Na trilha da maternidade #1

Não sei ao certo se publicarei este texto, mas precisava escrever um pouco para desanuviar meu coração e pensamentos. Talvez você saiba, provavelmente não saiba, mas eu e o Jonatha estamos tentando engravidar há alguns meses. Para muitos casais, esse período que devia ser de alegria e aproveitamento pode se tornar um período de angústia e incerteza. Não acho que já estamos no extremo ruim do espectro, mas já há um pouco disso pelo menos em mim.

Desde criança, sempre sonhei em ter filhos. É uma coisa que eu sempre soube que buscaria em minha vida adulta, e quando começamos a namorar, deixei claro a um Jonatha relutante que esse era meu sonho. Ele não falava que não queria ter filhos, mas tinha medo de crianças e, acredito eu, nunca tinha pensado nessa possibilidade antes de se ver confrontado pelos meus sonhos. Mas no nosso caminhar cotidiano, isso passou a ser um sonho cada dia mais forte em nossa vida, e por isso chegamos aqui.

Nesses 6 anos de casados, já cogitamos muito ter filhos, mas as condições não haviam se mostrado favoráveis em nenhum momento. Instabilidade financeira, muitas atividades e responsabilidades no trabalho, na minha vida acadêmica, entre outras tantas questões que nos tornam inseguros nos fizeram adiar este sonho até começo do ano passado, quando decidimos que era hora de pensar sério sobre o assunto.

Como bons ansiosos planejadores, fiz acompanhamento ginecológico antes mesmo de considerar parar com a pílula anticoncepcional. Exames de rotina feitos, vitaminas inclusas na dieta, tudo para estabilizar um pouco das variáveis que uma gravidez implica, e portanto, aliviar um pouco da ansiedade que sabia que sentiria. Meses depois, dei adeus à pílula e me vi redescobrindo o funcionamento de meu corpo, ciclo, alterações de humor, etc. Coisas com as quais não lidava há anos.

O problema é que tentar engravidar envolve outros altos e baixos. Envolve a frustração de menstruar a cada mês em que isso acontece. Todo mês me imagino grávida, penso em como estarei em tal e tal mês “se engravidar agora”, se até o Natal teremos um bebê, etc. Todo mês até aqui foi essa subida maravilhosa, seguida de uma queda doída e meio avassaladora em forma de apenas um risquinho no palito de plástico.

E se você chegou até aqui, pode estar se perguntando de porquê um texto tão pessoal foi publicado num blog compartilhado como a Crentassos. É simples: primeiro, porque tudo o que faço envolve quem eu sou e qual momento de minha vida estou vivendo. Em segundo lugar, porque acredito que muitos casais enfrentem isso mensalmente, muitas e muitas vezes sozinhos em suas dores e incertezas. E isso nos deixa mais sozinhos, isolados dos amigos que achamos não estarem nessa fase, da família que espera todo mês uma resposta positiva, e mesmo quando não pressiona, acaba pressionando. Eu e o Jonatha falávamos que não compartilharíamos que estávamos tentando engravidar, mas não conseguimos guardar essa notícia para nós. Queríamos dividir a alegria, a ansiedade, receber as orações das famílias e amigos, mas isso traz uma carga de responsabilidade e ansiedade inevitáveis.

Por isso tudo, resolvi escrever e escrever aqui. Porque acredito que muitos casais estejam passando pelo mesmo e se sentindo sozinhos, talvez desesperançados. E este não é um tema tratado de maneira aberta nas igrejas. Sofremos sozinhos, esperando o milagre de Deus, mas sem confiar nas orações dos irmãos. E eu quero andar de mãos dadas com você que passa por isso agora (ou daqui anos, afinal, não sei quando lerá meu texto). Quero dividir meus medos, e mostrar que temer ou sentir ansiedade não é falta de fé. Que confiamos em Deus, mas a humanidade caída em nós às vezes grita, desejando que as coisas sejam como queremos, não conforme a vontade de Deus. Eu e o Jonatha sempre oramos a Deus para que Ele nos mande nosso bebê de acordo com a vontade dEle, e entendemos que para tudo há um propósito, mas tem dias que quero gritar para Deus me ouvir e me atender agora, porque eu sinto que já é hora de ter um filho. Esqueço que até aqui Deus cuidou sempre de nós, esqueço de tudo. Só sinto nossa dor de ter os braços vazios. Mas isso passa. E me vejo novamente nos braços do Senhor, confiando e esperando pelo nosso pequeno milagre.

E assim eu compartilharei minhas experiências e pensamentos aqui. Não sei quando volto, mas a gente continua essa conversa outro dia.

“Os filhos são um presente do Senhor,
uma recompensa que ele dá.”

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