É uma pena

Ela sonhava em voar. Só conseguia em seus sonhos. Ansiava por asas. Sentia o cheiro do céu. Podia, ao fechar os olhos, até sentir a liberdade do vôo. Sem amarras na terra, o vento no rosto e o frescor por todo o corpo. Alguns sonhos, de tão reais, a faziam cair da cama. Ela podia subir bem altão e de lá observar as gentes pequeninas como formiguinhas em suas vidinhas preocupadas, quadradinhas e monótonas.

Ela não. Não conseguia se contentar. Era o seu maior desejo, ser tão leve quanto o ar. Ia dormir com o coração certo de que acordaria nas nuvens. O sono, seu aliado, a levava até onde queria. Imaginava. Era tão bom! Sono acabava, manhã chegada e nada mudava. Era outro dia, quase só a esperar seus sonhos para, enfim, poder voar, ganhando o céu, sua paixão.

Foi então, que depois de muito desejar, olhou pro azul noturno e se fixou numa bonita estrela. Era um milagre (só podia ser!), a estrela a entendia. Disse-lhe:
– Bela menina, não se inquietes mais! Eis que agora tu me encontrastes. Serei tua amiga e companheira. Ensinar-te-ei sobre um vôo que nunca mais desejarás outra coisa, pois disto que falo não há igual! Feche teus olhos e descanse. Velarei o teu sono todas as noites, como já faço sem saberes. Em teus sonhos te ensinarei o que é voar e de agora em diante voarás sobre o tempo, dia e noite.

Mas ela disse não. Persistindo em seus anseios, frustrava-se sempre mais. Finalmente cresceu e se esqueceu da estrela. Aí, já era tarde demais.

É uma pena Fiquem na paz!

 

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