Justo e Pecador | Ampulheta 27

Meu nome é Giancarlo Marx e hoje eu vou falar sobre o tema Justo e Pecador.

Um dos discípulos de Jesus, possivelmente irmão do próprio mestre e autor da epístola que recebe seu nome, ficou conhecido como “Tiago, o Justo”. Há quem diga que a origem desse título se deve ao forte apelo à justiça social presente em sua carta. Apesar da defesa consistente, este atributo sempre me intrigou. “O Justo”.

Num dado momento, ao comentar sobre a importância e vigência da lei mosaica, Jesus trouxe uma palavra bastante dura com relação à retidão de comportamento que seus discípulos deveriam apresentar. Ele diz lá em Mateus 5:20:

“Eu os advirto: a menos que a justiça de vocês supere muito a justiça dos mestres da lei e dos fariseus, vocês jamais entrarão no reino dos céus”.

Por conta de uma visão estereotipada das categorias bíblicas corremos o risco de nos equivocar quanto à capacidade dos doutores da lei e fariseus em observar os mandamentos de Deus. Eles eram sim os melhores nisso. A ponto de se envaidecerem de sua humildade.

O ponto pretendido por Jesus aqui é destacar que a justiça requerida para herdarmos o céu está muito além de nossas boas práticas de piedade, frequência nos cultos e vida devocional. A retidão necessária, como explicou Jesus ao doutor da lei Nicodemos, só era possível se ele nascesse outra vez. E novamente nossa leitura estereotipada pode nos pregar uma peça aqui.

O reformador Martin Lutero definiu a condição do crente com a expressão: SIMUL JUSTUS ET PECCATOR, ou seja, ao mesmo tempo justo e pecador.

Esta antítese pode soar grotesca se estivermos, assim como Nicodemos, em busca de uma receita daquilo que devemos fazer para alcançar o Reino dos Céus. Mas se entendermos a essência da resposta de Jesus podemos nos ver livres deste fardo. Tudo consiste em nascer de novo.

Ao ser questionado pelo doutor da lei como poderia ele, sendo velho, retornar ao ventre de sua mãe, Jesus apresentou a realidade de duas naturezas distintas: O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” João 3:6.

Estas mesmas duas naturezas são definidas por Lutero como justo e pecador.

Logo não há nada que eu possa fazer para deixar de ser pecador. E ainda que eu nunca mais cometa um pecado sequer na minha vida, isso não será suficiente para que eu deixe de ser pecador. Pecado não é aquilo que faço, mas aquilo que sou. É minha natureza carnal. Se eu nasci da carne, sou pecador.

Pense comigo. Se um gato parasse de miar, ou um peixe parasse de nadar, sua natureza não deixaria de ser gato ou peixe. Seria apenas um gato mudo. E um peixe meio sem graça. Mas continuariam sendo aquilo que são. Embora com suas limitações.

A boa notícia é que também não há nada a ser feito para se tornar justo.

Paulo escreve em Romanos 5:8-9:

Mas Deus nos prova seu grande amor ao enviar Cristo para morrer por nós quando ainda éramos pecadores. E, uma vez que fomos declarados justos por seu sangue, certamente seremos salvos da ira de Deus por meio dele”.

Quando ainda tínhamos apenas uma natureza, a de pecador, o sacrifício de Jesus nos atribuiu uma segunda natureza, de justo.

Não é a toa que o significado da palavra evangelho seja “boa notícia”. Se por um lado eu não precisei fazer nada para ser considerado um pecador, também não há nada que eu faça para ser contado entre os justos. Essa nova natureza foi conquistada por Cristo na cruz. O último Adão.

Diante disso, um medo recorrente aflige aqueles que tomam contato com esta mensagem de graça: É a de que seus próprios atos e iniciativas em favor do Reino de Deus percam o sentido. Aparentemente estes se vêem diante da notícia de que estão pagando por algo que era grátis (ou que já havia sido pago, no caso, por Jesus na cruz).

Este erro muito comum consiste em imaginar que, se não há faturas em aberto com Deus, logo eu deveria permanecer em minhas práticas como se ainda tivesse apenas uma natureza.

Mas será que isso faz algum sentido? Se tenho em mim essas duas naturezas, qual delas eu escolho manifestar em minha vida cotidiana?

Se eu compreendo de fato que fui liberto da escravidão do pecado para a justiça, me parece bastante natural que meu desejo seja o de manifestar obras de justiça. Se por outro lado minha natureza carnal é a que eu almejo externar, há de se questionar se tenho mesmo duas naturezas. Talvez ainda tenha apenas uma. E isso passa pela compreensão expressa por Tiago (o Justo), de que “a fé sem obras é morta” (Tiago 2:20b).

Paulo escreveu aos Efésios que Deus nos criou para as boas obras, que ele preparou de antemão (Efésios 2:10). Logo, se por um lado essas obras não são capazes de gerar em nós a justiça requerida para alcançarmos o céu, por outro certamente elas são o resultado da justiça de Cristo em nós, uma vez que nascemos de novo nele.

Um forte abraço e até o próximo Ampulheta.

PARTICIPANTES:
– Giancarlo Marx

COISAS ÚTEIS:
– Duração: 06m41s
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Todos os “Ampulheta”

CITADOS NO PROGRAMA:
Mateus 5:20
João 3:6
Romanos 5: 8-9
Tiago 2:20b
Efésios 2:10

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