Adoção

Meu primeiro post não é bem meu. Ele foi escrito por minha esposa, Stheffany, e trata de um assunto há muito tempo esquecido, os orfãos. Minha esposa já trabalhou em abrigo para crianças, tem uma irmã adotada e já estudou direito. O texto é bem comprido, mas só porque é necessário…
Então tá, depois de um final de semana cheio de informações impactantes sobre o Lausanne e uma conversa longa com o marido sobre tudo o que andava caraminholando na minha cabeça nasceu esse texto.
Esse fim de semana eu tive um click, uma epifania ou como você queira chamar quando a gente percebe algo de que nunca havia se dado conta antes. Eu sei que o tema é polêmico, cheio de preconceitos mal concebidos e de uma incrível falta de interesse do meio cristão, mas é sobre isso que eu vou falar mesmo: adoção.
Não, eu não to fazendo propaganda de nenhum abrigo, não to pedindo doação pra ninguém, nem to fazendo campanha de adoção (tá, talvez um pouquinho). To só chamando atenção pra um aspecto que você (que tá lendo esse texto agora) talvez nunca tenha se dado conta também.
Eu, uns dois anos atrás, trabalhei num abrigo em Curitiba. Um dos maiores e mais bem estruturados da cidade, abrigo crente (como a maioria o são). Vi muita coisa lá, conheci muita gente, muita criança, muitas mães sociais (aquelas que moram dentro do abrigo com a família inteira pra dar às crianças a chance de conviver de alguma forma com uma estrutura familiar), soube de muitas histórias, a maioria de arrepiar. Do tempo lá trouxe comigo uma certeza que Deus vinha fazendo crescer em mim aos poucos, a de adotar uma criança também. Até aí tudo bem, certo? Do abrigo também veio a possibilidade de ganhar mais uma irmã, meus pais adotaram a minha irmã quando ela tinha 9 anos, ela tinha uma dessas histórias de arrepiar e fazer a gente querer matar alguém. Muitos preconceitos à parte estamos todos bem, já fazem dois anos e aos poucos ela tem parecido cada vez mais com a minha família.
Quando ela chegou algumas coisas me incomodavam um pouco nela e eu não sabia identificar bem o que era. Quando vinha outra criança brincar com ela na casa dos meus pais a diferença era tão visível! Não era só falta de uma educação apropriada, ou falta de modos propriamente dita, não era nem mesmo a falta de um colégio decente ou a simples falta de limites, ainda que tudo isso fizesse muita diferença (as vezes minha mãe ficava a ponto de arrancar os cabelos). Mas, não era isso, crianças com essas características a gente encontra todo dia, sendo filho biológico ou não. Depois de uns meses eu e meus pais compreendemos que era uma falta de estrutura interna mesmo. Algo que só uma convivência familiar traz.
A gente desvaloriza o conceito de família, pensa que não faz tanta diferença assim, mas quando a gente vê o que acontece com quem simplesmente não tem, daí a gente compreende um pouco porque Deus quis que vivêssemos em família. A falta dessa convivência causa marcas bem fundas. Bom, isso foi o que eu tinha entendido pelo menos, nesses últimos dias foi que percebi que o buraco é bem mais embaixo.

Meus pais continuam visitando o abrigo de onde a minha irmã saiu, as vezes pegam uma criança pra passar o final de semana com eles e brincar com minha irmã. A diferença entre elas se torna cada vez mais palpável, minha irmã é cada vez mais segura, cada vez mais “normal” (aff, eu odeio essa palavra, mas na falta de uma que explicasse o conceito melhor foi essa mesmo), enquanto as outras crianças são completamente desestruturadas. A gente ainda se surpreende quando vê outra criança do abrigo e pensa “nossa, ela era assim também quando chegou?!”. As mudanças são lentas, mas eu posso garantir que serão permanentes na cabecinha dela.
