Diálogo inter-religioso, isso é possível?

Diálogo Inter-religioso

O diálogo inter-religioso

Introdução

Diálogo inter-religioso. Essa expressão no meio evangélico gera ao menos duas reações básicas:

a)      Jamais. Tenho minha verdade e dela não abro mão.

b)      Como? Tenho medo de perder os princípios fundamentais da minha fé.

Em virtude dessas duas reações principais, os cristãos reagem das seguintes maneiras respectivamente:

a)      Trava uma espécie de guerra santa com todos. Não importa se cristãos ou não cristãos, desde que que sua fé esteja protegida; afinal temos que batalhar pela fé que foi dada de uma vez por todas aos santos, não é mesmo? (Judas 3)

b)      Não se envolvem, pois preferem o conforto de uma fé apática e estática; afinal já estão salvos mesmo.

Estas são duas reações extremadas à pós-modernidade; mas, em vez de apontar os efeitos negativos da pós-modernidade, quero mostrar um dos pontos mais positivos dessa época: o diálogo.

Ao contrário do que muitos cristãos pensam, estabelecer uma ponte de diálogo não é abrir mão dos seus pressupostos de fé. É como criar uma ponte. Não há como construir uma ponte entre dois extremos se os fundamentos forem removidos, não é mesmo?

Jesus, o construtor de pontes

Todas as vezes que Jesus compartilhou as verdades do Reino de Deus, que eram absolutas quando comparadas com a realidade humana, nunca usou de expressões duras, humilhou seu público ou pretendeu defender qualquer coisa.

Isso mesmo. Jesus, quando tratou com os pecadores que nada sabiam acerca do evangelho, jamais se colocou em uma posição defensiva nem travou uma guerra santa com eles. Mas, com toda mansidão expôs as verdades eternas, conquanto tenha também exigido uma mudança de atitude do seu interlocutor. Entretanto essa exigência nunca foi feita com intransigência, bem diferente da maneira como é feita por alguns cristãos hoje em dia.

O fato de conhecer a verdade não dá o direito ao cristão de ser intolerante, agressivo ou mesmo odioso com aqueles que não abraçaram a fé cristã. Por mais que digam defender os valores da família, da igreja ou qualquer outro princípio religioso, ético e moral a atitude beligerante de muitos cristãos, ao defender e explicar a sua fé, passa por cima do principal fundamento do cristianismo: o amor.

Paulo, o dialogador

Quando esteve em Atenas, o apóstolo Paulo passou por uma experiência muito desafiadora. Ao passar pelo panteão grego, Paulo quase teve uma síncope nervosa (Atos 17:16). Como bom judeu que era, Paulo tinha grande aversão à imagens e esculturas de deuses.

Entretanto, ao invés de mandar todos os atenienses para o inferno e condená-los por suas práticas idólatras, preferiu a opção do diálogo quando começou a falar “Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos…” (Atos 17:22).

Paulo conhecia a verdade, e aproveitou a religiosidade dos gregos para abrir um caminho de diálogo para a demonstração da veracidade da fé cristã. Que grande lição Paulo demonstra aos defensores da família, da Igreja e aos apologetas de hoje. Nenhum xingamento, nenhuma afronta, e Paulo nem vivia na pós modernidade!

Paulo dá uma aula de tolerância e respeito ao mostrar a verdade absoluta da fé cristã sem desmerecer a religiosidade daqueles que ainda não conheciam essa verdade.

A guerra santa

Entendo que, os cristãos, de modo geral, queiram ver a fé cristã entranhada à sociedade. Contudo, o fazem da maneira incorreta ao meu ver. Querem converter as pessoas à força, querem aplicar o versículo de Judas 3 de forma descontextualizada.

O verso de Judas 3 se aplica a um contexto de heresias surgindo dentro da Igreja.  Portanto, a batalha a favor da fé surge no contexto interno da Igreja e não fora. Ademais, todas as contentas e batalhas de Jesus e Paulo, sobre as questões verdadeiras do Reino de Deus, foram contra os religiosos. Portanto, dentro do contexto eclesiástico, podemos e devemos nos posicionar contra todos aqueles que, advogando ter a verdadeira mensagem, a corrompem em prol de seus próprios interesses. Logo, todo aquele papo de ir “contra o ungido do Senhor” se desfaz diante desse argumento.

Em tempo: a defesa da fé, fora da Igreja, deve ser feita com mansidão conforme nos orienta o apóstolo Pedro (1 Pe. 3:15). O detalhe primordial neste trecho que é a resposta com mansidão deve ser apontar para a esperança e não para a condenação, embora faça parte da mensagem do evangelho.

Conclusão

Nós, os cristãos devemos apresentar a verdade do evangelho com respeito e sem arrogância. Agindo assim as pessoas vão no mínimo, nos ouvir. Se não mudarem de atitude, ou não forem convertidas, isso é outro departamento, que, a propósito, não é o nosso, mas de Deus.

O problema é quando queremos ser taxativos e fazer as pessoas engolirem o evangelho à força. Neste caso creio ser um pecado, pois tomamos o lugar do Espírito Santo.

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