Ontem tive uma grata surpresa.
um amigo e camarada na igreja do Armazém, que está estudando TEOLOGIA, esteve em casa, para conversarmos um pouco sobre a historia da igreja, para a composição de um trabalho para seu curso. Até aí, nada anormal.
Nos sentamos no sofá da sala, ele, a Leticia e eu, e começamos a conversar sobre como tudo começou, por que tudo começou, quando tudo começou… Alias, começamos a falar desde quando nos convertemos, nos batizamos, nos casamos, apresentamos, apresentamos nossa filha mais velha, tudo isso numa igreja aqui de Curitiba, quando fomos para o Japão, e passamos vários perrengues, aqueles típicos de imigrantes, eramos duas crianças, sem pai, sem mãe, numa terra onde a gente não sabia o valor do dinheiro, não sabia ler e falar direito… Como começamos a frequentar uma igreja neo pentecostal, réplica da renascer, portanto,manipuladora, (óbvio que só reconheci isso, tempos depois) e como mesmo reconhecendo a má fé da liderança, via gente boa, emocionalmente carente e socialmente excluída, se ajuntando ao redor deles, como se eles fossem procuradores do próprio Cristo, na Terra.
Quando voltamos para o Brasil e consequentemente, para a igreja onde nos convertemos, vimos um pastor humano e dedicado ter se transformado num empresario que tratava a igreja com a frieza de um administrador de empresas que calcula estratégias para minimizar perdas e maximizar lucros, apostando alto com as coisas da fé e com a vida das pessoas que estavam ao seu redor.
Fomos para uma grande igreja neo pentecostal aqui de Curitiba, e em pouquíssimo tempo, já estava liderando jovens, pessoas compromissadas e dedicadas, mas também, estávamos ao lado dos caciques daquela instituição, e consequentemente, já estávamos próximos o suficiente para perceber como esses caciques pensavam na igreja como se houvesse um plano de cargos e salários, e os jovens não passavam de “gado”, o material com que trabalhávamos para conseguir o que, realmente desejavam, e pasmem, isso nem foi o pior que eu vi andando pertinho dessa corja.
nesse mesmo período, eu estava estudando física e a Leticia, pedagogia, e de dentro da universidade federal, víamos pessoas muito mais compromissadas com o outro do que de dentro da igreja, e para quem tinha aprendido que a fé cristã era a fé do comprometimento com o outro, ver ATEUS mais preocupados com o outro do que os PASTORES, foi no minimo, um choque.
Ainda tentamos aportar noutra igreja, e nessa, nem tivemos tempo de chegar perto da liderança, pq as bizarrices do tipo “Lenço que curará os doentes da sua casa”, “Depositar ofertas aos pés dos missionários”, “Testemunho da visita que o pastor fez ao inferno” e o fatídico “Encontro com Deus” nos fizeram sair um dia, no meio de um culto, e nunca mais voltar lá, apesar de termos nos ligado a pessoas ótimas por lá, que mantinham um trabalho lindo, (trabalho esse que era financiado por uma pessoa que não era da igreja, e os pastores só apareciam uma vez a cada 6 meses, para tirar foto ao lado dos pobres e nada mais”
Passamos um tempo, ainda, sem ir em qualquer igreja, sem ter esperança de voltar a ser crente, quando ouvimos falar do FÓRUM JOVEM DE MISSÃO INTEGRAL Danny Knüppe, Wilson Correia Jr., Cleber Sá Dos Santos e Gustavo Nering eram alguns dos que estavam a frente desse evento… Eu participei e ouvi falarem de um evangelho diferente e possível. Muito antes dessa babaquice de “TMI é MARXISMO” eu consegui ver gente cristã falando de valores cristãos… No próximo evento eu conheci o Bebeto Araújo, e é indiscutível, quem ouve este homem contar sua historia e sobre seu ministério, não volta igual pra casa… Foi o que aconteceu com a Leticia e eu, não conseguimos mais “voltar ao normal”
Com o tempo, com os encontros dos amigos das igrejas, acabamos estabelecendo, sem querer, encontros semanais, para ver tv, falar merda e chorar as pitangas, e nesse momento, o Ariovaldo Carlos Jr. foi uma pessoa importante no processo, pq ele me disse que manter-se fechado, sem permitir que outras pessoas viessem à nossa convivência, era egoísmo da nossa parte e em pouco tempo, seriamos uma seita ou coisa parecida; Diante dessa afirmação, eu disse que não me sentia preparado para conduzir uma parada assim ao que ele disse que, “Enquanto se sentir despreparado, está ok, na hora que vc achar que dá conta, melhor acabar com tudo” e essa frase me marcou muito.
em tempos, começamos o que viria a ser a Igreja do Armazém que vem caminhando a 6 anos, entre tretas e sucessos, amigos e inimigos. O resto das historia, vcs já conhecem.
Mas o que pensei sobre tudo isso, ontem, conversando sobre a historia?
1. Nas igrejas mais escrotas, as pessoas que estão na base, são sempre engajadas. ISso é um problema, por que muitas vezes, vc não quer sair de uma igreja que faz absurdo por causa dessas pessoas, mas perceba, essa é uma ESTRATEGIA para inchar a igreja cada vez mais e mais e perpetuar esse ciclo onde muita gente boa trabalha para poucos escrotos desfrutarem dos louros de serem PASTORES DE UMA IGREJA GIGANTE E PROSPERA.
2. Existe vida fora da igreja institucional. Existe uma forma de se menos complicado e mais integral e orgânico, mas é um custo alto, muita gente acha lindo ver a igreja funcionando, mas poucos teriam garra de manter ela em pé. É uma treta constante, um equilíbrio instável. Muita gente próximas, muitos amigos, tentaram, e não conseguiram continuar, abandonaram. Não odeio ninguém por isso, e talvez essa não tenha sido a unica motivação dessas pessoas saírem do nosso convívio, mas é notável que conviver e respeitar as diferenças teológicas, sociológicas, filosóficas, politicas, psicológicas etc, de uma serie de pessoas, realmente só funciona com quem tem o outro como prioridade.
3. ultimo mas não menos importante… Em todo o tempo, em todas as tretas, em todos os sucesso, em todas as faltas de dinheiro para ir nos retiros idiotas de instituições imbecis, em todas as noites em claro ouvindo a lamentação de pessoas que se diziam “parte do rolê” e que em pouco tempo já nem mesmo faziam questão de nos cumprimentar na rua, em tudo, tudo mesmo, tudo que vc puder imaginar e em tudo que vc não pode imaginar, estive do lado a Leticia e ela esteve ao meu lado. Um casamento não se faz de bons momentos registrados no instagram, ou de festas com os outros casais da igreja, mas de um compromisso com o outro, cumplicidade e completa e irrestrita consciência de mutua dependência… Eu já não vivo mais sem ela, não posso e nem quero. Obrigado por cada momento.
Todas as pessoas citadas aqui são tambem, direta ou indiretamente, culpadas pelo que a Igreja do Armazém é hoje, e ainda existem outras, como o Carlos Artur Jachstet, o Watson Melo, o Bruno Ferrari e Elisa M. Ferrari e o Guilherme Tuller, que me proporcionou recordar tudo isso de maneira muito viva na minha cabeça, ontem a noite…
Obrigado a todas e todos.