Supercrentes – o complexo de superioridade do mundo evangélico

O fato é que tem gente que se acha muito crente. E se vê superior nessa condição, tanto entre outros cristãos, como entre não cristãos. E sinceramente eu não entendo muito bem essa gente. Tenho observado três tipos de supercrentes que muitas vezes vem sofrendo esse complexo de superioridade de uma forma ou de outra. Analisando os três…

O super ungido
Clive Staples Lewis, escreveu um livro, entitulado “Cartas do diabo ao seu aprendiz”. Uma ficção que envolve um “Diabo” experiente, ensinando seu sobrinho a ser um “bom diabo”. Numa parte do livro, o diabão aconselha o seguinte: “Mantenha a mente da vítima presa à vida interior. Ele pensa que sua conversão seja algo dentro dele mesmo e portanto sua atenção se volta presentemente para os estágios da propria mente – ou melhor, para aquela versão expurgada dos referidos estágios que é tudo quanto você lhe deve conceder que contemple. Encoraje isto. Mantenha-lhe a mente abstraída relativamente aos deveres mais avançados e espirituais…”
Sempre questionei o termo “unção”. Interpreto como algo que vêm de fora, de Deus, sempre pra dentro do crente. Até aí tudo bem. Mas me parece restrito só a isso: receber, receber, e receber. Receber poder, inspiração, palavra, enfim. Me pergunto, o superungido sabe que vida cristã é dar também? Aliás, nunca ouvi uma música que fale de unção usando a palavra “dê” em vez de “receba”. A Biblia não fala que aquele que “perde” é aquele que verdadeiramente “ganha”? (Mt 10.39, Mc 8.35, Lc 9.24) Quem é o ser humano, esteja ele em que condição for, para achar que pode estar mais perto de Deus do que as outras pessoas, porque é “ungido” ? Jesus fala em Mateus 17:20: “Porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível.” Você é superungido? Então corra para o mundo e mova montanhas. Ficar na igreja o tempo inteiro cantando e falando sobre unção está longe de te fazer mudar alguma coisa nesse planeta.
(vide texto do Dan Queirolo a respeito de unção -> http://bit.ly/epgM7O)

O super conhecedor

O cara é doutor. Mestre. Leu algumas bibliotecas inteiras. Bacana. Mas há uma tendência em quem conhece demais. Normalmente essas pessoas ficam insensíveis à exortação e aversivas à correção também. Pior ainda: não sentem mais nenhum temor e preocupação em serem corrigidas. E aí nessa liberdade, a vaidade também toma conta, e na prática, acontece um comportamento tendenciosamente babeliano: a pessoa normalmente não consegue mais se relacionar bem com as pessoas por conhecer tanto, e se considera numa posição completamente desnivelada de altura entre si e as outras pessoas que sabem menos.São pessoas enfadonhas e normalmente sentem dor por não terem muitas pessoas por perto. Em Eclesiastes 1.18 está escrito seguinte: “Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.” E aí fica o meu questionamento. Porque que muito crente sabido, nessas condições, acaba se sentindo muitas vezes superior à muita gente.
O super trabalhador

O cara é lider de trocentos ministérios. Mas vive mau humorado, cansado, correndo e urrando que nem um cão. Se for conversar com o cara, capaz de levar uma mordida. Existe aí também um problema: o cara tende a pensar que as pessoas impactadas pelo seu trabalho, não precisam mais da sua voz e do seu contato pessoal. O pensamento desse tipo de crente é: “já estou fazendo todo o trabalho para as pessoas serem abençoadas por Deus. Me deixe na minha, e de preferência, arranje um escritorio só pra mim na secretaria da igreja.” É claro que líderes não precisam de gente aos seus pés atapalhando seu trabalho. Mas peraí, tem o outro lado, do relacionar-se com aqueles que estão ao seu lado, e isso não pode ser esquecido. E fazer isso de coração e não por cerimônia! Eis aí novamente uma tendência a um desnível entre aquele que trabalha com decisões complexas, e aquele que faz um trabalho de certa forma simples. Há um outro texto em Eclesiastes que diz: “Também eu odiei todo o meu trabalho, que realizei debaixo do sol, visto que eu havia de deixá-lo ao homem que viesse depois de mim.” Infelizmente, tenho visto esse tipo de crente, que anda se sentindo mais superior do que grato pelas pessoas que o cercam.

Concluindo…
Não existe supercrente. Nem por unção, nem por conhecimento, nem por dedicação. A Bíblia fala de cabo a rabo que todos nós somos iguais pelo espectro da realidade do pecado, somos destituidos da glória de Deus, independente de quem somos e do que façamos. (Sl 14.3 , Rm 3.10, Rm3.11) Você não é pior que eu e e nem ninguém aqui. Nem tampouco melhor.
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