Sobre a Dor #PostDoLeitor

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Ninguém se mata porque quer parar de viver; quer parar de doer! A dor é uma, se não for a maior, das sensações de fracasso que alguém pode sentir na vida. Perder a briga, a competição, o namoro, o noivado, o casamento, a pessoa. Depois do ensino sobre a Soberania de Deus, o Sofrimento Humano, pra mim, sempre será de difícil compreensão. Bom, foi até esses dias atrás quando Deus falou comigo através dos meus filhos! Mais uma vez!

Na manhã de uma terça feira de novembro de 2017, fomos levar os meninos para tomar aquela segunda dose de uma vacina chamada pentavalente. Quem já passou por esse processo sabe o quão dolorido ele é. São três doses; duas numa perna e uma na outra. Não é só a aplicação que dói; o depois é pior ainda. A Carol levou o Daniel e eu, o Felipe. Eu só ouvi os gritos do Daniel e quando chegou a minha vez segurei o Felipe e vi em seus olhinhos o desespero e o desejo intenso de ser retirado daquela sala. Era como se eles estivessem me pedindo, pelo amor que eu tinha neles, que os tirasse dali e, mais ainda, que tirasse, como se tira uma unha encravada, a dor que eles estavam sentindo.

Eu podia ter feito várias coisas: podia ter batido no enfermeiro, empurrado a mão da enfermeira que estava aplicando as vacinas, quebrado as seringas e sumido com todas as agulhas. E eles não teriam sido vacinados e não estariam imunes, com aquela aplicação, às seguintes doenças: Difteria, Tétano, Coqueluche, Meningite e outras infecções causadas pelo Haemophilus influenzaetipo b e a Hepatite B. Entende? Tem dor que imuniza a gente de dores maiores no futuro. Por que, às vezes, Deus não intervém? Porque você seria profundamente prejudicado se Ele o fizesse. Eu chorei junto com eles, os trouxe para perto do peito e fazia compressas de água quente nas perninhas para amenizar a dor, porém, jamais, por conta do amor que tenho por eles, poderia privá-los de serem vacinados. Há dores que são como vacinas, que Deus mesmo aplica para que sejamos imunes a dores maiores e mais intensas. Quando essas tragédias chegam, nós sentimos seus sintomas, mas não somos derrubados por elas. Deus nos vacinou antes! Trouxe-nos para perto do Seu peito e fez compressas de água quente para passar nas nossas pernas! Deus não nos livra da dor; Ele nos livra na dor!

Um outro episódio de dor foi quando o Daniel estava com dores terríveis no ouvido. Semanas antes do Natal de 2017! Ele gritava, mexia os bracinhos e as perninhas como se quisesse bater em alguém. Acabei deitando com ele e, agora, quem sofria as consequências dos movimentos bruscos do Daniel era eu. Ele acertou minhas costas quando estava deitado com a Carol. Depois foi meu rosto, braço, barriga e peito. Parei em certo momento e deixei que ele continuasse a “me bater”. Enquanto isso, eu ia acariciando a cabeça dele e fazendo massagens no ouvido. Foi quase a noite toda assim. A Carol aplicando os remédios e foi quem fez ele se acalmar. Aliás, sempre tem sido ela! Se eu não atrapalhar, já sou um grande auxiliador. Deus, mais uma vez, falou comigo e me fez lembrar dos murros e dos pontapés que eu dei Nele quando estava com dor. A dor faz eu bater até em quem me ama incondicionalmente! A dor me faz perder os sentidos e a razão. Não penso, não mensuro, não tenho condições normais de discernir o que fazer. Só quero mandar a dor embora batendo, esmurrando, chutando. Parece insano isso, mas é! A dor nos torna seres desestruturados. Por isso que, em Star Wars, a dor é um dos elementos fundamentais para se entregar ao Lado Obscuro da Força. Deixar-se ser dominado pela dor é um caminho de constantes processos desumanistas. Você perde sua essência como, por exemplo, a compaixão. “Por que me importar por quem não se importou comigo?” — pode ser uma das questões!

Acolher a dor do outro é um caminho de cura. Tomar os murros e os chutes que não são destinados a você, mas que você os recebe como se fossem é uma ação que somente que entendeu o sacrifício de Jesus consegue fazer! A dor não pede explicação; pede acolhimento. Não pede razões; pede apenas, e tão somente, que se entenda o momento, a vocação, o jeito, a fala, o tom, o ser! Não sei se entendi direito a dor de Jesus, mas sei que aquilo ali foi feito porque o mundo vive em dor e vive se debatendo. Alguém tinha que sentir na pele e receber as pancadas geradas por essa dor. Jesus, em silêncio e em amor, se fez culpado. O ódio que deveria ter sido dirigido para mim, foi redirecionado para Ele. Por que? Porque Ele aguentou! E aguenta até hoje!

Luther King disse, certa vez: “Nunca, nunca tenha medo de fazer o que é certo, especialmente se o bem-estar de uma pessoa ou animal estiver em jogo. As punições da sociedade são pequenas em comparação com as feridas que infligimos em nossa alma quando olhamos para o outro lado”. A dor começa a ser curada quando não olho para o outro lado, como o fariseu e o escriba na parábola do Bom Samaritano. Mas é quando eu olho e desço da minha zona de conforto, do meu pedestal de liderança, do meu pseudo posto de superior e vou ao encontro da pessoa. Aí eu creio em transformação, o resto é discurso religioso!

Uma das marca dos discípulos de Jesus é a forma como acolhemos a dor do outro. Sem julgamentos ou tentativas inúteis de análise. Acolhimento! Só isso! É trazer pra junto do peito e abraçar enquanto você sofre as pancadas. Entenda de uma vez por todas: esses murros e chutes não são pra você, mas alguém tem que acolher! Alguém tem que oportunizar a libertação. Aliás, a libertação nunca estará para fora de você, sempre dentro. Então, não terceirize dizendo que “todo mundo sofre isso”, “acontece com qualquer um”, “aconteceu com um amigo meu isso e…” ou “Isso é obra disso ou daquilo”. Isso é sinal que você não entendeu o que Cristo fez por você e o que, em resposta a isso, cheio de gratidão e louvor, você agora replica com outras pessoas. Meus filhos, talvez, não entenderam ainda o que aconteceu ali naqueles dois e outros momentos. A questão é que não quero que eles entendam, só quero que a dor deles passe! Não estou preocupado se eles entendiam o que estava rolando ali. Não estou! Apenas me preocupo com o fato de que, se posso tirar ou amenizar a dor deles, é isso que vou fazer! Imagino que Deus faça o mesmo com a gente!

*Texto original publicado no Medium do Cristiano Fiori.

Cristiano Fiori é pastor. Gosta de cinema, livros, games, música, espiritualidade e gente.

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