Afetos e Desafetos | Ampulheta 20

Meu nome é Giancarlo Marx e hoje eu vou falar sobre o tema Afetos e Desafetos.

Numa conversa recente com um amigo muito querido, ao me referir a um desafeto meu, acabei disparando a seguinte afirmação: “Mesmo que você e o Fulano digam exatamente a mesma coisa, você vai estar indiscutivelmente certo e ele vai estar indiscutivelmente errado”. A frase, que escapuliu num rompante de descuidada sinceridade, me rendeu muito o que pensar. Será que sou guiado pelas minhas convicções ou pelas minhas afeições?

Como propõe James Smith em seu livro Você é Aquilo que Ama”, talvez o ser humano não seja exatamente um “ser pensante”, de acordo com o que propunha Descartes, mas sim um “ser amante”. Por mais que a gente busque motivos pra racionalizar aquilo que nos levam a concordar ou a discordar de alguém, ou de determinada ideia ou conduta, no final das contas isso tem muito mais a ver com os sentimentos que nutrimos com relação a estas pessoas do que necessariamente com as ideias delas.

Quando alguém por quem eu tenho afeto faz uma afirmação qualquer de algo que eu racionalmente reprovo, existe em mim um gatilho mental que tende a relativizar a “bola fora” do meu parça. É aquilo que chamamos popularmente de “panos quentes”. Por outro lado, quando alguém por quem eu tenho desafeto diz algo que eu racionalmente aprovo, esse mesmo gatilho mental vai diminuir o valor do “acerto” daquele por quem eu tenho antipatia. Esta margem de manobra de consciência é o que estou chamando aqui de “afetos e desafetos”.

E que efeito prático ela tem?

Muitos! Mas vou listar aqui pelo menos três.

Acho que o primeiro e mais pessoal deles é que frequentemente deixo de ser abençoado pelos dons dos meus desafetos. Sempre que Deus usar o meu desafeto pra comunicar algo importante, eu vou me furtar de ouvi-lo. E quando eu faço isso não estou ignorando apenas a pessoa, mas o próprio Deus a quem eu e ela servimos. Assim minha mente fica cauterizada para determinadas pautas, em especial aquelas com as quais meu desafeto mais se alinha.

Além disso, num aspecto mais coletivo, existe ainda a possibilidade de eu influenciar outros, a partir do meu sentimento. Este seria um efeito ainda mais prejudicial ao corpo de Cristo. Aquelas pessoas que cultivam comigo uma relação de afeto serão muito provavelmente influenciadas pela minha rejeição a este desafeto. Logo este não será apenas um problema meu, mas de toda a comunidade com a qual eu me relaciono. É bastante comum que estes desafetos resultem em contendas e cisões.

O terceiro efeito tem a ver com a imagem que nós, enquanto igreja, projetamos na sociedade. Isso porque esta reação em cadeia (iniciada pelo sentimento meu) pode muito bem ser percebida por aqueles que ainda não integram a nossa comunhão como um sinal de hipocrisia. Quando eles me virem chamando alguém de “irmão” ou de “querido”, enquanto pelas costas faço lobby para que ele seja abandonado e preterido, eu e toda a comunidade corremos o risco de sermos rotulados como seres traiçoeiros e dissimulados (o que neste exemplo, devo concordar, não estaria faltando com a verdade).

Para romper com este ciclo é necessário adotar uma postura de amor. E não é à toa que Paulo vai definir o amor como uma atitude proativa ao invés um sentimento reativo.

“O amor é paciente e bondoso. O amor não é ciumento, nem presunçoso. Não é orgulhoso, nem grosseiro. Não exige que as coisas sejam à sua maneira. Não é irritável, nem rancoroso. Não se alegra com a injustiça, mas sim com a verdade. O amor nunca desiste, nunca perde a fé, sempre tem esperança e sempre se mantém firme.”1 Corintios 13:4-7

O amor não é opcional. Jesus chegou a ordenar que deveríamos amar nossos inimigos e aqueles que nos perseguem. Que dirá dos desafetos? João afirma em sua primeira carta que aquele que diz que ama a Deus mas se vê incapaz de amar seu irmão não passa de um impostor. E conclui: “…quem ama a Deus, ame também seus irmãos.”1 João 4:21.

Para além de ser um mandamento, o amor também é um dom.

Nos versos anteriores ao já citado trecho de 1 Coríntios 13, Paulo discorre com relação aos dons e ministérios. Ali ele aborda as principais tarefas que desenvolvemos no contexto de comunhão cristã e as habilidades (ou dons) associadas a cada uma dessas tarefas.

Mas no último verso do capítulo 12 o apóstolo dos gentios dá uma deixa fantástica para o tema do capítulo 13: “… portanto, desejem intensamente os dons mais úteis. Agora, porém, vou lhes mostrar um estilo de vida que supera os demais.1 Corintios 12:31 (grifo meu).

O que faz do amor o dom mais útil? O caminho mais excelente? Simples. O amor é a liga que nos une. É a partir do amor que todos os demais dons podem se manifestar. Para permanecer nas palavras paulinas, o amor é o “vínculo perfeito”.

Os demais dons têm lá suas limitações. O dom de cura, por exemplo, pode ter seu efeito ansiado por um doente no leito de um hospital, mas no que ele pode contribuir com aquele que está em plena saúde? O dom de ensino tem lá seu papel no contexto de uma EBD, mas qual sua eficácia diante da falência financeira de um pai de família?

Já o amor, ele é sempre útil. Sempre necessário. Sempre bem-vindo.

Somos desafiados aqui a cultivarmos nossos afetos. E buscar converter nossos desafetos em mais afetos. Não é algo trivial, mas com certeza é necessário.

Para isto nos restam a fé, a esperança e o amor. E o maior deles, cê já sabe, né?

Um forte abraço e até o próximo Ampulheta.

PARTICIPANTES:
– Giancarlo Marx

COISAS ÚTEIS:
– Duração: 07m44s
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CITADOS NO PROGRAMA:
Livro “Você é Aquilo que Ama” de James Smith
1 Corintios 13:4-7
– 1 João 4:21
– 1 Corintios 12:31

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