O grande objetivo comum a todos nós é sermos felizes, e em uma sociedade de consumo é natural que nossa felicidade esteja associada ao excesso. Mas o Eclesiastes afirma que a felicidade não está aí. Muito dinheiro? Muito sexo? Muitas bebidas e drogas? Pois ninguém teve mais dinheiro, sexo e drogas do que o autor do livro — e ele afirma, com certa dose de frustração, que a felicidade não está nessas coisas. E não faz essa advertência como um moralista rigoroso, mas como como um devasso decepcionado.
Se nosso parâmetro de sucesso é a posse, e estamos em uma era de superexposição, vivemos frustrados porque a todo momento vemos recortes de vidas felizes e pensamos que aparentemente só nós nunca fomos à Disney, não tiramos foto na torre Eiffel, não andamos de barco ou comemos em um restaurante excessivamente escuro e decorado. E nos surpreendemos quando aquele casal perfeito da internet se separa, aquele artista que admiramos se interna por abuso de drogas, ou alguém aparentemente muito feliz e bem-sucedido tira a própria vida. Vivemos frustrados por estarmos na base de uma pirâmide cujo topo ostenta uma placa: A FELICIDADE NÃO ESTÁ AQUI.
O Eclesiastes diz que “Para o homem não existe nada melhor do que comer, beber e encontrar prazer em seu trabalho. E vi que isso também vem da mão de Deus”. Repare: ele não diz que a felicidade está em comer comidas caras, beber vinhos finos e trabalhar na Faria Lima. Ele afirma que a felicidade está ao alcance de todos que possuem o suficiente e se satisfazem nisso. Trabalhar demais, acumular o bastante para comer 20 pratos por dia, isso é loucura, é inútil, é correr atrás do vento.
A ironia que conclui o segundo capítulo de Eclesiastes é que Deus abençoa a quem O agrada abençoar. Com posses? Não! Com sabedoria, conhecimento e felicidade. Porque ter muito não é o mesmo que ter o suficiente. Já ao tolo ganancioso e ambicioso, Deus até permite que armazene riquezas — e isso não é sinal de bênção. Ele acumulará, sofrerá e terá o mesmo fim de todos, deixando sua fortuna a um alguém que Deus quiser; e esse alguém pode ser sábio ou tolo, dependendo de onde depositar sua satisfação: em Deus ou no poder.
Texto por Hernani Medola.

