Deus dos lugares inesperados

seleção-header2Dia atrás estava com minha esposa voltando de carro para nossa residência quando fomos surpreendidos por uma tempestade. Foram aproximadamente 20 minutos vendo seus olhinhos assustados enquanto pulava no acento do carro cada vez que um raio cortava os céus. Enquanto dirigia pensava no poder destruidor de uma descarga elétrica destas proporções e me questionei no porque de haver algo tão destrutivo na natureza. Pode parecer contraditório que algo tão destrutivo tenha um papel fundamental para perpetração da vida, mas quando corta os céus aumentando a temperatura por onde passa para aproximadamente 30.000 °C o raio queima e funde substâncias importantes para a nutrição dos vegetais. Sem tais tempestades seria muito diminuta a presença de certos tipos de nitratos importantes para a vida. Usando uma ótica forçada à benevolência concluiria que, de certa forma até mesmo os raios fazem parte do “cuidar” de Deus para como homem, pois nutrem seu solo e garantem a abundância de alimentos.

Quando penso sobre esta presença divina nos lugares e coisas mais inesperadas lembro-me de ter lido em meados de 2005 a história de Joanna, uma mestiça de branco e negro, categoria conhecida como coloured (ou seja “de cor”) nascida na África do Sul. Como estudante ela foi agitadora, pedindo mudanças no Apartheid e depois viu o milagre que ninguém previa, o desmantelamento pacifico daquele sistema perverso. Posteriormente acompanhou com seu marido a transmissão ao vivo da Comissão de Verdade e Reconciliação.

Em vez de exultar com a liberdade recém-conquistada, Joanna logo decidiu se ocupar da prisão mais violenta da África do Sul, onde o próprio Mandela passara vários anos. Membros de gangues com o corpo coberto de tatuagens controlavam a prisão e impunham a novos presos uma regra rigorosa, exigindo que atacassem prisioneiros indesejáveis para manter a integração ao grupo. As autoridades faziam vista grossa, deixando que aqueles “animais” se espancassem e se matassem.

Sozinha Joanna começou a visitar diariamente as entranhas daquele cárcere. Ela trazia uma simples mensagem de perdão e reconciliação, tentando pôr em pratica uma escala menor do que Nelson Mandela e o bispo Tutu procuravam fazer a nível nacional. Organizava pequenos grupos, ensinava-lhes jogos de confiança, conseguia que os presos revelassem detalhes horrendos de sua infância. Um ano antes de ela iniciar suas visitas a prisão contabilizava 279 atos de violência; no ano seguinte só ocorreram dois. Os resultados obtidos por Joanna foram tão impressionantes que a BBC enviou de Londres uma equipe de filmagens para fazer dois documentários sobre o trabalho dela, cada um de uma hora de duração.

Certa vez ao ser questionada sobre os detalhes da transformação ocorrida naquela prisão ela simplesmente disse: “Bem, é claro que Deus já estava presente na prisão. Eu só precisei torna-lo visível”

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