Aquietar meu coração e mente sempre foram meus maiores desafios, tanto em minha jornada cristã como antes disso. Desde criança, nunca soube muito bem o que é ter a mente quieta, calma. O único período em que lembro de ter vivido silêncio dentro de mim foi quando não havia mais nada aqui dentro, nada para sentir ou pensar.
Nos últimos meses, tenho pensado com frequência no período em que tive depressão. Pouca gente do meu círculo íntimo sabe disso, então colocar aqui neste texto, com todas as letras, é algo muito corajoso. Mas também dolorido. Porém, os últimos meses foram difíceis para mim (e por consequência, para o Jonatha), e tive medo de flertar com aquela escuridão de novo. Em função de muitos problemas que apareceram, me vi envolta em medos e angústias que me envolveram cada dia mais.
A sensação de não controlar sua mente é assustadora. Só quem vive uma ansiedade crônica (ou outra doença deste tipo) conhece a sensação de se afogar dentro de si mesmo. Quando tive depressão, me afoguei em meu passado e minhas dores. Desta vez, afoguei em minha ansiedade e em meu futuro – e consequentemente, em todos os problemas que poderia ter, suas consequências, suas soluções. Depois de passar mais de um mês angustiada, envergonhada e me sentindo derrotada, exausta, resolvi procurar ajuda profissional.
A vida de um cristão tem altos e baixos, assim como dos que não professam nossa fé. O Sol nasce para justos e injustos, assim como sofrimentos, tristezas, problemas. Graças à misericórdia de Deus, meus bons dias têm sido mais frequentes do que os maus dias por toda minha vida, mesmo que nos momentos maus, seja difícil reconhecer os bons. Apesar disso, me vi numa situação em que não consegui sair sozinha, nem com a ajuda do Jonatha. Por mais que eu tentasse entender e acreditar nas coisas que ele me falava, emocionalmente eu não conseguia absorvê-las, mesmo que racionalmente elas fizessem sentido.
E o que me fez pensar nisso tudo e resolver escrever sobre isso aqui? O versículo do dia colocado acima.
Durante todo o tempo em que estive realmente mal nesses últimos meses, me vi hora prostrada em oração, implorando pela misericórdia de Deus, hora desesperada, buscando respostas que não sei se um dia terei. “Por que preciso passar por isso? O que fiz de errado? Onde minha fé falhou?” Todos esses pensamentos me consumiam dia e noite, e saber que além de tudo eu fazia o Jonatha sofrer com meu sentimento me sufocava. E então percebi que sozinha eu afundaria.
Antes mesmo de aceitar e resolver buscar ajuda profissional, eu resolvi soltar as rédeas que eu achava que tinha de minha vida, e entregar a Deus. Apesar de amar Deus de todo coração, minha ansiedade me fazia temer entregar tudo nas mãos Dele, porque ter o controle sobre minha vida (ideia que é tão falsa, mas a qual a gente se apega tanto) sempre foi importante pra mim, mas esse apego não estava me ajudando em nada. Mesmo assim, continuo vacilando com frequência neste aspecto, apesar de meus esforços. Mas, como diz minha psicóloga, um dia de cada vez.
E como Ele mesmo nos promete, Ele está aqui para cuidar de nós. As coisas às vezes serão difíceis, doerão, não farão sentido e só nos farão sofrer. E está tudo bem – ou pelo menos, ficará. Nós não precisamos ter todas as respostas, e saber e aceitar isso é libertador. Aquele que governa todo o universo também para tudo e ouve nossa oração. Que você tenha coragem e persista em sua fé, pois mesmo na adversidade Deus está contigo. Que você tenha coragem em buscar ajuda quando necessário, e possa olhar para si mesmo sem se sentir fraco, covarde ou envergonhado. E que eu possa aceitar para mim, todos os dias, essas palavras tão sinceras que deixo aqui para você.
Que Deus nos abençoe.
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Este parágrafo escrevo hoje, 16/08/19, quatro meses após ter escrito e não publicado este texto. Comecei hoje a leitura do livro Um novo dia, de Emma Scrivener e me vi confrontada novamente pelas minhas dores e medos. Estava refletindo sobre minha ansiedade e sobre como sinto que passei pelo pior da tempestade que enfrentei desde Janeiro deste ano, mas percebi também que não venci a ansiedade crônica. Ela está aqui, e em momentos que não me cuido o suficiente, ou que passo por estresse, ela dá o ar por aqui, me desestruturando.
E a imagem que me veio à cabeça foi a Ungoliant, aranha do O Silmarillion, que come a si mesma, tamanha é sua fome. E parece ser assim com minha ansiedade. Ao cair nas teias dela, ela me enreda ainda mais, fazendo eu temer mais coisas, que me fazem pensar em mais alternativas e assim, ter mais medo.
Não pretendo te desanimar com este final pesado do texto, mas apesar te lembrar que as coisas melhoram sim, também é normal ter recaídas e precisar se fechar um pouquinho, se aquietar e respeitar um ritmo saudável para sua vida.
Cuide de si mesmo e daqueles ao seu redor e não esqueça que Deus cuida de todos. Aquiete tudo para ouvir Ele falando contigo.