Entrevista: Ariovaldo Ramos

O Primeiro contato q eu tive com a “teologia” da missão integral, foi num programa dos irmaos.com com a presença desse cidadão… Ariovaldo Ramos. O discurso, e as pregações dele são apaixonantes para os cristãos q buscam trazer o reino de D’us para a realidade conteporanea do pais e do mundo

Segue uma entrevista com ele publicada em maio de 2007, na revista Comunhão nº 117
Entrevista: Ariovaldo Ramos
Um homem culto, versado em todos os assuntos, filósofo, líder pastoral com uma visão ampla do ser humano, missionário da Sepal (Servindo a Pastores e Líderes), além de escritor de livros, artigos e presidente da ONG Visão Mundial. Ariovaldo Ramos é uma pessoa com a qual a conversa rende ricas e pertinentes reflexões cristãs. Um homem a quem a atuação por todo o país e em suas incursões missionárias pelo mundo rendeu respeito e reconhecimento.Comunhão conversa com Ariovaldo Ramos sobre missões e o panorama da fé no mundo atual.
Por que a grande dificuldade para fazer missões, inclusive dentro das nossas próprias cidades?
A missão tem que ser feita em todo o mundo ao mesmo tempo. Hoje a evangelização é basicamente urbana porque o mundo é 70% urbano. Portanto, toda evangelização cultural ou transcultural é uma evangelização urbana, e por isso, no Brasil, a igreja evangélica cresce nas cidades com tanta força. Ela teve muita dificuldade em crescer enquanto o Brasil foi rural, porque o mundo rural é muito conservador, diferente do mundo urbano, que faz o ser humano abandonar suas raízes, repensar o significado da existência.


No Brasil e na China a igreja evangélica cresce com uma força digna de nota. Já nos países europeus o caminho é inverso. Qual a sua opinião sobre isso?
Os antigos países protestantes estão tendo uma crise de fé. A igreja protestante é a igreja que fomentou o crescimento econômico, a secularização e o Estado do bem comum. Então, a fé protestante no Velho Mundo, nos EUA e Canadá, está pagando o preço de ter construído um mundo confortável e reduzido o céu a um lugar confortável. Houve, na minha opinião, uma “teologia do primeiro mundo”, uma busca por um estado social de conforto quase como um paradigma celestial, e eles perderam aquele senso de incômodo com o mundo, aquele senso de quem deseja a volta de Cristo, um novo céu e uma nova terra. Eles alcançaram um estado de conforto e isso acabou por arrefecer a sua esperança, a sua fé.
A igreja tem conseguido superar todo tipo de perseguição física, por mais violenta. A única perseguição que a igreja não tem conseguido vencer é a riqueza, porque isso a está corrompendo. Foi o que aconteceu na Europa, está acontecendo nos Estados Unidos e agora também no Brasil. Avidez pelo dinheiro, pelo conforto, pelo lucro, pelos bens materiais, é isso que tem destruído a igreja.
De que forma o pastor pode evitar que seu rebanho caia nessa armadilha da riqueza?
Bem, o pastor vai conduzir a sua comunidade de modo a não se abalar com esse tipo de escândalo dependendo do tipo de vida que ele tem. Se ele tem uma vida de ostentação, ele será comparado a qualquer escândalo que vier. Se ele tiver a vida que Cristo recomenda, a própria igreja vai diferenciar, o povo vai dizer: nossos líderes não são assim. Esse problema é geralmente da liderança. A liderança é que tem que se responsabilizar sobre o que prega e, principalmente, sobre o que vive. A gente percebe que há na igreja brasileira cada dia mais uma busca por conforto, por bens materiais, por ostentação. Isso vai corromper a igreja, porque não é possível amar ao mundo e a Deus ao mesmo tempo.
É errado querer ter bens materiais? Como cristãos, o que devemos ter em mente?
Não é pecado querer ter uma vida de dignidade, mas é preciso que a gente entenda que isso é diferente de possuir com ostentação. Você pode ter um bom carro, mas não um carro que custe um condomínio inteiro. Você pode e deve morar numa boa casa, sabendo que é importante que existam boas casas para todos. A luta é pela justiça e pela eqüidade. Tudo que nós, cristãos, recebemos, é para abençoar a coletividade, porque nossa oração é “Pai nosso”, e não “Meu Pai”.
Em que parte da Bíblia o senhor gosta de embasar suas pesquisas?
Basicamente, no Novo Testamento. É claro que como qualquer pastor utilizo e prego o Novo e o Velho testamento, porém minhas teses na área de eclesiologia, na área de liderança e missão integral, são basicamente a partir do Novo Testamento. Eu uso o Antigo Testamento mais em minhas teses sobre teologia urbana.
Por quê?
Por que o Antigo Testamento é mais urbano do que a gente imagina. Fala das primeiras cidades e as classifica como antagônicas a Deus, e semeia ali um princípio, que eu não sou o único que usa, de que as cidades nasceram numa posição, digamos, contra a vontade de Deus, na maioria dos casos.
Como, contra a vontade de Deus?
Bom, tem o caso de Caim, por exemplo. O Senhor o sentenciou a ser errante e ele construiu uma cidade. Deus o colocou sob a própria proteção, deixando nele uma marca que impediria que fizessem justiça com as próprias mãos, mas Caim preferiu construir uma cidade onde ele mesmo cuidaria da sua segurança. O Senhor o colocou numa posição contrária ao plantio, porque a terra seria inóspita para com ele. Caim estabeleceu um princípio urbano que se opõe e se impõe ao mundo rural.