Nesse final de semana eu estava na minha antiga igreja (eu e o meu marido mudamos de cidade e no fim de semana fomos visitar alguns amigos em Curitiba e rever nossa agora ex-igreja). Estavam falando sobre o congresso de Lausanne, dois dos pastores foram e estava todo mundo querendo saber como tinha sido, o que havia sido dito e tudo o mais. O pastor (acho que não é bom colocar o nome dele, né) mostrou um vídeo de uma indiana, a Pravitha Thimoty, falando sobre a escravidão no mundo e na Índia. O vídeo é comovente e foi um dos pontos mais emocionantes do congresso (ouvi dizer). Em um determinado ponto do vídeo ela falou que o maior problema da escravidão é que os escravos não tem esperança, presos em um sistema cruel que os deixará lá até a morte, eles não tem a menor aspiração de nada, eles acham que não são nada, Pravitha disse que era preciso (além de retirá-los da condição de escravos, é óbvio) restaurar neles a condição de seres humanos, de seres amados e criados por Deus. Aí veio o click (que click? aquele que eu mencionei lá no início do texto, o motivo desse texto todo), essa falta de esperança, essa noção de que eles na verdade não são nada, de que são só um problema essa, ESSA, era a falta de estrutura da minha irmã. E de todas as crianças no abrigo, aquela que na verdade eu nunca tinha conseguido entender bem o que era!
Sabe, eu sempre ouvi (e tenho certeza de que você, crente, também sempre ouviu) que Deus nos amou, que somos filhos Dele, que somos importantes, que temos esperança com Ele, que Ele veio pra nos libertar. Sempre ouvimos tudo isso e sempre tomamos “posse dessas promessas”, não que elas não fossem e não sejam endereçadas a nós. Mas, a gente não sabe bem do que é que Deus tá falando nessas partes. (já adianto que se você tá se sentindo ofendido porque eu insinuei que a gente aqui no Brasil não sofre de verdade, saiba que eu não to insinuando não, eu to afirmando que você que tá lendo isso em um computador nesse momento NÃO padece dessa falta de estrutura e esperança, portanto se quiser ficar ofendido fique, abra aí a sessão de comentários e diga o que você quiser, eu não me importo)
De uns tempos pra cá a minha própria irmã tem reparado nas crianças do abrigo que vão brincar com ela e diz “eu era assim também?”. Crianças que não sabem que é preciso pagar contas (porque elas nunca viram os pais pagando nada, porque elas não tem pais), crianças que não sabem que tem que pagar pra comer a pipoca da praça (porque as “caridosas e bem intencionadas almas” levam o pipoqueiro dentro do abrigo pra fazer uma festinha e aplacar o peso na consciência de ver as crianças lá, e ainda acham que vão pro céu de foguete depois de tanta boa ação), crianças que nunca comeram milho na espiga, que não sabem o que é churros, que não tem a menor ideia de como o mundo funciona aqui fora. Crianças institucionalizadas.
Talvez agora falte um pouquinho de informação sobre como funciona o sistema de abrigamento no Brasil. Bom, vamos esclarecer algumas coisas. Nenhuma criança vai para o abrigo por que os pais morrem, não vai! Nessa situação a tutela é concedida pra algum parente e o órfão recebe pensão até a conclusão dos estudos, só vai parar no abrigo se não tiver absolutamente nenhum parente pra cuidar da criança e aí ela vai direto pra adoção. Criança vai para o abrigo através de denuncia no Conselho Tutelar (órgão municipal) por risco pessoal ou social (ou situação de fato), o que isso significa? Risco social é qualquer coisa que possa causar algum dano à criança, mas que não necessariamente é com ela, pais drogados ou traficantes entram nesse quesito. Já risco pessoal é bem mais fácil de entender, espancamentos, estupros e outros abusos entram aí.
