Não andeis ansiosos por motivo algum; pelo contrário, sejam todas as vossas solicitações declaradas na presença de Deus por meio de oração e súplicas com ações de graça. E a paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará o vosso coração e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.
Filipenses 4, 6
Tenho certeza de que não foram poucas as vezes que lhe repetiram essa frase ao longo da vida, ainda mais se você é cristão protestante. Não ande ansiosoé um mantra evangélico que tem sido repetido à exaustão ao custo, de como todo o mantra ou então, oração repetida, tornar-se nulo de sentido e vazio de conteúdo tornando-se apenas mais uma das tantas frases que estão na ponta das nossas línguas como bons alunos de escola dominical que somos e sem nenhum efeito prático nas nossas vidas, como típicos cristãos pós-modernos que, fatalmente, também somos.
Não é o caso que queira, com isso, propor qualquer tipo de generalização tendenciosa, apesar de ser inegável que uma “epidemia” de ansiedade vem se alastrando em proporções catastróficas ao longo das ultimas décadas ou reduzir a questão a apenas uma mera falta de vontade ou empenho de que sofre desse mal que afeta desde presidentes (perdoem-me, mas não consigo utilizar a expressão CEO) das estratégias das maiores e mais poderosas empresas do mundo, até as mais humildes donas de casa, dos mais humildes municípios brasileiros, encarregadas apenas da gestão financeira e da logística diárias de sua família. Somos todos, direta ou indiretamente, afetados por esse quadro.
“Nossa ansiedade não esvazia o sofrimento do amanhã, mas apenas esvazia a força do hoje.”
Charles Spurgeon
Na 6a. carta do demônio SCREWTAPE ao seu aprendiz, este mostra-se confiante na esperança de que a instabilidade quanto ao futuro de seu cliente. Não é o caso que qualquer um de nós possa prever com objetividade e plena assertividade o que virá a seguir mesmo em alguns minutos, e é EXATAMENTE esse o maior trunfo nas mãos do aprendiz.
Confiar em Deus é para nós, cristãos pós-modernos, no auge da inundação de informação, métodos de auto-ajuda e todo tipo de busca “espiritual”, algo que rompe com a logica impecavelmente matemática do homem moderno, um desafio desumano (Não é claro, que fosse menos difícil, confiar num ser imaterial, infinito todo poderoso, do qual nunca tivemos qualquer materialidade de prova, para os homens e mulheres do passado, mas efetivamente, antes da aurora cartesiana, crer em Deus e confiar nele era muito mais fácil, convenhamos)
E a ansiedade nos torna cativos de nossas expectativas e mesmo não tendo qualquer chance contra o “destino” sofremos as dores de quem, na eminência do ser, ainda não é, lamentando nunca ter sido.
No meio dessa tempestade de sentimentos, Deus, o inimigo de SCREWTAPE, propõem o que há de mais desumano, Não andeis ansiosos por motivo algum…
COMO NÃO, MEU DEUS DO CÉU!
Há uma mentalidade equivocada e estabelecida por uma teologia viciada, de que o cristão, ao se converter, tem plenos poderes sobre todo o futuro, mediante seu contato com Deus ou ainda, pode até mesmo, colocar deus contra a parede, torcendo-lhe o braço e cobrando como um capanga de um agiota, com o artificio dos DÍZIMOS E OFERTAS… Essa teologia, é vastamente divulgada em igrejas neo-pentecostais (as que carinhosamente chamo de SINAGOGAS DE SATANÁS) e é chamada de TEOLOGIA DA PROSPERIDADE, que não preciso nem dizer, é absolutamente, anti-biblica (poderemos conversar noutra hora… Me cobrem).
Nós, que repudiamos essa teologia baseada no texto do Evangelho de São Mateus, 4, 9 e todas as artimanhas de SCREWTAPE e seus companheiros, optamos por pensar a fé e refletir sobre o divino de maneira diferente, na qual Deus não é nosso servo, mas nosso SENHOR e como tal, não recebe ordens, mas ORDENA, e pasmem, uma das ordens é Não andeis ansiosos por motivo algum.
Esse mantra, como disse na introdução, é uma ordem, um imperativo da parte de Deus que espera não menos que PLENA OBEDIÊNCIA por parte daqueles que se reconhecem como seus seguidores.
Crer e confiar em Deus, ou seja, não andar ansioso, é, como C.S.Lewis, reflete no texto, a CRUZ que, enquanto cristãos, devemos carregar, suportar, conviver… Nossa cruz é CONFIAR EM DEUS!
A confiança em Deus, pressuporem que estejamos caminhando, com os pés firmes no chão, mas com os olhos vidrados em Deus, para não errar a passada, para não perder-se no trajeto. A confiança, em Deus é a ferramenta para que nós, pós-iluminados, tiremos nossa confiança de nós mesmos e passemos a confiar no único que é digno de toda confiança, DEUS!
No entanto, é diante das crises que a confiança é testada e ao invés de permanecer olhando para Deus, invariavelmente, nossos olhos se voltam para os problemas e na angustia de aniquila-los, procuramos em nós mesmos, a solução mais rápida e mais objetiva, caindo na armadilha demoníaca de tirar os olhos de Deus, e novamente voltar nossos olhos para nós mesmos.
Convenhamos o Diabo não quer adoradores de capuz preto e com pentagramas desenhados no chão, isso é para assustar criancinhas mal criadas… Mas Cristãos que perdem o foco em Deus diante de seus desafio e da dureza da vida cotidiana são um prato cheio para o escritor das cartas. Não como servos fieis à obra do diabo, mas como inevitáveis instrumentos de auto destruição.
Não tenho a pretensão de dar a solução para a epidemia de ansiedade que abraça o mundo, e seria uma pretensão muito grande sugerir algo como “Confiem em Deus” ou qualquer chavão evangélico… Minhas propostas para que nesse espiral de medo e angustia que tira nosso foco de Deus cada vez mais a cada novo ciclo é que tenhamos consciência de que independente de nosso medo, Deus continua sendo Deus e da mesma forma que ele nos ordena confiar, ele promete nos amparar…
Pois a vida é mais que o alimento, e o corpo mais que o vestido. Considerai os corvos, que não semeiam nem ceifam, não têm despensa nem celeiro; contudo Deus os alimenta. Quanto mais valeis vós do que as aves! Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um cúbito à sua estatura? Se, pois, não podeis fazer nem as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?Considerai os lírios, como não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois se Deus assim veste a erva no campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé! Não procureis o que haveis de comer ou beber, nem andeis solícitos; porque os homens do mundo é que procuram todas estas coisas; mas vosso Pai sabe que precisais delas. Buscai antes o seu reino, e estas coisas vos serão acrescentadas. Não temas, pequeno rebanho; porque é do agrado de vosso Pai dar-vos o reino.» (Lucas 12:20–32)
Se a angustia é inevitável, compreenda que ela é parte do processo de crescimento de cada um de nós… Não existe confiança ou amor verdadeiro sem desafio, e não há como ser cristão esperando um deus experimentável num laboratório. Deus é livre e sua imagem e semelhança é livre… O pecado original aponta par o fim da confiança do homem e da mulher em Deus (motivado pelo próprio diabo) e a busca da confiança em si mesmo…
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, esereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
Gênesis 3:5 (enfase minha)
“Não andeis ansiosos”, portanto, não é sobre uma patologia que afeta a população do mundo como uma epidemia, mas poderia ser traduzido, puramente em “Voltem a confiar em mim e vamos, juntos, restaurar o jardim”