Estudando a Bíblia Corretamente

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Que tal nesse novo ano que se inicia você se aplicar mais a estudar a Bíblia? Isso mesmo. Ler bastante, de capa a capa, tentando entender o que ela diz. Tem coisas nela que não estão muito claras, por isso muita gente interpreta diferente e quebra o pau com os outros que interpretam diferente deles, outras coisas estão super claras, mas a natureza humana é tendente à auto-afirmação e mesmo assim se quebra o pau e se interpreta diferente até naquilo que está claro.

A Bíblia é a Palavra de Deus, o conteúdo dela não é coisa desse mundo, é somente pela inspiração divina que se entende que autores separados por distâncias geográficas e de milhares de anos de tempo entre eles possam escrever uma biblioteca de livros tão concorde e harmoniosa entre eles e por isso se crê nela como palavra de Deus, por isso perfeita, isso não é possível fora da inspiração divina. Por isso muito elabora teorias de conspiração para tentar explicar e negar a Bíblia como a Santa Palavra de Deus, como a mais popular entre elas, que diz que a Igreja Católica Romana que produziu a Bíblia e esconde os originais dela, ignorando os cristãos orientais e africanos, como os coptas, que sempre estiveram separados do poder romano e têm o mesmo conteúdo que nós, apesar de canons diferentes. Mas, deixando teorias de conspiração para lá, se você crê, ou não crê, na Bíblia como Palavra de Deus, e quer entender melhor o conteúdo doutrinário dela, se aplique a ler. Adquira uma. Hoje há até vários aplicativos de celular, para qualquer plataforma (iOS, Android, Windows Phone, etc), com todos os tipos de traduções em português disponíveis. É super fácil ter e ler uma.

Uma das maneiras, aliás, a PRINCIPAL maneira de se interpretar a Bíblia é com ela mesma. Ou seja, você lê uma passagem, se um versículo, capítulo, ou livro inteiro, e compara com outra passagem da própria Bíblia para entender o que aquilo diz. Pela falta desse método interpretativo que vemos pregadores na televisão tirando passagens de seus contextos para extorquir dinheiro do povo, dizendo que é Deus que está mandando a pessoa doar seu suado dinheiro para sustentar aquela megalomania, e desobedecer o apelo por dinheiro ali é desobedecer o próprio Deus. É pela falta deste método interpretativo que vemos bizarrices, como no caso do religioso que transou com uma fiel de sua igreja, casada, dizendo que Deus havia mandado que ele adulterasse; é pela falta desse método interpretativo que vemos falsos mestres na internet enganando sua audiência dizendo que “Jesus é a chave hermenêutica da Bíblia”, mas querendo dizer que a opinião particular dele é que é a chave hermenêutica interpretativa, pois Jesus se dá a conhecer pela experiência, mas só pode ser entendido corretamente pela Palavra dEle, a Bíblia, não pelas barbas de um falso mestre arrogante do youtube. Enfim, falta esse método principal de se interpretar a Bíblia na maioria das mentes cristãs brasileiras. Nosso país é tão místico e icônico que sempre buscamos interpretar as coisas pelas nossas próprias experiências, ou buscamos ícones que nos digam como agir diante das coisas, incluindo aí a maneira de relacionar com Deus.

Dentro dessa maneira de se entender a Bíblia, podemos dividir a Palavra de Deus em duas sessões, Lei e Evangelho.

É muito esclarecedor estudar a Bíblia usando a separação entre Lei e Evangelho, que não são coisas opostas, mas complementares, porém a Lei fala das obras humanas e o Evangelho da obra de Deus. A Bíblia diz que os pensamentos e obras de Deus são infinitamente mais altos que os nossos, por isso essa distinção é fundamental.

Essa doutrina de separação entre Lei e Evangelho é muito mais cristalina que ler a Bíblia achando que “acabou a época da Lei e he estamos na época da graça”, como pensa a maioria dos evangélicos, pensamento que é conhecido como “Dispensacionalismo”, e que flerta bem de perto com o Marcionismo, seita da primeira era cristã que dizia que o Velho Testamento era sem valor e apresentava Deus como mau e brutal, sendo que somente o Novo Testamento apresenta Deus como Ele realmente é.