Depois que a criança (ou adolescente) vai para o abrigo começa um processo de ajudar a família da criança a resolver a situação que a levou a perda temporária da guarda da criança. Só depois que essa tentativa de reconciliação familiar falha é que a criança é destituída e fica disponível pra adoção. Como você pode ver não é assim tão simples de resolver e demanda uma estrutura que, em geral, o judiciário não tem. Uma pessoa viciada em drogas, por exemplo, não fica “curada” em 2 meses. Por isso a destituição do poder familiar (é assim que chama o direito sobre nossos filhos) demora. É preciso ainda considerar a lentidão da justiça e falta de profissionais habilitados para trabalhar nessas questões. Alguns abrigos tem assistentes sociais próprias que ajudam a acelerar o processo enchendo o saco do juiz pra destituir logo ou resolver a ajuda da família em questão. O fato é que tudo isso é um buraco sem fundo, na teoria funciona que é uma beleza (como aliás todo nosso sistema judiciário, legislativo e executivo), mas na prática é tudo muito difícil de resolver.
Você pode perceber também que desse jeito poucos, bem poucos mesmo, bebês vão parar num abrigo. E quando vão eles obviamente não são destituídos tão rápido que ainda sejam bebês. Daí você vai dizer “ué, mas por que não destitui logo de uma vez assim que o conselho tutelar for pegar a criança? daí a destituição vai acontecer mais rápido” Bom, vamos por partes, primeiro essa não é uma atitude muito cristã, né? Condenar uma pessoa (em geral pobre) a perder os filhos porque ela não tá conseguindo dar pra eles o que a gente (sim a gente, classe média) acha que são condições básicas, quando a gente mesmo corrobora com a estrutura social a que a impede disso, ainda por cima sem nem dar uma chance pra ela resolver o problema é, no mínimo, muita crueldade! Ninguém passa fome porque quer, nem trata filho mal porque acordou achando que isso era legal. Tem muita coisa atras de cada uma dessas situações. E tem mesmo muita gente que consegue se livrar de tudo isso por medo de nunca mais ver o filho. Por acaso lhe parece cristão negar a um pai ou uma mãe o direito de mudar e tentar reaver o filho? E se fosse com você? Com a sua tia que um dia perdeu a cabeça e sentou a mão nos seus priminhos porque tava nervosa? Quando a situação é com pobre a gente acha é que eles tem que sofrer mesmo, mas se for com a gente são necessárias mil chances antes de tomar uma atitude drástica como essa.
Portanto, o sistema tá certo, na medida do possível, o problema somos nós. Tenha sempre em mente que adoção existe pra resolver o problema de um filho que não tem pais e não pra resolver o problema de pais que não tem filho. Enquanto a criança tem pais a prioridade é voltar pra eles e se isso falhar, só se isso falhar, é que ela deve ser colocada numa família substituta. O problema (e é aí que nós entramos) é que quando a criança vai pra adoção a gente não quer mais ela, por que ela não é um bebê. Só pra ter uma ideia, dois anos atrás (quando eu trabalhava no abrigo) não existia em Curitiba fila pra adoção de uma criança de 5 anos (o cadastro agora é nacional então essa estatística pode ter ser alterado, embora eu não acredite muito nisso). A grande fila da adoção, de que tantos casais reclamam, é para crianças de 0 a 3 anos, só. Sabe o que isso quer dizer? Que uma criança que não foi destituída antes dos 3 anos está condenada a passar o resto da vida no abrigo (muito provavelmente sem nunca ser adotada), tá parecendo mais com a condição dos escravos na Índia agora?
E sabe o que vai acontecer quando essa criança fizer 18 anos? Ela vai ser colocada pra fora do abrigo (em alguns lugares no dia do próprio aniversário) sem nenhuma assistência ou orientação pra onde ir. Por que ainda que o abrigo tente ajudar esse adolescente, o conselho tutelar manda outra criança por que nesse dia abriu uma “vaga” naquele abrigo, o dinheiro (que já é pouco) para o sustento desse adolescente é cortado e transferido para a nova criança que chegou ou está pra chegar. E sem dinheiro, como é que o abrigo vai zelar por aquele adolescente? Ou por todos os que crescerão no abrigo e um dia farão 18 anos?
