Um dos maiores perigos enfrentados pela igreja de hoje é, em minha opinião, a inércia. Em tempos de internet e redes sociais opinamos enfaticamente sobre quase todos os assuntos. Temos opiniões sobre política (Aliás “como nunca antes na história desse país”) sobre temas polêmicos que pipocam em nossos noticiários, sobre as atuações de nossa seleção de futebol, saúde, segurança, BBB 16 (essa me deu tristeza de escrever) etc… Nas livrarias, a seção de “autoajuda” nos promete uma centena de novos métodos para salvar nossos casamentos, diminuir nossas cinturas, ter sucesso nos negócios. Se eles funcionam, porque há tantos divórcios, tantos obesos e tantos fracassos comerciais? Não há limites para a produção de textos e confesso que uma espécie de orgulho ronda essa atividade. “A arte é um ato ostensivo de satisfação do ego” disse certa vez Philip Yancey quando falava sobre ser escritor. Nem eu me furto de um sentimento parecido. Escrevo a frase seguinte com a petulância de acreditar que ela merece ser lida. Queremos ser ouvidos porque somos frutos de uma geração com a expressividade reprimida por décadas. O problema é que a Igreja, apesar de ter uma posição razoavelmente bem definida sobre os mais diversos temas, muitas vezes não se posiciona como porta voz de Cristo para as nações. Estamos tão acostumados com os sinais do declínio cultural que é difícil imaginar algum movimento em qualquer outra direção. A historiadora judia Gertrude Himmelfarb, em sua obra The De-moralization of Society (A desmoralização da sociedade) cita em certo momento Margaret Thatcher, a dama de ferro da política britânica. Quando um entrevistador acusou a sra. Thatcher de defender valores vitorianos, ela respondeu: “Sim, exato. Exatamente isso. Aqueles eram valores quando nosso país se tornou grande”. Seus opositores políticos exultaram e passaram a atacar a citação, e os valores vitorianos se tornando o tema principal de manchetes de jornais na época. Thatcher não recuou, insistindo que aqueles valores incluíam coisas como compromisso com a família, trabalho duro, poupança, asseio, autoestima e boa convivência. As estatísticas da época vitoriana mostram uma imagem oposta às tendências modernas. A alfabetização aumentou e a pobreza diminuiu. As taxas de filhos ilegítimos e de crimes despencou. No fim do século 19, as taxas de filhos ilegítimos eram de 3%, contrastando com s 70% de hoje nas áreas mais desfavorecidas dos Estados Unidos. No Brasil 5,5 milhões de crianças não tem o nome de seu progenitor na certidão. A criminalidade da Inglaterra caiu pela metade na era vitoriana.
O que causou essa reviravolta? Como muitos outros historiadores, Himmelfarb atribuiu os méritos disso a uma campanha conduzida por cristãos. Os metodistas pressionaram pedindo reformas no movimento operário, na habitação, nas prisões, na educação pública, no saneamento básico e na saúde. Seu fundador, John Wesley, ensinava que o evangelho de Cristo implicava mais coisas que a salvação das almas. Ele devia exercer um impacto sobre toda a sociedade, e seus seguidores trabalharam para conseguir exatamente isso. O retrato dos valores vitorianos feito pela historiadora judia contradiz a sufocante imagem que esses valores evocam hoje em dia argumentando que isso é parte do problema. Dos livros do sociólogo Rodney Stark, O crescimento do Cristianismo e O trunfo do Cristianismo, esclarecem como os primeiros crentes do Império Romano levaram a sério as palavras de Jesus. Os cristãos organizaram projetos assistenciais para os pobres e resgatavam seus amigos das mãos dos bárbaros captores. Alguns espontaneamente libertavam seus escravos. Quando havia surtos de doenças, os cristãos cuidavam dos enfermos, inclusive de seus vizinhos não cristãos ao passo que os pagãos os abandonavam assim que os primeiros sintomas apareciam. De fato, muitos líderes da igreja morreram depois de contrair a doença daqueles que estavam tratando. Quando os Romanos abandonavam seus bebês indesejados ao relento, expondo-os às feras, os cristãos organizavam equipes de amas de leite a fim de mantê-los vivos para que fossem adotados por famílias da igreja. Creio em um avivamento diferente para os dias atuais. Precisamos de um cristianismo atuante para que não morramos atolados em nossas crenças dento de nossos templos adornados e confortáveis pois o reino de Deus existe principalmente em prol dos de fora. Ler as palavras de G.K. Chesterton me proporciona certo consolo: “O cristianismo morreu muitas vezes e ressuscitou de novo, pois tinha um Deus que sabia como sair do túmulo. ”
Amém!