Não é como se ela não gostasse dele, ou que ela não tivesse uma atração por ele ou coisa parecida, mas ela nunca amou ele de verdade, nunca sentiu saudade dele, nunca sentiu prazer de estar do lado dele, nunca sentiu nada por ele.
Ela tentava se lembrar, ficava buscando no passado, mas parece que foi sempre assim.
Não é como se o sentimento tivesse deixado de existir, parece que ele nunca existiu e, se um dia ele existiu, ele sumiu no meio das inseguranças e necessidades dela. Talvez seja culpa da inércia, do acaso, ou seja o que for; ela está com ele, mas está completamente apática, ele não faz nenhum sentido pra ela.
Quando ela pensa sobre isso, ela se questiona se algum dia tentou gostar dele, se ela deixou que ele entrasse na vida dela e à conhecesse. Ela já tinha dado essa chance pra outros mas ela acabou voltando pra ele. Ela não entende porque, mas ela voltou justo praquele que ela nunca deu chance de entender ela, de conhecer ela, de entrar nela.
Mesmo assim, ela tem um medo enorme medo de deixar ele. Ela não sabe porque, não sabe se é medo da solidão, se é comodidade, mas parece que estar longe dele não é uma opção; parece que estar longe dele faz menos sentido que estar com ele. É como se ele fizesse parte dela, como se ele fosse um incomodo muito grande, mas um incomodo que ela não consegue viver sem.
Ela não pensa nisso o tempo todo. Na maior parte do tempo ela vive bem, sem se esquentar com nada, mas às vezes, quando ela tá sozinha no café da manhã, ou quando tá tomando banho e não tem ninguém em casa, aí nesse momento bate aquele aperto, e ela não tem pra onde correr, e parece quem, de alguma forma, ele faz um pouco de sentido.
a figura acima é um detalhe do quadro Serpentes Aquáticas do pintor austríaco Gustav Klimt