Tenho certeza que você já ouviu a frase:
A IGREJA NÃO É O TEMPLO… A IGREJA SÃO AS PESSOAS.
Ok, é uma bela frase quando queremos evidenciar o quão desnecessários são os templos e a estrutura institucional da igreja, no entanto, não fala muito sobre a essência da igreja. “A Igreja não é o templo” me parece óbvio desde a declaração de Cristo em João 4, 21 em diante, mas acredito que o segundo período dessa frase, está ancorado num clichê, muito repetido mas sob o qual pouco se reflete, de que “A salvação é individual”.
Bem, não posso falar por todas as teorias soteriológicas que existem dentro do cristianismo, pois seria arrogância muita de minha parte centralizar o conhecimento de mais de dois mil anos de cultura cristã em apenas a proposta que eu aceito, mas vou falar um pouco do que acredito.
Creio que Deus é soberano sobre todo o cosmo, e não há nada que escape à sua soberania (Isso implica paradoxos teológicos? Claro que sim, mas vou deixando eles de lado, pois nenhuma proposta teológica é isenta destes.)
Sendo Deus soberano sobre tudo e todos, não temos como surpreende-lo ou decepciona-lo, ou qualquer coisa assim, pois Deus, sendo soberano, é infinito e sua infinitude não equivale a uma existência que não tem fim apenas, mais que isso, Deus é soberano até mesmo ao tempo, que não o pode limitar em nada e assim, o passado e o futuro são limitações que não se aplicam a Deus, pois ele é SOBERANO.
Ora, Deus, sendo soberano, tem sob seu domínio, tudo, desde as manifestações mais espetaculares do universo, até ações individuais de cada ser humano.
E sendo assim, quando afirmamos que “A salvação é individual” é preciso tomar muito cuidado para não cair na tentação de achar que temos parte neste processo. a palavra INDIVIDUAL, para muitos remete a individualismo, à lógica de que na salvação é um cada-um-por-si, enquanto, pelo menos pra mim, não é assim.
Além, é claro, da ideia de que a SALVAÇÃO é apenas um premio de consolação por uma vida de privações aos que não fez isso, não fez aquilo, resta aguardar por um premio vindouro no pós morte, que ninguém nunca viu, mas que todos tem certeza absoluta de que acontecerá.
Pois bem… Pra mim, (e não apenas pra mim) a salvação é um processo que se inicia no momento em que reconheço minha finitude e minha carência de Deus e ao reconhece-la, enquanto processo, começo a resignificar o mundo todo, desde as manifestações mais espetaculares do universo, até ações individuais de cada ser humano, a partir de uma nova ótica, a qual, Deus nos expôs em Cristo. Reconsiderar o mundo tendo por base as palavras e atitudes de Cristo descritas nos evangelhos é, portanto, tornar-se CRISTÃO, ter em nossa vida uma CONVERSÃO, e converter-se é iniciar o processo de salvação.
Todo esse processo de Resignificação, conversão e salvação é obra do soberano Deus, o qual, salvo excussões, tem por costume (o que não é uma regra) se utilizar de PESSOAS como ferramentas.
As pessoas são, em grande medida, as mãos e voz de Deus para que ao longo da historia, homens e mulheres venham se converter.
Pessoas em contato com outras pessoas tem sido o mais tipico movimento de Deus na construção de uma sociedade pautada pelos valores do evangelho. O evangelho não é antropocêntrico, como podem sugerir alguns, mas no centro do cristianismo estão as RELAÇÕES.
O inexplicável conceito de TRINDADE que carregamos como dogma é caracterizado por ser a mais perfeita relação. Não há hierarquias de comando por que só existe uma vontade, um coração, um projeto. e o Deus triuno é o centro da nossa religião. uma comunidade de iguais com funções diferentes e complementares é central na fé cristã.
E Deus, manifesto na Terra, também apontou os relacionamentos como o que resumiria todos os profetas e toda a lei. relacionamento com DEUS e relacionamento com o próximo.
Toda a lei e todos os profetas podem ser resumidos em RELACIONAMENTOS DE AMOR. Todas as regras, toda liturgia, toda convenção e todos os costumes são resumidos em relacionamentos de amor.
A igreja, portanto, é resumida, nisso… Não nos templos que se acabam com o tempo e muito menos no individualismo de cada um, mas em relacionamentos de amor.