lamentando conosco e por nós, nem um Deus executor que fica aperando os botões da tragédia para punir a todos em todo instante sem mais nem menos.
Oséias nos ensina, ainda hoje, que Deus não está preso na dialética que criamos de amor-justiça.

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