“É gente morta a granel!” Essa era uma força de expressão muito usada por uma amiga querida, que acabara de ter um encontro com um caminhão a 180km/h. Submetida a uma realidade de turbulência familiar e falta de perspectivas na vida, saiu de uma festa alcoolizada e acabou perdendo a vida.
A morte tem subjugado muita gente. Caminhão na contramão, câncer, assassinato, hepatite C, queimadura, aids, atropelamento, dengue hemorrágica, overdose, desnutrição, cirurgia mal sucedida. Todas expressões de atentado a vida humana. Todo mundo tem medo de morrer. E com razão. Há mil e uma maneiras de voltar ao pó e só um jeito de permanecer de pé: sobrevivendo a todas elas.
Morrer é temporário, mas a morte sempre foi inconveniente. Tem um senso de humor terrível; um extremo mau gosto. Se veste bem, mas cheira mau. Não tem a mínima educação. Invade a festa sem ser convidada. Deixa para trás um rastro de lágrimas, levando nossos amigos, familiares e conhecidos, por vezes, muito antes da hora. Houve um tempo em que seu estômago era mais ocioso. Demorava mais para digerir as carcaças humanas; homens viviam por mais tempo. Hoje ela é ágil e voraz.
Mas é sabido por nós, que ela permanece debaixo de um jugo ainda mais feroz: a cruz de Cristo. Foi por Ele que Paulo pode olhar nos olhos da morte e dizer: agora, você pra mim é lucro. Se tivéssemos acesso a ficha anatômica da morte, provavelmente ela teria a estrutura de uma grande boca, dentada de vermes carnívoros. Talvez seja por isso que gosto sempre de lembrar do Calvário. Lá Deus desdentou a morte, comendo um por um, e riu da sua feiura banguela. A morte hoje, pode até morder. Mas já não mata mais.
[box type=”info” size=”medium”] Ilustra de Serena Cole. http://serenacole.org/ [/box]