“A sanguessuga tem duas filhas, e as duas se chamam: Me dá! Me dá!” (Provérbios 30:15)
O estado de constante insatisfação faz parte da nossa natureza caída. Se não nos policiarmos, vivemos insatisfeitos por não ter; insatisfeitos por não ter o suficiente; insatisfeitos por não ter mais que os outros; até, finalmente, vivermos insatisfeitos por ter demais.
Foi C. S. Lewis quem escreveu: “Se Deus tivesse concedido todas as orações tolas que eu fiz na minha vida, onde eu estaria agora?”. Porque nós nem ao menos sabemos o que pedimos; seguimos nosso coração, que inúmeras vezes se mostra um péssimo guia, e acabamos frustrados; seja porque recebemos o que pedimos, seja por termos sido livrados de recebê-lo.
Certa vez, ouvi uma pessoa preocupada com sua carreira porque estava há tempo demais no mesmo emprego, e o “mercado” não gosta de pessoas “acomodadas”. Mesmo feliz e satisfeita em seu trabalho, essa pessoa sentia que precisava mudar para atender à sanha do mercado por insatisfação. “Buscar novos desafios” virou virtude no mundo caído, quando a meta deveria ser “buscar a satisfação”.
O povo escravizado no Egito vivia insatisfeito por não ser livre; depois, insatisfeito por não ter pão; depois, insatisfeito por não ter carne… e, não importava o quanto recebesse, continuava a reclamar. A insatisfação nos cega para enxergar a dimensão da graça recebida.
Deus ordena o descanso no sétimo dia porque Ele sabe que, pela nossa natureza desgraçada, jamais descansaríamos. Jamais desfrutaríamos do resultado do trabalho. E aqui o mandamento é para todos: os que têm muito e os que têm pouco (aliás, em uma sociedade cristã, espera-se que os que têm muito lutem e viabilizem o descanso aos que têm pouco). Precisamos aprender a descansar e a nos satisfazer. E nos disciplinar para isso, porque esse comportamento não nos é natural.
Não houve homem mais rico e privilegiado do que Adão, mas ele não estava satisfeito, quis ser igual a Deus. Não havia ninguém mais rico do que Jesus, que não julgou importante ser igual a Deus e se tornou servo. O desafio da nossa existência segue sendo ser cada vez menos parecidos com Adão e cada vez mais parecidos com Jesus.
Texto por Hernani Medola.

