Epístola a Filemon – A absurda revolução sem armas ou força…

O nome Onésimo significa ‘útil’, e o apóstolo dos gentios faz um jogo de palavras: ‘inútil’ versos ‘útil’. Ora, outrora Onésimo como escravo foi inútil a Filemon, porém, agora estava sendo útil tanto ao apóstolo quanto a Filemon, por causa do seu trabalho em prol do evangelho de Cristo (v. 12). Possivelmente Onésimo foi enviado a Filemon de posse desta carta, pois o apóstolo Paulo deixa claro na epístola que enviou Onésimo ainda no corpo da carta “Eu to tornei a enviar” ( v. 11).

Epístola a Filemon

A absurda revolução sem armas ou força…

Em termos bem objetivos, posso afirmar, sem medo de errar, com muito pesar no meu coração, que os evangélicos estão sendo um problema grave na nossa sociedade contemporânea, ao passo que grupos estão se levantando contra os evangélicos de maneira incisiva e com força. Há que advogue tratar-se de um LEVANTE DO INIMIGO contra o povo de Deus, que está apenas defendendo a igreja dos inimigos externos…

Temos em primeira instancia a ingenua ilusão de que de alguma forma poderemos defender DEUS de seu inimigos, como se de alguma maneira 1.) Deus tivesse inimigos páreos a eles. Para Deus, seus supostos inimigos não são nem como ciscos nos seus olhos, pois é de vital importância para a constituição de uma mentalidade cristã efetiva de que compreendamos que DEUS NÃO TEM INIMIGOS e ainda mais, se tivesse, DEUS PERDERIA O STATUS DE DEUS, visto que tem seu lugar ameaçado por alguém e alem disso 2.) se de alguma maneira, houvesse alguma entidade que ameaçasse o a posição desse suposto deus (visto que já compreendemos que um deus ameaçado não é Deus), o que nos leva a acreditar que criaturas como eu e você teríamos capacidade de enfrenta-los? Como já falamos em algumas pregações, o nosso pecado original (nossa herança adâmica) que é o nosso desejo incontrolável de SER DEUS, acaba nos impulsionando para essa “batalha” contra esse “inimigo”, o qual, supondo que pudêssemos vencer, não nos tornaríamos servos de DEUS, mas pela lógica, é DEUS quem deveria ser grato a nós… Nós seriamos deus e Deus nosso servo… O maior de todos os absurdos mas é exatamente a luta na qual a maioria dos cristãos de destaque, sobre tudo na politica, estão lutando… Defender o indefeso Deus contra os terríveis inimigos que apenas nós podemos impedir.

Para tanto, acabam, esses cristãos, a dedicar suas vidas em busca de estratégias para que Deus não seja ameaçado, se envolvendo com a politica, e muitas vezes de maneira honestas a principio, mas que, invariavelmente, resultam em duas possibilidades: Ou o políticos tem seu lado cristão mais forte e acaba compreendendo que não se faz politica para defender Deus e acaba esquecendo essa bobagem ou o cristão tem o seu lado politico mais forte, e esquece por completo qual foi o proceder de Jesus com seus discípulos

Temos que ter em mente portanto que o deus desses homens e mulheres é tão fraco, tão delicado, que é, por vezes, preferível para eles, eleger um novo DEUS e como a nossa hipocrisia não é maior do que a dos fariseus que entregaram Jesus para os romanos por entenderem que o discurso de um carpinteiro que desafiava tudo que os judeus, minuciosamente construirão em 400 anos de tradição, hoje, no seculo XXI, um discurso que ameaça as instituições religiosas tradicionais e tudo que elas representam em termos de segurança para todas as gerações de cristãos que vieram antes de nós, é efetivamente tão grave quanto um judeu no séc. I assegurar a todos que o reino de Deus é dos pobres, dos humildes, daqueles que se entregam e não dos santos, imbatíveis e daqueles sobre os quais não paira nenhuma sobra de duvida no que se refere a integridade moral e espiritual… Pois não são os sãos que precisam de médicos, mas os doentes e posso até não entender qual a doença que tenho, mas posso afirmar que preciso do médico, que não é a IGREJA enquanto instituição, mas o próprio Cristo na comunhão dos irmãos.

É em nome da defesa da instituição e da tradição que os fariseus (alguns fariseus, nem todos eram ruins) entregaram a Cristo rejeitando sua mensagem e é em nome da defesa da tradição e da instituição que hoje, vários homens e mulheres rejeitam novamente o discurso libertário, e subversivo que o carpinteiro de Nazaré declarou a seus amigos/alunos…

As instituições e tradições, que não foram dadas por Deus mas mantidas por homens são colocadas por estes próprios homens num patamar de oposição ao próprio discurso de Cristo, de certa forma, as tradições e instituições de alguns tomam o vulto (imaginário) de inimigos de Deus, a acabam se tornando os ídolos pelos quais lutamos e até tentamos matar Deus para defende-los.

