O FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) é um evento bienal e o maior dedicado exclusivamente à histórias em quadrinhos da América Latina, que ocorreu entre os dias 11 e 15 de novembro, em Belo Horizonte. Sendo assim, eu como pretenso (e pretensioso) estudioso da nona arte, peguei um avião até beagá e fui conferir o evento, e agora trago minhas impressões nesse post aqui pra galera do Blog dos Crentassos®.
O evento aconteceu na Serraria Souza Pinto – um espaço centenário – no centro de Belo Horizonte, que recebe uma série de eventos culturais e convenções. O espaço é amplo e comportou bem a grande quantidade de visitantes que o evento recebeu. Além disso, os espaços estavam todos bem definidos e funcionavam muito bem. Logo na entrada estava a secretaria onde se podiam pegar informações, a programação e retirar as senhas para as sessões de autógrafo e mesas mais disputadas. Apesar de o espaço um pouco estreito atrapalhar um pouco a retirada das senhas, o bom trabalho da equipe do evento amenizou esses problemas de espaço.
Quem entrava passava por várias exposições do evento, sendo que a principal exposição era a que homenageava o quadrinista Antônio Cedraz, cujo maior sucesso foi a Turma do Xaxado. Outras exposições vistas eram apresentando o trabalho do quadrinista Evandro Alves sobre o cerrado mineiro. Além disso, outras duas exposições propunham a reinterpretação de super-heróis famosos: a primeira buscando um realismo a partir do ponto de vista científico e a segunda reinterpretando a imagem e o vestuário de super-heroínas, exposição que serviu de inspiração para alguns dos cosplays vistos no Festival. As cosplayers circularam pelo evento durante os cinco dias. Do lado de fora havia uma série de carrinhos e bancas de comida e bebidas, todos a preços convidativos (aliás, pra um curitibano, os preços de BH são um verdadeiro paraíso), e um espaço bacana para quem quisesse sentar e se refrescar um pouco do clima quente que estava na cidade.
O grande destaque foi o espaço em que todos passavam a maior parte do tempo, a Praça dos Artistas, com mais de CENTO E VINTE mesas nas quais os artistas vendiam seus trabalhos. Entre eles havia todo tipo de quadrinho: o de super-herói, infantil, humor, terror, ação e aventura, até ficção cientifica e quadrinhos gastronômicos (sim, você leu certo). Neste espaço vimos reunidos desde quadrinistas bem estabelecidos, como Carlos Ruas (Um Sábado Qualquer) e Vitor Cafaggi (Valente, Graphic MSP), até coletivos de quadrinhos e novatos em seu primeiro evento. Ao redor das mesas estavam os estandes de editoras e lojas de quadrinhos, todos com grande catálogo e programações de autógrafos e lançamentos. O ponto negativo fica novamente pela ausência da editora Panini, editora com maior fatia do mercado, que não tem costume de fazer ações próprias em eventos, uma pena.
Separado do espaço das mesas e estandes pela “praça de alimentação”, estava uma tenda que reunia as principais programações do evento. A praça cartunista Afo, era onde ficavam as mesas de autógrafos programadas pela organização, que tiveram entre outros, os autores das Graphic MSP, a americana Gail Simone (Birds of Prey e Secret Six), o americano Jeff Smith (Bone) e o destaque e mesa mais concorrida, Mauricio de Sousa. Ainda na tenda estava o espaço da Gibiteca, que tinha um grande acervo e um local confortável para quem quisesse ler um gibi sem compromisso, matando tempo entre uma programação e outra. Por fim o auditório Matheus Gandara, em que ocorreram as mesas de discussão, palestras, e outras atividades, entre elas os Duelos HQ e os Oubapos, que consistiam em competições e brincadeiras de improvisação entre quadrinistas.
O FIQ, entretanto, é muito mais do que um simples evento de quadrinhos, é uma verdadeira ode a esse meio, que atrai os apaixonados e curiosos e dialoga com eles de várias formas. É praticamente impossível andar pelas mesas dos artistas sem conversar com algum deles, e é nesse momento que se pode fazer amigos (abraço pros amigos do Red Door HQs e do Velociraptor Pirata), contatos, conhecer o tipo de material que só se encontra nesse tipo de evento, etc. No geral, todos os quadrinistas estão dispostos a conversar com os leitores sobre suas obras, impressões do evento, autografar obras (o legal das mesas é que praticamente qualquer compra que se faça já vem com o autor autografando ali na hora), dos mais consagrados até os independentes, as mesas não apenas nivelam todos, como trazem uma proximidade entre artista e leitor que dificilmente pode ser encontrada em outro meio. Mais do que isso, a quantidade de gente fazendo quadrinho autoral e publicando por conta material de qualidade é de brilhar os olhos.
Outro ponto positivo do FIQ é o fato de ele reunir um grande número de apaixonados e pessoas que trabalham com quadrinhos, e isso invariavelmente traz discussões sobre o meio e o mercado, sejam elas programadas ou não. Na noite de quinta-feira, vários quadrinistas, editores, leitores e quem mais passasse por ali, se reuniram do lado de fora, para discutir uma série de pontos pertinentes no meio dos quadrinhos. Entre ele a dificuldade em atrair novos leitores, aumentar o público, distribuição e publicação, bem como pontos mais sérios como formas de organização da categoria e necessidade de fazer a classe política olhar para os quadrinhos, criando políticas públicas que beneficiem a criação e até os financiem (no estado de São Paulo, o Proac tem custeado todo ano projetos que podem ser submetidos à avaliação de um comitê que seleciona os candidatos).A crescente participação feminina nos quadrinhos também foi assunto na roda de conversa, pois as mulheres tem participado cada vez mais do meio, tanto na forma de leitoras, quanto de quadrinistas, sendo este um movimento que não pode mais ser ignorado.
Concluindo, o FIQ e todo evento do tipo é uma ótima oportunidade para quem é fã de quadrinhos, e também para quem não é. Quem quer que vá ao evento, poderá encontrar materiais com temáticas e gêneros que gosta, além de conversar com autores e fazer amigos. Os quadrinhos brasileiros vivem provavelmente seu momento mais criativo em questão de produção, mas infelizmente, muitos desses materiais ainda são limitados a estes eventos de nicho, por isso aproveitem os próximos para ver o que tem sido feito. E em 2016 tem a Gibicon aqui em Curitiba!
Post de @Felipe_Amorim
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