É interessante o gosto que as pessoas nutrem por tentar “prever” o futuro, ao que parece, desde o signo do horóscopo, passando pelos rituais de fim de ano, as tendências das modas, as “profetadas estrambóticas” tradicionais das mais diversas até as mais “avivadas”, especular sobre o futuro, para alguns, só perde para o gosto duvidoso de acompanhar pela televisāo o que algumas pessoas reclusas farāo ou deixarāo de fazer para sacanearem umas as outras no jogo televisivo milionário chamado “grande irmāo”.
Considerar as outras pessoas com respeito e atenção desejada para si mesmo, em um sistema invidualista e consumista parece ser cada vez mais difícil mesmo. Mas prever o futuro, e acertar alguns prognósticos, nāo é algo tāo difícil. Ao contrário do que talvez a maioria dos futurólogos pensem, para prever o que vai acontecer, não se olha para frente, no indefinido mundo do que virá, mas para o passado, no definido mundo do que já foi. É preciso somente dar uma espiada em direçāo à história recente. Nāo que a história se preste para “adivinhar” o futuro, longe disso, mas se há situações que se repetem como enormes piadas, sem graça, outras (re) acontecem em forma de grandes tragédias. O Deslizamento em Santa Catarina em 2008 em que cerca de 130 pessoas foram soterradas. O Morro do Bumba, que era um lixão aterrado, obviamente um terreno impróprio para habitaçao, veio à baixo em 08 de abril de 2010 matando cerca de 200 pessoas. Estas situações desesperadoras aconteceram em um passado recente, e antes delas, em um passado um pouco mais distante, várias situações semelhantes, e antes, outras …e outras… até hoje em que as chuvas de todo janeiro voltaram a cair no Rio de Janeiro, mais gente morreu. Mas não foram as águas que fizeram suas vítimas, pessoas não são vítimas das chuvas, como insistem alguns em desresponsabilizar autoridades públicas e por extenção algumas eclesiásticas bajuladoras, e nem vítimas de si mesmas como insistem outras, como se a tensão em morar em local sujeito à deslizamentos fosse uma opçāo e nāo um último recurso frente a especulação imobiliària que inflaciona imóveis e expulsa trabalhadores de baixa renda cada vez para àreas de menor condição social. Neste contexto, aparecem alguns espertalhões politiqueiros trocando direitos estabelecidos por supostos favores políticos prometidos, em algumas situações àgua, luz, asfalto, saúde, transformam-se em moeda de troca em época de eleição, contraditóriamente migalhas que caem da mesa de quem alimenta grandes empreiteiras, construtoras, imobiliárias e que em todo janeiro aparecem endiabradamente “transtornados” com as tragédias. Políticos oportunistas que de forma hipócrita agora querem posar de “cuidadores”, quando na verdade nunca exerceram a mais simples prevençāo em forma de política pública habitacional que de fato sirva para o ser humano e não para as grandes lucratividades.
Neste momento, há que se exaltar as pequenas grandes atitudes de pessoas e instiuições que de forma ou outra tentam minimizar com atitudes concretas este tipo de tragédia, mas será que já não passou o momento de a história recente fazer algum sentido para pelo menos não se repetir em forma de tragédia? Quais destas instituições (entre elas várias igrejas) apoiaram nas últimas eleições candidatos que alimentam a expeculação imobiliária no mais torpe “voto de cajado” em troca de pequenos favores para os eclesiásticos do “templo”? Agora é o momento da ajuda humanitária, como muitas já o fazem e não de guardar água mineral doada e vendê-la posteriormente para ajudar na “construção do templo”. Situação bizarra que pessoalmente presenciei.
Igreja relevante não é apenas aquela que tem seus membros fiéis trabalhando desesperadamente na ajuda por salvar vidas soterradas pelas enchurradas, lama e sujeiras, mas principalmente a que influencia seu meio a ponto de não se vender e impedir que o interesse de poucos se sobressaia sobre o de muitos, não é tanto a que resgata vítimas mas a que impede que elas aconteçam. Zeca Pagodinho não é suficiente.