E o que você acha que acontece quando ele sai? Lembre de que estamos falando daquela criança que não sabe que tem que pagar contas, que nunca comeu churros, que não sabe como o mundo funciona, aquela criança que com uma autoestima baixíssima não conseguiu nem chegar à 8ª série, aquela criança que cresceu e continua não tendo a menor esperança de nada. Onde ela vai viver? Quem vai dar emprego pra ela? Ela vai cair na marginalidade, vai perder pro Estado os filhos que vier a ter e a gente ainda vai falar mal, achar que foi bem feito, que foi um desperdício dos nossos impostos (porque classe média paga os impostos bem direitinho, né), que esse “tipo de gente” não merece nada mesmo, que é preguiça e vagabundagem. Aquela criança que a gente um dia se recusou a lembrar que existe vai assaltar a casa do meu e do seu filho, vai matar seu pai, vai estuprar sua irmã e a gente vai se sentir impotente perguntando pra Deus por que ele mandou essa “provação”, ou pior vai repreender o diabo por que tocou nos “santos do senhor”.
Pra terminar, eu queria contar a história de uma menina, a Amélia (é claro que é um nome fictício), ela tem 10 anos já, tem duas irmãs mais novas (com 6 e 4 anos), a mãe tá presa por tráfico de drogas (talvez até já tenha saído). Ela tá no abrigo desde os 7 anos. Quando havia quase esgotado o prazo da família pra reaver as meninas e elas estavam quase sendo colocadas pra adoção, a mãe entrou com um recurso. Vai demorar mais tempo, mas provavelmente a mãe da Amélia vai perder. A Amélia tá no mesmo abrigo que a minha irmã tava, inclusive sendo cuidada pela mesma mãe social. A minha irmã conseguiu ser adotada e ela não (até porque ela ainda não tá destituída), a Amélia foi pra casa dos meus pais brincar muitas vezes com a minha irmã.
Um dia ela começou a se perguntar porque nós escolhemos minha irmã e não ela. Claro que na adoção a gente não “escolhe” a criança, mas disso ela não sabe, ela só sabe que criança depois que sai do berçário do abrigo não é mais adotada, ela sabe que minha irmã conseguiu, porque ela não? A Amélia começou a se revoltar, está mais violenta, não obedece ninguém, chegou num ponto que a mãe social que cuidava dela pediu pra trocarem ela de casa porque ficou insustentável cuidar dela. Por causa do mau comportamento, meus pais não podem mais levar a Amélia pra casa deles passar natal e outras festas, nem por um final de semana. Isso fez com que Amélia se revoltasse ainda mais. Quando a mãe perder o recurso e ela e as irmãs forem colocadas pra adoção, Amélia estará numa posição quase impossível de adoção. Não fosse o suficiente ela não ser loira de olhos azuis, ela é grande já e está vinculada à duas irmãs (grupos de irmãos tem menos chance ainda de conseguir uma adoção). Talvez ela tivesse uma chance de adoção internacional (uma vez que estrangeiros costumam adotar grupos de irmãos) porque uma das irmãs dela é menor de 5 anos, isso puxaria a adoção dela e da irmã do meio. Mas, com uma ficha como a dela isso é quase impossível. Ninguém adota uma criança grande que tem parecer desfavorável a adoção.
Dá pra compreender a terrível posição em que Amélia se encontra no alto dos seus 10 anos? Ela já tem poucas chances e o sistema a pune por não saber lidar apropriadamente com o fato de saber que provavelmente nunca sairá do abrigo. É um círculo vicioso e ela está presa lá pra sempre! Não é demais pedir de uma criança tão pequena que não se revolte e sempre obedeça quando ela não tem esperança nenhuma de ter uma família? Quando ela vê o que acontece com as outras crianças que ficaram e vê tantas outras conseguindo a tão sonhada família? Eu, que sou cristã, sou adulta, não tenho esperança pra ela, imagina ela?!
