Paulo diz que Jesus não se importou em ser Deus, abrindo mão de ser como Deus para ser humano; sendo humano, abriu mão de ser importante para ser servo; sendo servo não se importou em morrer a morte mais dolorosa e humilhante. Jesus não tinha dinheiro, não tinha poupança, não tinha uma casa para comer com seus amigos, nem um burrinho para que pudesse montar, Jesus nem ao menos tinha travesseiro. Em resumo, Jesus não tinha nada que lhe pudesse ser tirado, a não ser a vida, e quando lhe tomaram essa, ela foi restituída.
Jesus é o exemplo de vida que não pode ser abalada pela perda, porque quando nada temos, quase nada nos pode ser tirado. Alguém que aceita a boa nova do evangelho entende que tudo o que tem é a dadiva da vida e a vive em gratidão. Todo o mais serve pra ser desfrutado, mas nunca desejado a ponto de nos tirar o foco que o que vem por graça deve ser compartilhado.
Viver em desapego nos traz paz. Abrir mão da posse, do poder, esvazia o significado das altas posições, dos altos cargos, das casas grandes, dos carros caros, das contas gordas, das roupas assinadas e comidas refinadas. Preenche de alegria a vida, e o pouco compartilhado em paz se torna mais valioso que o muito acumulado em bancos.
De forma alguma a vida cristã é um nirvana livre de sofrimentos. Pelo contrário. Porque o Deus que se esvazia de si, caminha de encontro a dor. A proposta do evangelho é esse movimento para fora de si, em direção a dor do outro. Os santos cristãos nunca estão de olhos fechados, olhando pra si, mas de olhos abertos atentos ao sofrimento no mundo. Jesus chorou pela morte de Lázaro, lamentou por Jerusalém, se revoltou com a exploração dos pobres, a opressão imposta pelos religiosos e o lucro dos vendilhões do templo.
Ele chorou também por si, por medo, porque temos que lembrar, ele era humano, e não somos tolos sádicos que gostam de sofrer. A questão é compreender quais sãos os sofrimentos justos. Abrir mão de si, abraçar a paz da frugalidade, alivia o fardo imposto pelo pecado. Os sofrimentos impostos pelo desejo de poder nos matam, os sofrimentos impostos a quem abre mão de seu ser geram vida. Assim, cada dor que nos aflige pode nos indicar para que lado dessa gangorra estamos pendendo.
Se o querer ser como o Deus Pai todo poderoso nos colocou pra fora do paraíso, querer ser como o Deus Filho todo generoso nos coloca no caminho de volta.
Texto por Hernani Medola.

