Chega um homem, um homem enorme, com no mínimo uns três metros. Tinha asas de anjo, mas as asas não tinham penas, eram peludas como de golden retriever. Esse homem parecia muito inquieto, sua voz era suave gostosa como o vento a beira mar. Ele olhou pra mim e com sua voz que ressoa por todo o lugar disse:
— Não adianta, — disse muito triste, com um pesar que entristeceu as árvores que estavam a nossa volta – estive com os deuses, eles inclusive me deram esse sinal, pois sabiam que você não acreditaria em mim ou na minha mensagem. Eles falaram que é tudo mentira, na verdade fomos feitos todos para nós mesmos, nosso fim está em nós mesmos. O próximo, o amor, a misericórdia, a caridade, é tudo uma grande mentira.
Com um pesar no movimento, com uma tristeza que seu corpo não podia negar, o homem abriu a mão e soltou um jogo de luzes fantástico, lobos, ursos, e elefantes apareceram ao nosso redor e começaram a dançar, mas não como humanos, como se tivessem essa capacidade; mulheres e homens eram atraídos pra perto de nós e ao passar caminhavam com uma paz e uma felicidade tão grande que não cabia neles, a mais bela música possível de ser ouvida por seres humanos tocou por alguns minutos, me senti envolvido com a maior alegria da minha vida, tudo podia acabar naquele momento, eu não precisava de mais nada.
O sinal se foi, apertei meus olhos, abaixei a cabeça e levitei pra ficar na altura dos olhos daquele homem. Falei a coisa mais séria de toda minha existência (depois daquilo, várias vezes me arrependi de ter dito o que disse, mas com aquela frase tive força pra lutar por tudo o que precisava ser mudado). Eu disse:
— Não me importo o que os deuses disseram ou criaram, mesmo que seja uma mentira, prefiro viver por essa mentira a ter que viver só por mim mesmo.
Depois disso, tudo voltou a ser o que era, as coisas estavam de volta em seu lugar, eu estava sentado na janela, olhando o movimento passar…