Durante todo o Antigo Testamento os embates de Deus são com cidades. Mesmo a cidade eleita de Jerusalém, Deus em Jesus fez um lamento: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” (Mt 23.37)
Entretanto, o Novo Testamento termina com uma colocação muito interessante, em que a cidade que desce dos céus é uma cidade que abriga um jardim. Deus começou com um jardim e terminou numa cidade que tem um jardim como centro. A humanidade fugiu do jardim e termina numa cidade que vive em torno de um jardim. Parece que há uma espécie de encontro entre os homens de Deus no final da história, onde Ele vem com seu jardim e o homem e se submete ao jardim da sua cidade.
O que fazer para que as pessoas compreendam esse retorno para o Jardim; como efetivar esse retorno?
Bom, cada um de nós tem que começar a viver a vida à luz do exemplo de Jesus, à luz do símbolo do Jardim. Por que é um jardim, e não uma coleção de vasos? Porque a beleza de um jardim é sinérgica, é maior do que a simples soma dos componentes. É uma beleza solidária, porque é o mesmo espaço de terra e nutrientes para todo o mundo. Uma beleza sacrificial, porque os membros do jardim com maior frondosidade vão ser submetidos à poda para que todos tenham direito à água e ao sol. A beleza do jardim é unitária, porque se um membro do jardim murcha, o jardim todo murchou.
O que, então, falta para as igrejas brasileiras? Por que, ao mesmo tempo em que crescem, perdem tantos membros?
A primeira coisa que falta são mestres. A outra é pastor. Quero dizer, o cristão não é cuidado como deveria, não é ajudado a viver e a entender Jesus Cristo. E aí ocorrem enganos, como a teoria da prosperidade, porque também foram enganados. A teoria da prosperidade anuncia inverdades. Não adianta ficar determinando para Deus, porque Deus só faz a vontade d´Ele, porque o melhor que Deus pode fazer pela humanidade é fazer a vontade d´Ele. Ela dá equilíbrio, dá saúde e vida com abundância. As pessoas ficam decepcionadas porque foram iludidas com uma mensagem que não é a mensagem do Evangelho.
E a outra causa?
É o desvario dos líderes. Grande parte dos líderes evangélicos, não a maioria, graças a Deus, mas um bom número está sendo convencido de que é dono da igreja. O dono da igreja é Jesus Cristo. Ele comprou a igreja com sangue. Os cristãos não têm que olhar para nós como os líderes que eles têm que seguir; eles têm que ver que estamos seguindo a Jesus Cristo, e virem conosco segui-lo. Os ministérios deixaram de ter o nome de Cristo para ter os nomes dos ministros. Gente assim perdeu o senso do limite, da decência, e o senso do amor de Deus. Aí o povo vai percebendo que em vez de estar servindo a Cristo, está servindo a um desvairado que quer ficar rico, ser tratado como rei. E geralmente essa gente começa a pecar e o povo começa a ver. Mais cedo ou mais tarde, os que perceberam o pecado vão embora.
O senhor vê a igreja voltando para buscar as ovelhas que se afastaram?
Não. Alguns dos novos mentores da igreja chegam a dizer para não perder tempo com os que foram embora. Assim, se você está na minha igreja, mas não tem a minha visão, o melhor que você faz é ir embora. Porque eles transformaram a igreja na causa própria. É uma visão particular, eles têm uma metodologia, e querem impor essa metodologia, porque querem fazer a igreja crescer. Só celebram os que chegaram e usam os que ficaram. Isso é muito cruel e um profundo equívoco, porque o papel dos presbíteros é apascentar o povo, como o apóstolo Pedro nos ensinou. Eu imagino que se houvesse um Juízo especial para pastores e líderes, o que o Pai ia nos perguntar é: onde é que estão as pessoas que Eu dei para você cuidar? Ele não ia perguntar o quanto a igreja cresceu, quantos templos construímos, quantas obras fizemos. Deus morreu em Cristo Jesus e Cristo Jesus morreu por pessoas. Não morreu por visões, nem por sonhos, planos, metas, nem por instituições, fossem elas quais fossem.
Como é que o senhor acha que isso vai acabar?
Ou num avivamento, ou num juízo. Espero que seja num avivamento. Se for num avivamento, o Senhor vai nos levar se nos arrependermos. Nós vamos pedir perdão, a igreja vai zerar e a gente continua tudo de novo, porque houve um avivamento. Agora, se for num juízo, é melhor nem falar sobre isso.
Entrevista publicada em maio de 2007, na revista Comunhão nº 117

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