Sabe-se muito pouco a respeito do profeta Malaquias, pois o livro omite detalhes de sua vida e genealogia tal como Obadias. Talvez o nome Malaquias seja apenas o título do enviado de Javé. No verso 3:1 a mesma palavra Malaquias é usada para descrever a atribuição do profeta e não seu nome. A tradição judaica coloca Malaquias como membro da Grande Sinagoga assim como Ageu e Zacarias. Este conselho foi o responsável por reimplantar e reorganizar a vida social, cultural e religiosa de israel no pós-exílio.
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O profeta Malaquias nos ajuda a entender melhor o contexto social e religioso de Judá após o cativeiro babilônico no início do século V a.C. Sua mensagem contra a idolatria (2:10-12), divórcio facilitado (2:13-16) e injustiça social (3:5) nos remetem à mensagem dos profetas pré-exílicos.
Quanto à integridade, o livro nem sempre foi uma obra distinta. Junto com Zacarias 9 a 11 e 12 a 14, Malaquias 1 a 4 fazia parte dos oráculos proféticos anônimos que estavam associados ao trecho de Zacarias 1 a 8. Apenas mais tarde os documentos que continham os trechos de Zacarias 9 a 11 e Zacarias 12 a 14 se fundiram para formar o livro todo do profeta Zacarias e o trecho de Malaquias 1 a 4 resultou em uma obra separada. Os eruditos chegaram a essa conclusão após analisarem a afinidade das introduções destes grandes trechos proféticos no mesmo período histórico.
O estilo literário de Malaquias com suas breves orações e estilo direto parecem sugerir que houve um período de anúncio oral das profecias antes do registro escrito definitivo.
A posição de Malaquias no cânon cristão não corresponde ao período cronológico, pois os livros de Esdras-Neemias, Ester e Crônicas são posteriores. Com relação à data da sua composição podemos afirmar que Malaquias foi redigido em meados da primeira metade do século V a.C por algumas razões:
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O templo foi reconstruído em 515 a.C. Entretanto, Malaquias denuncia a queda na qualidade do culto que se prestava no templo já reconstruído (Ml. 1:7-14). Portanto, o livro de Malaquias é posterior a 515 a.C.
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Malaquias cita a questão dos divórcios facilitados (Ml. 2:11). Sabemos que Esdras (458 a.C.) se opôs à prática do divórcio dos judeus para se casarem com mulheres pagãs. Como Malaquias cita este problema, supõe-se que Esdras ainda não havia interferido nessa questão.
O século V a.C. estava sob o domínio persa e o texto de Malaquias reflete essa influência quando ele cita “um livro memorial” (Ml. 3:16 cp. Dn. 7:10 e Dn. 12:1) e a expressão “sol da justiça” (Ml. 4:2). O termo “livro memorial” faz parte do desenvolvimento teológico hebraico sobre a vida após a morte, que ganhou notoriedade com o contato do judaismo com a cultura persa após o cativeiro. A expressão “sol da justiça” remete ao deus sol persa, que simbolizava a proteção e vitória nas batalhas. Ao utilizar este termo, Malaquias quis demonstrar que Javé daria proteção e segurança a todos os que o temessem quando visem o fogo consumidor no dia do Senhor.
A condições mencionadas por Malaquias evidenciam que o retorno do exílio não havia inaugurado a era messiânica. Ageu já havia apontado que o Estado davídico restaurado não havia se concretizado sob a liderança de Zorobabel (Ag. 2:20-23). Por isso o povo havia perdido o ânimo e começaram a questionar o amor e justiça de Deus (Ml. 1:2; 2:17). A crença nas promessas de Deus estava comprometida (Ml. 3:14-15), as leis não eram obedecidas e os mais humildes sofriam opressão (3:5); em contrapartida, os ritos religiosos oficiais eram desrespeitados e desprezados (1:7-14; 3:7-12).
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Estrutura de Malaquias
O livro de Malaquias divide-se em argumentos da seguinte maneira:
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Introdução: O mensageiro (1:1)
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Primeiro argumento: Javé ama Israel (1:2-5)
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Pergunta: Como o Senhor nos tem amado?
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Segundo argumento: A infidelidade dos sacerdotes (1:6 – 2:9)
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Pergunta: De que maneira desprezamos o seu nome?
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Terceiro argumento: A repreensão dos infiéis (2:10-16)
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Pergunta: Por quê?
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Quarto argumento: A justiça de Javé em seu julgamento (2:17 – 3:5)
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Pergunta: Onde está o Deus da justiça?
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Quinto argumento: Arrependam-se (3:6-12)
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Pergunta: Como voltaremos?
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Sexto argumento: A justiça de Deus na restauração (3:13 – 4:3)
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Pergunta: O que temos falado contra ti?
