Estou à frente de uma igreja a 5 anos e desde o primeiro dia que abrimos as portas para pessoas de fora do nosso convívio frequentarem as reuniões, ouço a pergunta:
– Você é o pastor dessa igreja?
Bem, é preciso dizer que isso aconteceu quando eu, minha esposa e filha e alguns amigos, tínhamos acabado de passar por um período de aproximadamente ano sem frequentar nenhuma igreja e antes disso, fomos membros de uma grande igreja aqui de Curitiba a qual me deixou bem frustrado com os profissionais da fé que equivocadamente chamávamos de pastor, missionário, evangelista, apóstolo, mestre, entre outros tantos títulos bíblicos que o tempo e o mau uso fizeram o favor de perverter quase que por completo.
O termo PASTOR, para mim ( e para muitas pessoas ) perdeu o seu real sentido bíblico, passando a ser o titulo dado ao líder da comunidade, que tem todos os privilégios possíveis e não se importa com mais nada, tendo por atribuição pregar nos domingos e apertar as mãos de alguns membros ao final das reuniões, e sem nenhum medo de errar, eu não queria esse papel para a minha vida, por isso, a resposta à tal pergunta sempre ficava engasgada, e saia como um “É… tipo isso!”. Não me agradava em nada ter o meu nome e a minha figura associada ao tipo de gente que abandonei na ultima instituição que estive e dos centenas de bandidos que vejo nas madrugas da TV aberta repetindo ipsis litteris um roteiro previamente composto para convencer gente inocente de que o segredo para acessar o coração de Deus e consecutivamente o sucesso financeiro, é entregar dízimos e ofertas aos seus pés, como se o DEUS E PAI, Adonai do universo, sentado no topo do universo e observando a vida de cada homem e mulher da perspectiva da eternidade, a qual ignora o tempo e o espaço, tivesse o mesquinho interesse em 10% do salário dessa gente iludida.
Mas isso é SER PASTOR então? Tentarei escrever aqui a minha impressão sobre a posição de pastor enquanto administrador de uma instituição religiosa assim como a de um homem ou mulher que recebeu um dom específico de Deus e como acredito que deva se estabelecer essas duas funções dentro das comunidades cristãs contemporâneas. Obviamente, como não sou sou teólogo de formação, você que é uma pessoa com valores um pouco mais tradicionais e conservadores, tenha varias objeções ao que direi por aqui e talvez até pense que o texto é uma justificativa em causa própria, por eu não ter feito qualquer curso de teologia ou coisa que o valia e ainda assim estar a frente da igreja, e antes que você levante essa possibilidade, gostaria de afirmar que SIM é exatamente isso, estou tentando entender a mim mesmo nessa posição e o quanto eu posso permanecer aqui ou não. Gostaria de deixar claro que não quero acabar com a sua instituição clássica a histórica, entendo a necessidade dela e a importância ao longo dos anos, mas também vejo alguns problemas os quais não apresentarei neste texto explicitamente,pois não é esse o objetivo aqui. Não está na minha lista de prioridades combater qualquer igreja histórica que pregue e tenha compromisso com o evangelho de Cristo
Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;
Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.
Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
Efésios 4:10–15
Existem, é óbvio, os PROFISSIONAIS DA FÉ, homens que tendo feito um curso de teologia ou equivalente (ou não) recebem um salário (ou não) para exercer a função de administrador eclesiástico e pregador, sanando os problemas característicos do cotidiano das instituições de fé. Estes profissionais são, na maioria esmagadora dos casos, escolhida por seus superiores hierárquicos dentro da instituição, sem que haja a participação efetiva dos membros nessa escolha, ou seja, os membros não precisam reconhecer o pastoreio destes homens, pois não há esta opção. São impostos aos rebanho sem que exista qualquer tipo de reconhecimento natural ou espontâneo, nem ao menos o conceito de reconhecimento existe. Não temos como alegar que estes homens ou essa atividade seja, necessariamente, a causa da evidente crise nas instituições eclesiásticas que vemos hoje (será que em algum momento estas não estiveram de uma maneira ou de outra, em crise?), pois como em qualquer ramo profissional, existem os bons e os maus profissionais e toda uma classe não pode levar a culpa por conta de alguns indivíduos, ( a menos, é claro, que a própria atividade seja o problema). Os maus profissionais neste caso são aqueles que se comportam de maneira anti-cristã, gerando um sem fim de problemas para todos os envolvidos no processo e em tempo, a minha modesta opinião é que as atitudes anti-cristãs são a chave de todos os problemas, mas isso é assunto para um próximo texto.
