Essa semana li um livro onde o autor afirma discordar de Jesus quando ele, na cruz, ora “Pai, perdoa-lhes pois não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Para esse autor (que não é cristão), Jesus errou porque as pessoas ali sabiam exatamente o que estavam fazendo. Sabiam que era mau, cruel, que gerava sofrimento e levaria a morte.

Isso me fez pensar bastante. Não se Jesus estava errado (eu ainda sou cristão), mas se alguma vez eu realmente entendi o que Jesus disse nesse momento.

Pra mim Jesus sempre disse “Pai, eles não sabem que estão matando o Filho de Deus”. Será que era isso? Será que Jesus realmente esqueceu que a mesma multidão que gritou CRUCIFICA dias antes tinha gritado HOSANA!?

Jesus não apenas inseriu Deus na humanidade, mas também inseriu humanidade em Deus. Por sua natureza Deus jamais poderia saber o que era dor, privação, fome, frio ou sofrimento. Deus, sendo trindade, comunidade, jamais poderia saber por experiência o que é a solidão. Na cruz Jesus chega ao ápice da sua experiência humana, o cúmulo da dor, quando se vê sozinho. Não foi essa sua oração mais angustiante? “Pai, por que me abandonaste?” (Marcos 15:34).

Talvez quando Jesus concluí que nós não sabemos o que estamos fazendo não esteja se referindo àquele momento específico, mas a própria experiência humana. Talvez tenha concluído que o castigo de Adão é pesado demais. Estar separado de Deus muda tudo. Longe da Luz tudo é treva, longe da Fonte tudo é seco, separado da Vida tudo é morte.

E não importa o quão sábio, justo, religioso, zeloso e virtuoso cada ser humano se ache, Jesus entendeu que, separados de Deus, a gente não sabe o que está fazendo.

Texto por Hernani Medola.