Nesse final de semana, ao ver o vídeo da Pravitha, eu finalmente entendi o que quer dizer não ter esperança. Eu finalmente entendi porque isso é pior do que fome, eu entendi as consequências terríveis na vida de alguém.
Perto disso os preconceitos com adoção de criança grande (a adoção tardia) caem por terra. Por que as pessoas mudam e crianças e adolescentes mudam mais rápido e fácil ainda, elas não são velhos de 60 anos com uma visão já engessada do mundo, elas tem tudo pela frente. E não precisa de coragem não pra adotar uma criança grande, precisa de amor mesmo, aquele amor que Jesus disse que a gente tinha que ter pelo próximo. Não é cristão negar a oportunidade a elas. Porque quando a gente casa com alguém (e crente casa, supostamente, pra vida toda) a gente casa com alguém de criação diferente da nossa, com família diferente da nossa, com valores diferentes dos nossos e não é que depois de algum tempo a gente fica tão parecido? E olha que to falando de adultos, imagina como não funciona com crianças?! Não adianta me dizer que a gente se conhece bem antes de casar porque é mentira, todo mundo que já casou sabe bem que a gente conhece a pessoa mesmo depois que casa, que vive junto todo dia, ninguém conhece o outro mesmo só com cinema e beijinhos. A gente encara um casamento com um “desconhecido” por que não encara filho? A gente não ama o que não conhece, não dá pra amar sem tentar, sem querer.
Se a gente não consegue assumir um amor real por quem não tem nosso sangue, conseguimos mesmo nos ver como filhos de Deus? Se a gente decide que por causa do passado daquela criança ela não é mais digna do nosso amor, do nosso empenho em restaurá-la, que é difícil demais, será que então a gente consegue aceitar e receber o perdão de Deus?
Em tantas e tantas passagens Deus nos chama a atenção pro cuidado com o pobre, com os direitos da viúva, com o amparo do órfão. E o que a gente tem feito? A Amélia tá lá num abrigo presa na armadilha de um sistema que a gente sustenta, ela não tem a esperança que a gente tem, ela não sabe que é amada, ela não sabe. E se só existisse ela, Deus teria mandado Jesus do mesmo jeito. A Amélia tá lá esquecida num abrigo por que a Igreja, a Noiva de Cristo, fez questão de esquecer das coisas que Deus tanto falou pra gente prestar atenção. Ele veio pra libertar os cativos, veio pra trazer esperança, salvação, mudança de vida e em alguns casos Ele quis dizer isso literalmente. Eu não to dizendo pra você sair correndo cheio de culpa e remorso e tentar adotar todas as crianças do país e além. To dizendo pra você orar por elas, pra você considerar incluir no seu planejamento familiar uma adoção (ao invés de 2 filhos biológicos), pra você ir visitar um abrigo, ser voluntário, ser padrinho afetivo de uma criança que tá esperando o juiz resolver a situação dela, pra você pegar uma criança pra passar o natal com você e brincar com seus filhos. E claro, se você achar uma boa ideia, adotar uma, duas, três crianças maiores que 5 anos.
O que no fundo eu queria é que a igreja se compadecesse dessas crianças e não ficasse discutindo se homossexual deve ou não deve adotar criança, se pode ou não pode registrar no nome dos dois, se vai aceitar batizar ou não. Eles estão fazendo o que a gente não está! E se for pra a gente continuar a não fazer nada, eu prefiro que eles continuem adotando. Pelo menos alguém tá fazendo alguma coisa. Você pode não concordar comigo, mas uma família meio torta é melhor do que o buraco de família nenhuma.

por Stheffany Nering

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