Do outro lado, existe também, o pastor, que é aquele que recebeu de Deus e não de nenhum homem o dom de se dispor a amar e cuidar de todos aqueles que Deus coloca no seu caminho. Não cobra para abraçar e chorar, acompanhar e aconselhar, tratar com amor e ser duro quando necessário, pois não enxerga como poderia estabelecer um valor a ser pago naquilo que naturalmente ele está disposto a fazer. Estabelecem uma relação horizontal com o alvo do seu pastoreio pois não querem oprimir, apagar ou usar como plataforma para sua própria projeção, antes querem fazer amigos e irmãos e ser suporte para o crescimento daqueles que está pastoreando. Um profissional da fé pode abandonar o cargo na hora que quiser pois está vinculado a um contrato enquanto um homem ou mulher que recebeu um dom de Deus para cuidar das pessoas, não pode abandonar o ministério sem antes ter de negar a si mesmo e transformar-se em outra pessoa no trajeto dessa fuga. Ainda que o pastor não esteja ligado a uma instituição e não tenha recebido a investidura de alguma autoridade superior, continua sendo o que é, na mais nada menos que PASTOR.
Diferentemente do que se possa imaginar, um mesmo homem pode ser agraciado por ter o dom de cuidar das pessoas e ao mesmo tempo, se tornar um profissional da fé, recebendo um salário justo para fazer aquilo que naturalmente já faria, mas é claro, que não são todos os casos assim
Mas se não é um SUPERIOR que decide quem é ou não é pastor e sim o próprio Deus, como é que podemos saber quem é e quem não é?
Obviamente, uma autoridade de uma instituição pode ser muito mais facilmente identificada, de maneira que, em qualquer igreja mais tradicional, você pode saber rapidamente quem é o pastor (o profissional da fé) ainda que este seja ou não o homem que recebeu o dom de Deus.
Para compreendermos então essa questão, se faz necessário que o vetor dessa pergunta seja invertido ao invés de questionarmos QUEM É O PASTOR DA IGREJA, a pergunta deveria ser outra:
Quem eu reconheço como pastor?
Claro, o pastor profissional, não precisa ser reconhecido dessa maneira subjetiva, mas o homem ou mulher que recebeu o dom de Deus, sim.
Buscando saber quem é que cuida das suas feridas, se importa com seus problemas, está disposto a andar mais uma milha, corrigir seus erros, etc? Você reconhece alguém assim na sua comunidade de fé?
É impossível que qualquer um assuma a posição de pastor na sua vida, sem que antes de qualquer título, tenha atitudes de um pastor, logo, o titulo de pastor só pode vir depois do reconhecimento da comunidade. Quando naturalmente e inevitavelmente, as pessoas ao seu redor lhe reconhecerem como pastor, não pelo status do titulo, mas pela postura de amor e dedicação, e quando ninguém precisa lhe apontar quem deve ser cuidado, quando as pessoas naturalmente vierem até você pedindo ajuda, voilà.
O dom de pastorear é, sobretudo, o dom de amar, indiscriminadamente, e ter o cuidado com quem passa por sua vida. Ainda que a palavra PASTOR esteja desgastada e suja pela atitude de centenas de bandidos que se usam do status desse “cargo” para se aproveitarem de gente inocente e ignorante e justamente por conta disso, se faz urgente que os pastores eleitos por Deus tomem uma postura enérgica contra os lobos que se alimentam das ovelhas e retomem o peso que essa palavra tem sobre os ombros de quem a carrega.
Jesus repetiu a pergunta: Simão, filho de João, amas-me? Sim, Senhor, disse Pedro, sabes que eu te amo.Então pastoreia as minhas ovelhinhas.
João 21:16 (O LIVRO (OL))