Instituir uma cultura opressora que justifica o machismo, colocando as mulheres como uma segunda classe de seres humanos ou ainda evidenciando a questão da submissão delas no texto do apostolo Paulo como suporte para nossa misoginia ou se utilizar do texto completamente mal interpretado da marca de Caim depois do assassinato de seu irmão para justificar o nosso racimo são atitude que vemos em muitos lugares e que trazem para a Igreja de Cristo um status que é completamente contrário à proposta do libertadora e ati-elitista do evangelho. Usar a bíblia para pregar um anti-evangelho, ou um EVANGELHO do ANTI-CRISTO.

Assim, chegamos ao texto que Paulo escreveu para Filemon em defesa de Onésimo, o qual, muitas vezes é utilizado para acusar o cristianismo de ser uma religião que sustentou a escravidão e também, por muitos cristãos-severamente-equivocados, pois o Apostolo Paulo não liberta o Onésimo, pelo contrário, ele pede para que Filemon o receba novamente, depois de sua fuga e para muitos isso é a prova de que o Ap. Paulo era pró-escravidão, mas como sempre, as acusações são baseadas em avaliações completamente

Onésimo, que quer dizer ÚTIL (e é por isso que o Ap Paulo fica brincando com os termos útil e inútil no inicio da carta) um servo fugitivo e possivelmente vetor de algum prejuízo para seu senhor (visto que Paulo quer pagar o que ele deve a Filemon) se encontrou com Paulo em sua fuga, e este lhe apresentou o evangelho de Cristo assim como havia apresentado ao próprio Filemon tempos antes. Ao compreender toda a questão Paulo escreve uma carta e possivelmente, entrega nas mãos de Onésimo e o envia para seu senhor. A carta, nós conhecemos hoje, e consta no texto bíblico.

Aqueles que se utilizam do evangelho para sanar suas próprias demandas, assim como os que acusam o cristianismo do absurdo de incentivar a escravidão ignoram um ponto vital, o EVANGELHO É LIBERTADOR mas não é um documento feito para legislar a polis, mas para transformar o homem.

Não podemos, fazer leis baseadas nos conceitos religiosos de nossas religiões, pois se o fizermos, qualquer especto da conversão (que é motivada por FÉ e CONSCIÊNCIA) se desmancha em medo da punição e quem trabalha por MEDO da punição não se converteu, não pelo menos, ao Deus dos cristãos, o qual enviou seu filho para se entregar e não para nos ameaçar

É claro que qualquer legislador terá uma base moral na qual se apoiará para fazer suas propostas e tomar suas decisões e inviavelmente, legisladores cristãos terão o CRISTIANISMO (seja lá como for) nessa base moral e necessariamente, todas as suas propostas serão consideradas a partir disso, entretanto, o motivo ao qual estes homens tentam apresentar suas leis não pode ser PURAMENTE religioso se estão representando os interesses de toda uma nação, que não é composta apenas por cristãos. Tentar IMPOR valores cristãos por meio de LEIS é a maior e mais absurda estratégia de se apresentar os valores de Cristo para qualquer pessoa, pois rompe, necessariamente, com a questão chave do cristianismo que é FÉ e CONSCIÊNCIA.

O Ap. Pauo não pediu que Filemon soltasse Onésimo, pelo contrário, pediu para que o recebesse, mas não como um escravo fugitivo, mas como um irmão:

Não já como servo, antes, mais do que servo, como irmão amado, particularmente de mim, e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor?

E vai ainda mais longe:

Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.

Em nenhum momento Paulo tentou intimidar Filemon com sua influencia, em nenhum momento Paulo disse que Filemon tinha que libertar Onésimo, mas do inicio ao fim, o Ap. Paulo escreveu sobre como um homem santo que compreendeu a proposta do evangelho a partir da fé e da conciencia deve tratar o seu próximo, ainda que este próximo seja seu escravo. Não havia qualquer qualquer argumento valido para defender o escravo a não ser um:

Não já como servo, antes, mais do que servo, como irmão amado, particularmente de mim, e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor? Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.

Recebe-o agora, como IRMÃO, mesmo que ainda seja seu escravo, trata-o como teu igual, como teu próximo, co-herdeiro do reino de Deus… Trata-o da maneira como foi tratado por Cristo, mesmo sendo um ladrão e fugitivo, trata-o com misericórdia, trata-o como um amigo.

O discurso do apostolo Paulo não prevê uma lei ou uma intimidação, na verdade, Paulo se ancora pura e simplesmente na fé de que Deus pode fazer tudo oque quiser, e nada do que façamos pode mudar o proceder de Deus por mais influentes e mais poderosos que sejamos e ainda constituí uma regra clara a todos os cristãos, a qual não era novidade, visto que o próprio Cristo nos propõem amar nossos inimigos, nossos desafetos e todos aqueles que não gostamos… Onésimo era um escravo fugitivo e ao ser encontrada tornou-se vetor da liberdade de seu senhor, que agora não tinha mais escravos, mas amigos, Filemon foi liberto de si mesmo ao se tornar escravo de Cristo.

Só até aí!

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