O envelhecimento é um assunto que tem me atraído, e é evidente que um dos motivos é o fato de eu estar envelhecendo. Obviamente, todos nós estamos envelhecendo a partir do momento em que nascemos, mas há um ponto na vida em que, num choque, você se dá conta de que a caminhada da vida é uma linha reta rumo ao fim (desta vida, é claro).
Perceber e admitir essa verdade inexorável é um caminho agridoce: triste por um lado, feliz por outros. E a maturidade trilhar esse caminho em paz é uma chave de felicidade.
Maio é o mês do meu aniversário, e estabeleci uma tradição: em todo mês de maio, todos os anos, lerei Eclesiastes. O livro, escrito por Salomão (conforme a tradição), apresenta um homem que percorreu esse caminho de envelhecer, de olhar para a vida e para o mundo e perceber que aquilo que esperava estava equivocado; que o alvo que mirava era o errado; e que a verdade é mais simples, evidente e acessível do que supõem nossos desejos pueris.
Desejos esses que, muitas vezes, não são superados quando deixamos a adolescência e a juventude. Parte da nossa queda, da nossa dor, reside na falta de sabedoria para entender e abraçar a vida em seus ciclos, tal como ela é. Sofremos pela frustração de não conseguirmos ser quem queríamos e nem quem deveríamos ser.
E a primeira frustração apresentada pelo sábio é a de que não importa do quando se saiba, não se saberá tudo, com o ônus do sofrimento que esse conhecimento pode trazer. Uma leitura apressada e simplista pode nos levar a interpretar essa conclusão como um chamado à ignorância, mas na realidade é apenas um alerta de que a felicidade sustentada pelo sentimento de autossuficiência garantida pela sua própria capacidade não vai chegar, pelo contrário, trará desespero.
Então não adianta correr atrás de um segredo, de um mindset, de uma formula, de um conhecimento mágico que abrirá as portas do sucesso e da felicidade. As portas quem contém essas placas dão entrada para abismos, seja de autoengano, seja de frustração.
O homem mais sábio da história pediu a Deus sabedoria e, tendo-a recebido, talvez tenha percebido que sua motivação estava errada.
Texto por Hernani Medola.

