Sobre os atentados envolvendo Israel e Palestina das ultimas semanas

É impossível ignorar o conflito que toma a Faixa de Gaza. Enquanto muito se discute sobre um improvável desfecho para a situação, centenas de pessoas perdem seus bens, seus familiares e a própria vida. De um lado, o Exército israelense, com armamentos sofisticados, garante sucesso de operação na morte de centenas de palestinos. Do outro, a ação de grupos menores ganha forças no rastro do Hamas, que em discurso, ainda promete varrer Israel da terra.

Mas antes de defender ou acusar algum dos lados, é preciso levar em consideração uma série de coisas.intifada2

A Faixa de Gaza formava, historicamente, a Palestina. E apesar da maioria dos moradores serem árabes palestinos, a região já foi dominada por otomanos, britânicos, egípcios e israelenses. O problema que vemos hoje começou em 1967, quando Israel travou uma guerra contra árabes e tomou a Faixa de Gaza. Com todos os indícios de uma ocupação militar, os palestinos que moravam em Gaza foram submetidos a um regime de não cidadania, uma vez que Israel não incorporou a região que é considerada como território ocupado.

Com Israel controlando os acessos terrestres, aéreos e marítimos, os moradores enfrentam uma grave crise humanitária. Sem governo instituído, poucos recursos econômicos, baixa renda, sem segurança jurídica, verdadeiros bolsões de pessoas vivem em situação precária. Esse tratamento já incitou revoltas nos palestinos, o que conhecemos como Intifadas.

O problema poderia ser resolvido se Israel e Palestina concordassem com a política de solução de dois Estados, onde conviveriam pacificamente lado a lado. Porém, nos acordos de paz realizados desde a década de 90, Israel retirou apenas 10 mil judeus que estavam em assentamentos na região. Mas essa realidade não é confirmada, já que as autoridades israelenses ainda não se prontificaram a tirar os 500 mil judeus que estão na Cisjordânia, região de origem palestina.

E foi justamente depois da desocupação de Israel em Gaza que o Hamas apareceu no cenário já conturbado.

O grupo que já existia desde a década de 80, ganhou forças no ano de 2006, depois de vencer as eleições palestinas e derrubar o grupo de maior domínio, o Fatah. O discurso anti-Israel do Hamas conquistou palestinos que não aguentavam mais viver em situações precárias. Logo depois de ser eleito, o Hamas deu um golpe e tomou a Faixa de Gaza, mas o golpe causou esquizofrenia na Autoridade Palestina. Os bombardeios de hoje não são entre Israel e palestinos, mas entre Israel e os palestinos de Gaza, que são comandandos pelo Hamas.

Só que o que é considerado como terrorista pelo Ocidente, é partido político na Palestina. Israel acusa o Hamas de terrorismo. O Hamas acusa Israel de lançar mísseis. Nessa relação, não existem canais diplomáticos que viabilizam conversações, já que nenhum dos dois reconhece o outro como Estado. Israel não negocia com o Hamas. E vice-versa.

Mas Bruna, tem alguém por de trás disso?!

Não é surpresa para ninguém que o governo norte-americano sustenta Israel. Se você fizer uma pesquisa rápida, vai descobrir quanto dinheiro os Estados Unidos investem no país todos os anos. E o apoio já se expandiu para os armamentos, então, Israel tem tudo do bom e do melhor para destruir os mísseis de curto alcance do Hamas.

Por outro lado, o Hamas se vê cada vez mais fraco e isolado. Na época da tomada de Gaza, o grupo era apoiado por um poderoso elo: Irã, Hezbollah e Síria, mas essa realidade já mudou muito. Depois da queda do presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad, que era declaradamente contra Israel, o novo presidente, Hassan Rohani, mudou a política e está se abrindo para conversas com o Ocidente. A Síria quase não tem como mandar dinheiro para o Hamas, já que enfrenta guerra há mais de três anos. O único parceiro forte do Hamas é o grupo terrorista/partido político que atua no sul do Líbano, o Hezbollah. O Egito também era um forte aliado, durante a presidência de Mohamed Mursi. Mas com a Primavera Árabe, a Irmandade Muçulmana foi desconstituída e o novo presidente, Al Sissi, é totalmente anti-irmandade.

E por que não respeitaram o cessar-fogo?

Vi muita gente condenando o Hamas por ter quebrado o cessar-fogo proposto pelo Egito nessa semana. Mas aí quero lembrar uma coisa: do ponto de vista geopolítico, o Hamas está cada vez mais solitário e a situação para qualquer negociação é prejudicial para o grupo. Ao contrário de Israel, que é aliado dos donos do mundo, os EUA.

O Hamas é um grupo extremamente fragmentado. Apesar do líder, Ismail Haniyya, ser super respeitado por todos os palestinos, dezenas de dissidentes já formaram outros grupos independentes do Hamas, como a Frente Popular pela Libertação da Palestina, a Jihad Islâmica, a Brigada dos Mártires de Alá e etc. A maioria desses grupos não obedece ao Hamas e age por vontade própria. Como garantir que os bombardeios vieram do Hamas, que não reivindicou o ato? Difícil, né.

Mas antes de terminar, vale lembrar que o premiê israelense tá misturando as coisas quando diz que Israel está lutando contra uma ofensiva do radicalismo islâmico. Embora o Hamas seja um grupo de origem religiosa, hoje, briga por território. Enquanto Netanyahu usa esse argumento para conquistar o Ocidente, que já está assustado com o terror do grupo fundamentalista Estado Islâmico (antigo ISIS) no Iraque, um conflito sectário e completamente diferente, pessoas são mortas em nome de deus.

Agora resta saber que deus.

Esse texto foi escrito pela Jornalista e minha grande amiga pessoal Bruna Vichi em colaboração ao blog dos crentassos.

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