Vazio Ø

Era uma vez um cara vazio. Tinha o peito vazio, mas não sabia exatamente o que poderia preencher no lugar. Andava vazio, sorria vazio, falava vazio e se sentia vazio, por onde quer que fosse. Via o vazio também. Em tudo.
Um dia, esse cara vazio olhou para sua TV vazia e seu vazio se remexeu por dentro. Viu vários outros caras na rua, gritando. Ele resolveu ir ver com seus próprios olhos.
Foi gritar com eles. Bradar com eles. Ergueu suas faixas e se pedissem, poderia até bater com eles. No calor do momento, sentiu-se quase cheio. Quase alegre. Quase vivo.
Mas depois cada um ia pra sua casa.
Então ele percebeu que havia muitos outros caras vazios como ele à sua volta. E que, afinal, cada um gritava pelo seu vazio, na ânsia doida de se preencher. Encher-se era momentâneo ou talvez ilusório. A busca frenética e imperativa era o encher-se.
Ele sabia que nem todos eram vazios. E que alguns não tinham a noção de estarem vazios. Começou a se perguntar o que era pior: os cheios que não se importavam em encher ou os vazios que se diziam cheios. Pensar nisso o enchia… do mesmo vazio.
Mas, afinal de contas – se perguntava – será mesmo que existem os cheios? Seriam eles diferentes? Poderiam os caras serem todos iguais? Todos vazios? O que será que poderia preencher?

Vazio 30.06.13
Se o nosso personagem algum dia finalmente se encheu, não sei. Muito menos saberia lhe dizer cheio do quê. Só sei que se fosse de água da vida, nunca mais estaria vazio.
Esse cara pode estar do seu lado. Numa marcha, num protesto, numa multidão, no ônibus, sentado no banco ao lado. Esse cara pode ser você também.
A única coisa que quero é que se eu estou mesmo cheia, que eu possa encher você também. Encher daquilo que dá vida.

Fiquem na paz!

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