Eu apoio Sheherazade

Sheherazade está certa. Sim, está certa.

Nós deveríamos sim, adotar um bandido.

(Ela também, já que ela se diz cristã. Mas isso é melhor falar baixo, sussurrando, não quero deixar ela embaraçada, não.)

Como Tiago nos lembra no seu livro no Novo Testamento da Bíblia cristã, nossa religião é cuidar dos orfãos e das viúvas, religião esta que já está prevista na lei do Antigo Testamento e é lembrada incansavelmente pelos profetas (ou seja, está na Bíblia inteira).

Se você se pergunta o que isso tem a ver com a adoção de bandidos questiono-o com muita educação: quem são os orfãos de nosso tempo senão as classes mais baixas constantemente ignorada pelos governantes de nosso país?, quem são os orfãos senão aqueles que o Estado simplesmente não se importa, um cidadão cujos governantes ignoram sua existência, uma classe marginalizada e odiada por seu pai Estado e seus irmãos com melhores condições das classes mais altas?

Por isso alerto, ouçamos a colunista com opiniões de humorista e adotemos aqueles que não tem as oportunidades que tivemos. Tragamos eles pras nossas casas, nossas empresas, nossas escolas (que também já não são lá grandes coisas, mas…). Eles precisam de todo tipo de alimento e todo tipo de remuneração: precisam de comida, dinheiro, roupas, conhecimento, honra, auto-estima, aceitação, fé, esperança, amor. Tudo o que temos sobrando (podemos até achar que faltam coisas nas nossas casas, mas, se pararmos de mentir pra nós mesmos, veremos que nossa situação é pra lá de confortável).

Alerto mais uma vez, ouçamos o conselho da âncora de jornal televisivo com sobrenome de musa das 1001 noites e ignoremos esse governo que está ocupado demais com sua própria agenda. Ficamos aí “batendo palma pra Jesuis!!!” enquanto os morros são invadidos por mãos que carregam armamento pesado. Chega de esperar que o governo faça alguma coisa quando temos todas as ferramentas nas mãos. Se a corrupção deles é tão inaceitável, porque ainda se dá tanta atenção pra eles? É o fato deles ignorarem as classes mais baixas que faz com que alguns roubem e matem por falta de esperança; são eles, os governantes, que investem em armas quando o que falta é atenção e inteligência; são eles que trazem discursos em seus palanques distantes quando um povo anseia por carinho e atenção.

Nos faltam praças, parques, bibliotecas e centros culturais que poderiam muito bem terem sido contemplados em qualquer estádio que a FIFA exigiu do nosso país. Mas se não há interesse político em trazer cultura praqueles que precisam, esse interesse pode (e deve) ser nosso. Podemos abrir nossas portas e receber nossos irmãos pra gente ler, cantar e contar histórias juntos (e essas histórias não precisam se limitar a nossa sub-cultura cristã, né?, já estamos crescidinhos pra saber o que é bom).

Adotemos nós todos aqueles que nosso Estado brasileiro fez questão de ignorar. Abracemos aqueles que estão sendo expulsos de suas casas porque certas prefeituras não querem que os gringos vejam o abismo entre mais ricos e mais pobres que é regra em nosso país. Lembremos daqueles que o Estado só lembra (de esconder) quando quer mostrar pro mundo o quão (falsamente) evoluídos somos.

Chega de exigir e reclamar, é tempo de fazer.

Encerro lembrando daquilo que eu e Sheherazade temos em comum: a fé, a fé no Deus que se fez homem, naquele que não só acredita na criação que se rebelou contra Ele, como se vestiu de criatura pra poder salvá-los deles mesmos; daquele que veio para que todas tenham vida e vida em abundância; daquele que é a misericórdia encarnada, que abre mão da justiça irrestrita e passa a justiça pelo amor, mesmo quando ninguém merece nada disso. Aquele que ignorou todo o mal que prevalecia no mundo e trouxe fé, esperança e amor com suas próprias mãos (e sangue).

 

Kyrie eleison.

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