Ouvi recentemente o ep 141 do podcast Segurança Legal, “Fabricando a Realidade”, que o prof. André Peres fala sobre as novas interações entre realidade e tecnologia. Entre milhares de ideias e projetos de ponta está a impressão 3D, que muda bastante a zona cinzenta que existe entre o mundo virtual e o mundo real.
Se trabalha hoje um protótipo de uma impressora 3D a nível subatômico e, como explica o prof. André, seria (teoricamente) possível que essa impressora reorganizasse os átomos (Bill Nye fala sobre isso neste vídeo — em inglês). Isso significa que seria virtualmente possível se criar qualquer coisa a partir de, basicamente, qualquer coisa.
A idealização atual é de que essa tecnologia traria a possibilidade um mundo que não precisaria mais circular em volta do dinheiro (Neil Gershenfeld comenta sobre essa possibilidade — em inglês). Claro, é uma idealização; mas me fez pensar: Nós sabemos viver uma igreja sem dinheiro?
De púlpito eu percebo que até quando queremos não falar de dinheiro, nós falamos que não estamos falando de dinheiro. Não é só sobre o hábito de doar; de dízimos e ofertas, mas sobre todas atividades do corpo de cristo. Mas nós sabemos ser igreja sem envolver grana?
Gosto de entender a igreja como unidade (assim como boa parte dos cristãos o faz), mas sei da necessidade de se categorizar e departamentalizar para fins práticos — cada membro, assim como num corpo, tem uma função específica pré-definida que realizará de maneira mais afiada ou natural. Nesse sentido, quantos departamentos ou quantos projetos da igreja que frequentamos sobreviveriam sem lidar diretamente com dinheiro? O corpo subsistiria? O evangelismo da igreja sobreviveria? A salinha das crianças? A escola dominical? Os projetos de música? A assistência social? O próprio culto? O atendimento pastoral? A limpeza do prédio?
Vejo cada vez mais uma burocratização tomando conta — todos membros dão uma cota-parte para juntar no todo e esse todo vai ser dividido entre as prioridades definidas (seja pela assembleia, seja pela diretoria, seja pelo pastor) para então virar algo. Seja bíblia pra dar, seja cesta básica, seja cabos para o som, seja o que for. Todo o nosso funcionamento como igreja circula sim, em volta do dinheiro.
E pensar nisso é engraçado: a nossa igreja tem sido mais dinheirocêntrica que cristocêntrica. Nos reunimos em volta do dinheiro para que o dinheiro que reunimos sirva ao propósito de Cristo. Quando Jesus fala da senhora que deu todo seu sustento em duas moedinhas, Ele não está instando aos membros pra terceirizarem as funções sociais da igreja para a instituição – Ele não contextualiza a vida daquela senhora, muito menos afirma que ela obteve algo ao doar seu tudo para o templo.
Fomos aliviados pelo CNPJ. Não carregamos o fardo de Cristo, apesar de este ser leve porque o empurramos para a instituição. Se a igreja mantém um projeto X ou auxilia a comunidade Y, sentimos orgulho porque participamos disso.
Mas não, não participamos. Financiamos. E quando financiamos, somos credores, não nos envolvemos (como eu já comentei a diferença aqui). O dinheiro nos fez desaprender a nos envolver. Pode ser que, no final das contas, nosso dinheiro seja salvo e nós não: como nos chamamos de membros se não sabemos o que está acontecendo com o corpo?