Hoje há também a moda dos “reformados”, pessoas que adotam o calvinismo como pensamento, mas geralmente adotam uma versão diferente da histórica, mais inspirada na interpretação atual da cultura puritana anglo-americana do século XVII e XVIII, interpretação essa que geralmente não filtra as coisas erradas que eles também fizeram, apensar de terem feito coisas muito boas também, mas fecham os olhos para o legalismo exacerbado que muitos puritanos tiveram, que causou a morte de muitos inocentes em “cumprimento à Lei de Deus”, colaborou com a escravidão nos EUA, a segregação racial e outros erros em nome da “Lei de Deus”.. Como pano de fundo da super valorização da “Lei de Deus”, está a “teologia do pacto”, de fusão entre Lei e Evangelho numa coisa só, (que não ensinava essa super-valorização originalmente, Calvino também trabalhava buscando a correta distinção entre Lei e Evangelho,acreditando que as duas coisa culminariam numa coisa só, apesar de diferentes, na salvação ou condenação do homem, muito foi escrito por ele sobre esse assunto, sendo alterado depois por alguns e interpretada de maneira mais extrema entre muitos puritanos) defendida por muitos puritanos e por nomes de hoje Paul Washer e outros.

Eu também acreditava nisso antes e tinha muita dificuldade de explicar isso para as pessoas. Esses dias um amigo me perguntou sobre isso e me pediu livros de autores luteranos ou de reformados que explicassem melhor essa doutrina, como a maioria dos que tenho está em inglês, pedi para ele ler Gálatas, Romanos e Hebreus. Pronto, só com a Bíblia ele entendeu, não foram necessários livros extra-bíblicos para isso, porque é uma doutrina puramente bíblica.

É uma pena que isso tenha se perdido no protestantismo histórico; no meio reformado, Calvino, Spurgeon, Lloyd Jones e outros reformados históricos tb defendiam isso; no luteranismo tb houve uma queda desse conceito, só que bem menos acentuada, sendo reavivada fortemente pelo teólogo C.F.W. Walther e permanecendo até hoje no pilar do pensamento luterano.. Pena que no evangelicalismo de hoje essa doutrina foi substituída por variações pactuais, dispensacionais e etc..

A Lei revela o caráter de Deus e o que Ele exige de nós, sob ameaças de punição para freio de nossos impulsos pecaminosos, também serve como orientação ao cristão regenerado que quer seguir a Cristo da maneira que Deus quer, também nos mostra como somos pecadores, já que é impossível para o homem cumprir a Lei de Deus. Se houvesse só essa doutrina, estaríamos todos perdidos, pois pela Lei somos avaliados e condenados.

Mas há outra doutrina, graças a Deus, a do Evangelho, que fala do perdão e da aceitação de pecadores como nós da parte de Deus e usufruímos desse privilégio somente pela fé, já que pelas nossas obras da Lei Deus somente se irritaria conosco, mas pela obra de Jesus, pelo Evangelho, somos aceitos, perdoados, regenerados e nossa mentalidade é transformada num processo que só terminará na outra vida.

Isso não dividido em “Velho Testamento” e “Novo Testamento”, mas nas duas sessões da Bíblia você encontra promessas e ameaças, a Lei fazendo ameaças visando seu bem, para você não pecar e não sofrer as consequências do seu pecado, por isso a Lei te põe um freio nos seus impulsos mais vis e pecaminosos, te mostra que você é pecador, pois você não conseguirá cumprir as orientações da Lei e verá que é merecedor das punições ameaçadas pela Lei e orientação, para você guiar a sua vida, ir e buscar não pecar mais. O Evangelho promete. Todas as promessas de Deus para você são o evangelho que Jesus veio ensinar, que já estavam no Velho Testamento, e Ele veio explicar no Novo Testamento, te prometendo perdão, novo nascimento, uma segunda, terceira, quarta, quinta, quantas chances para começar de novo você precisar, te prometendo vida em abundância, te prometendo paz, alegria e a salvação que Ele conquistou na cruz para você.

Tendo esse pilar de entendimento das Escrituras em mente, o avivamento vem e pode se espalhar ao próximo, pela ação do Espírito, se a Liberdade e o Amor, enfim, o Evangelho for maior em nós que a condenação e a exclusão da Lei.

Um feliz estudo da Bíblia em 2014!

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