Meu nome é Giancarlo Marx, e hoje eu vou falar novamente sobre o tema: Deus é Justo!
No episódio passado eu trouxe aqui uma reflexão sobre a Justiça Distributiva de Deus. Esse tipo de justiça não leva em conta o nosso mérito mas, diferente da Justiça Retributiva (que é a mais usual), oferece a todos uma oportunidade semelhante. O favor de Deus nos é dado deste modo. Uma absoluta quitação de dívida sem condições nem letras miúdas. Apenas a liberdade em Cristo independente do quão distantes estamos do modelo ideal ou do quanto nos esforçamos para corrigir isso.
Hoje me propus a falar um pouco sobre um terceiro tipo de justiça divina conhecido como Justiça Reparadora. Para isso vou ler aqui um trecho do evangelho de Lucas, que narra o encontro de Jesus com um homem muito rico.
Certa vez, um homem de alta posição perguntou a Jesus: “Bom mestre, o que devo fazer para herdar a vida eterna?”.
“Por que você me chama de bom?”, perguntou Jesus. “Apenas Deus é verdadeiramente bom. Você conhece os mandamentos: ‘Não cometa adultério. Não mate. Não roube. Não dê falso testemunho. Honre seu pai e sua mãe’.”
O homem respondeu: “Tenho obedecido a todos esses mandamentos desde a juventude”.
Quando Jesus ouviu sua resposta, disse: “Ainda há uma coisa que você não fez. Venda todos os seus bens e dê o dinheiro aos pobres. Então você terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me”.
Ao ouvir essas palavras, o homem se entristeceu, pois era muito rico.
Ao ver a tristeza daquele homem, Jesus disse: “Como é difícil os ricos entrarem no reino de Deus! Na verdade, é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino de Deus”.
Aqueles que o ouviram disseram: “Então quem pode ser salvo?”.
Jesus respondeu: “O que é impossível para as pessoas é possível para Deus”.
Lucas 18:18-27
Temos que reconhecer que o pedido de Jesus soa um tanto injusto. Para seguir a Cristo aquele homem precisava primeiro abrir mão de suas riquezas e distribuí-las entre os desfavorecidos. Que tipo de justiça Jesus está propondo aqui? Quais são seus pressupostos? E por que os pobres?
Logo mais voltamos nesse ponto. Primeiro eu quero falar um pouco sobre o elefante na sala. Ou melhor, o camelo.
Já ouvi muitos pregadores buscando meios de amenizar a fala de Jesus sobre o camelo e o buraco da agulha, o rico e o Reino dos Céus, presente nessa passagem. Alguns dizem que o buraco da agulha era uma fenda apertada na muralha de Jerusalém, por onde era possível com muito custo passar até um camelo pequeno. Outros dizem que era o vão através do qual os arqueiros atiravam suas flechas em caso de tentativa de invasão.
Isso tudo me parece uma tentativa vã de contrariar a conclusão que o próprio Jesus tira, ao explicar a comparação aos seus discípulos: É impossível para as pessoas.
Voltando ao desafio que Jesus fez ao jovem rico, precisamos entender definitivamente um princípio bíblico presente tanto no Antigo quanto no Novo Testamento: acúmulo é pecado.
Quando Jesus diz ao homem que ele deveria distribuir seus bens aos pobres, ele estava demonstrando que, ao contrário do que o rapaz pensava, ele não observava TODOS os mandamentos. Afinal ele era rico, enquanto milhares de outros eram pobres. E isso sim, é injusto. Especialmente do ponto de vista da Justiça Distributiva, que conhecemos no episódio passado.
De acordo com dados do IBGE divulgados em novembro deste ano de 2021, o 1% mais rico da população brasileira ainda tem uma renda 35 vezes maior do que a soma de todas as rendas da metade mais pobre da população. Isso é uma ofensa, não só à metade mais pobre, mas também à própria santidade de Deus.
E qual a proposta para corrigirmos este desequilíbrio? É aí que entra a Justiça Reparadora.
Não é justo que alguns tenham historicamente mais oportunidade que outros. E para que as injustiças históricas sejam reparadas, é necessário que os privilegiados abram mão de seus privilégios, e concedam como reparação àqueles que foram historicamente prejudicados. É sobre isso que Jesus falou ao jovem rico.
Este é o mesmo princípio que orienta, por exemplo, projetos de renda mínima, cotas raciais e sociais, projetos habitacionais, reforma agrária, e tantos outros que consistem naquilo que chamamos de “políticas afirmativas”. A parcela da população que tem acesso a privilégios abre mão de parte desses privilégios a fim de reparar uma injustiça com aqueles que sempre estiveram à margem desses mesmos privilégios.
Você pode argumentar que há muitos aproveitadores, se valendo de políticas afirmativas para terem acesso a privilégios que não lhes cabem. Pessoas brancas que se declaram pretas ou pardas; pessoas ricas que forjam documentos para se enquadrarem em programas assistenciais, e que isso é injusto.
Infelizmente tenho que concordar. Essas injustiças de fato ocorrem no nosso país. Porém, será que isso nos dá o direito de retermos nossos privilégios? Já pensou se o jovem rico respondesse a Jesus: “Ei, mas se eu fizer isso de dar meus bens aos pobres, uma parte desses pobres aqui vai gastar minhas riquezas em jogos e bebedeiras. Isso é injusto!” Será que Jesus responderia: “Ah, então tudo bem. Fique com suas riquezas que tá tudo certo!”. Eu acho que não.
Uma injustiça não justifica a outra. Ou como eu sempre escutei, dois erros não fazem um acerto.
Não se deixem enganar: ninguém pode zombar de Deus. A pessoa sempre colherá aquilo que semear. Quem vive apenas para satisfazer sua natureza humana colherá dessa natureza ruína e morte. Mas quem vive para agradar o Espírito colherá do Espírito a vida eterna. – Gálatas 6:7,8
A ordem de Deus é para que pratiquemos a Justiça Reparadora, a fim de compensar a injustiça que de certo modo nos privilegiou. Isso pode até significar um incômodo temporário, mas certamente valerá um tesouro no céu, onde não entram camelos.
Um forte abraço e até o próximo Ampulheta.
PARTICIPANTES:
– Giancarlo Marx
COISAS ÚTEIS:
– Duração: 08m28s
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– Todos os “Ampulheta”
CITADOS NO PROGRAMA:
– Podcast “Deus é Justo | Ampulheta 50”
– Lucas 18:18-27
– Matéria: “Matéria: Parcela de 1% com maior renda no Brasil recebe quase 35 vezes mais que a metade dos mais pobres, diz IBGE”
– Gálatas 6:7 e 8
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