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Epílogo: Lembrem-se de Moisés e Elias (4:4-6)
O estilo usado por Malaquias difere dos demais profetas, pois, ao invés de utilizar a fórmula tradicional dos profetas, “assim diz o Senhor”, o texto está estruturado com frases diretas em primeira pessoa em seis oráculos com dez perguntas e respostas. O padrão das perguntas e respostas segue o modelo abaixo:
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Declaração de uma verdade;
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A resposta do público
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A tréplica do profeta reafirmando a verdade dita no início
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Afirmações finais
Malaquias segue o padrão literário encontrado em pequena escala em outros profetas:
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Isaias: 40:27-28;
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Miquéias: 2:6-11;
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Jeremias: 2:23-25, 29-32; 29:24-32;
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Ezequiel: 12:21-28
Este modo de expor os oráculos contribuiu para o desenvolvimento do tema da Aliança de Javé com seu povo, criando inclusive o modo como as escolas rabínicas passaram a ensinar seus alunos, chamado método de ensino dialogal que foi também utilizado por Jesus no sermão do Monte (Mt. 5:21-27).
O quadro abaixo mostra o esquema geral dos argumentos apresentados por Malaquias:
Primeiro argumento: 1:1-5 |
Amor incondicional de Javé por Israel baseado em Deuteronômio 7. Este amor incondicional gerou a eleição de Jacó. |
Segundo argumento: 1:6 – 2:9 |
A falta de amor de Israel por Javé se manifestou na falta de critérios na realização do culto que deveria ser prestado. O padrão deuteronômico (Dt. 14:23; 33:10) para os sacerdotes foi ignorado. |
Terceiro argumento: 2:10-16 |
A quebra do primeiro mandamento manisfestou-se na união com pessoas pagãs e passaram a adorar outros deuses. Essa atitude teve como consequência a quebra do sétimo mandamento ao se divorciarem se suas esposas para aderir ao casamento pagão. |
Quarto argumento: 2:17-3:6 |
De acordo com a visão do povo, Deus não se importava mais com a justiça na terra. Entretanto Deus iniciaria a justiça mandando um mensageiro do fim dos tempos que prepararia o caminho para a vinda de Javé entre seu povo. |
Quinto argumento: 3:7-12 |
A crise era tempo de se apegar ao pouco que tinham. Deus queria ensiná-los a não depender dos poucos recursos materiais, mas queria que o povo se entregasse totalmente a ele. |
Sexto argumento: 3:13-15 |
Qual era a necessidade da adoração a Javé. A confiança em Javé é trocada pela dúvida da existência. |
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Propósito e conteúdo
Malaquias aborda os seguintes temas:
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A adoração sincera a Javé
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Os justos e ímpios serão atingidos pelo Dia do Senhor
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A fidelidade no casamento
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O anúncio do Dia do Senhor
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O divórcio
Malaquias é contundente com relação ao relacionamento entre os hebreus e a Aliança com Javé. Malaquias cita os desdobramentos da aliança ao mencionar a aliança de Levi (1:6 – 2:9), a aliança dos pais, o pacto cerimonial (2:10-16) e o mensageiro da Aliança.
Para Malaquias o arrependimento incluía as seguintes ações práticas:
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Purificação do sacerdócio corrupto
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Adoração sincera e não rituais mecânicos
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Reparação dos excessos nos dízimos e sacrifícios que aconteciam no templo
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Restauração das famílias
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Prática da justiça social como um dos fundamentos da Aliança
O precursor
Embora Isaías diga algo a respeito do precursor do Messias(Is. 40:3), a ideia de que Elias seria este precursor é exclusiva de Malaquias (Ml. 4:5). este conceito desenvolveu-se durante todo o período dos macabeus e o Novo Testamento associa Elias com João Batista (Mt. 11:7-15).
Inclusivismo e exclusivismo
Na Bíblia temos livros como Esdras, Neemias, Ageu e Zacarias 1-8 que se colocam contra a inclusão de estrangeiros na comunidade pós exílica. Em contra partida, livros como Malaquias, Isaías 56-66, Rute e Jonas mantém uma postura inclusivista com reação aos estrangeiros na comunidade pós cativeiro.
Conquanto as duas posições estejam em tensão, podemos conciliá-las, pois ambas são palavras de Deus, mas dirigidas a grupos distintos. Quando a Bíblia ordena a exclusão dos estrangeiros, está, na verdade, condenando o sincretismo religioso. Este foi justamente o problema que levou Israel ao exílio, quando permitiu que práticas pagãs de idolatria e injustiça fizessem parte do dia a dia da nação. Era preciso cuidado para que estas práticas não corrompessem novamente a nação que se recuperava do cativeiro.
Por outro lado a Bíblia também ordena que os israelitas recebessem todos os estrangeiros, pois eles mesmos foram estrangeiros em terra estranha. A Bíblia sempre se coloca ao lado dos excluídos e marginalizados que não encontravam amparo nas estruturas de poder e que passaram por algum tipo de injustiça, pois olhariam para Javé na esperança de um futuro melhor (Ml. 1:11, 14; 2:10). É fundamentada na esperança de um mundo melhor que nasce a literatura apocalíptica onde Javé promete restaurar todas as coisas.
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