Introdução ao Livro Lamentações de Jeremias – Chora Israel
O nome Lamentações vem da tradução da Bíblia para o latim: a Vulgata. O título hebraico é ‘ekah, derivado das primeiras palavras dos capítulos 1, 2 e 4. Este termo era usado nas canções fúnebres e significa “como”. Podemos verificar seu uso em 2 Sm. 1:19, quando Davi chora a morte de Jônatas dizendo: “Como caíram os guerreiros!”
O livro está em forma poética, organizado em um acróstico alfabético. Os cinco capítulos equivalem aos cinco poemas.
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Lamentações deve ser lido todos os anos no nono dia do m6es de Abe, como recordação da destruição do Templo de Jerusalém por Nabucodonosor em 587 a.C. e por Tito em 70 d.C.
Foi composto provavelmente entre a destruição do Templo em 587 a.C. e a libertação do rei Joaquim da prisão na Babilônia em 562 a.C. (2 Rs. 25:27-30). O desespero demonstrado nos versos finais do livro (5:19-22) parecem indicar que o autor não tinha conhecimento sobre a libertação de Joaquim e o cumprimento das profecias de Jeremias acerca da restauração de Israel (Jr. 30-33).
O livro é uma reação da alma sobre a destruição de Jerusalém pelo exército babilônico em 587 a.C. O registro histórico dessa destruição está em 2 Rs. 24 e 25 e 2 Cr. 36. Durante dois séculos os profetas procuraram alertar a nação de Israel sobre o julgamento iminente, entretanto os ouvidos do povo se acostumaram com as ameaças e seu coração endureceu-se. Em virtude da demora no julgamento, o povo ficou com uma falsa impressão de segurança (Jr. 6:13-14; Jr. 7:1-4). O livro mostra de maneira poética o horror que a invasão babilônica representou para o povo hebreu e como Javé tornou-se como um inimigo de Israel (Lm. 2:2-5).
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Estrutura de Lamentações de Jeremias
O livro de Lamentações de Jeremias está estruturado da seguinte forma:
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Pranto pela cidade fantasma – 1
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Pranto pela ira da Javé manifestada em Jerusalém – 2
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Um canto de esperança – 3
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O caos de Jerusalém – 4
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A desgraça e a restauração – 5
Conforme a lista acima Lamentações é composto de cinco poemas. Os poemas contidos nos capítulos 1, 2 e 4 são canções fúnebres que começam com a interjeição “como” (‘ekah). Os outros dois capítulos são poemas de pranto individual e coletivo, os capítulos 3 e 5 respectivamente.
Conforme exposto anteriormente, os poemas em Lamentações são acrósticos alfabéticos, seguindo as vinte e duas letras do alfabeto hebraico. Há ao menos três benefícios para disposição dos lamentos no formato acróstico:
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Facilita a memorização da catástrofe que se abateu em Jerusalém. O povo hebreu tinha uma forte tradição oral, e este método ajuda no processo de disseminação do conteúdo.
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Os poemas acrósticos simbolizam de forma completa toda tristeza pela lamentação de Jerusalém.
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A forma acróstica obrigava o poeta a pensar em todas as faces de um mesmo tema, atingindo a completude.
O primeiro poema personifica a cidade de Jerusalém como uma mulher orgulhosa, brutalmente estuprada e abandonada, enfatizando a solidão, a decadência e o abandono (Lm. 1:2,9,16,17).
O segundo trata sobre a força da ira de Javé contra Jerusalém e o quarto mostra as terríveis consequências do julgamento divino. O único consolo de Jerusalém é saber que seu castigo terminará (Lm. 4:22).
O terceiro poema acróstico é o mais longo e bem construído do livro com três versos para cada letra do alfabeto. Só perde em complexidade para o Salmo 119, que possui sete versos para cada uma das 22 letras do alfabeto hebraico. É o centro de toda composição da obra, tanto no viés literário quanto no teológico. Este trecho contém:
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sofrimento pessoal do poeta, que também expressa o sentimento da nação (3:1-20)
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oração por consolo e esperança (3:21-29)
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oração de arrependimento (3:40-54)
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pedido de vingança (3:55-66)
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Propósito e conteúdo
O livro de Lamentações de Jeremias aborda os seguintes assuntos:
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Javé castiga o pecado
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O sofrimento é um meio de aprendizado
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O julgamento de Javé reflete sua justiça
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Apesar do sofrimento há esperança
Na narrativa de 2 Reis 24 e 25 lemos o registro histórico, embora do ponto de vista teológico, da tomada e destruição de Jerusalém pela Babilônia. Em Lamentações, Jeremias capta o estado de espírito dos hebreus àquilo que eles consideravam impossível: a queda de Jerusalém e a ruína do Templo. Apesar de constantemente advertidos sobre esta tragédia, resultado da quebra da Aliança deuteronômica, os sobreviventes estavam inconsoláveis.
A ameaça de expulsão da Terra da Promessa não era uma simples cláusula nos termos da Aliança moisaica. O povo finalmente havia experimentado a concretização das ameaças contidas na Lei e foram vomitados da terra (Lv. 18:24-30). Agora, a única fonte de consolação era saber que haveria a restauração para Jerusalém e também o julgamento das nações ao seu redor (Lm. 4:21-22; 3:55-66).
Embora não respondesse questionamentos “como” e “por quê”, o pranto registrado em Lamentações servia uma catarse, um extravasamento do turbilhão de emoções que os judeus sentiam diante da destruição de sua cidade e abandono por Javé. Em meio à dor e sofrimento, tentando lidar sinceramente com este trauma, o texto de Lamentações revela que o povo reconheceu sua culpa, rebeldia e infidelidade (Lm. 1:14-22).
Essa confissão de arrependimento pôde dar um sentido na esperança da restauração para o futuro conforme o capítulo três. A ira de Javé indicava seu amor pelo povo escolhido, tal qual um pai castiga um filho que o desobedece. Esta ira estava indicada como um dos itens da Aliança que o Senhor havia feito com os hebreus. O livro ainda mostra que a misericórdia de Deus é infinita e ele não rejeitará seu povo para sempre (Lm. 3:21-29).
O sofrimento humano
O sofrimento humano é inevitável, pois é uma consequência do afastamento da humanidade de Deus (Gn. 3). Ao se afastar do Senhor, a humanidade fez somente o que era mal (Sl. 14:1-4) e tornaram-se corruptos.
Javé, embora longânimo (Na. 1:3), em virtude de sua santidade e justiça, não deixará os culpados sem castigo. O Antigo Testamento fornece oito sugestões para o entendimento do sofrimento humano (de acordo com R.B.Y. Scott).
1. Retributivo | castigo justo pelo pecado | Jó 4:7-9; 8:20 |
2. Disciplinador | aflição corretiva | Dt. 8:3; Pv. 3:11-12 |
3. Probatório | teste divino do coração | Dt. 8:2; Jó 1:6-12; 2:10 |
4. Temporário | comparado com a boa ou má sorte dos outros | Jó 5:18; 8:20-21; Sl. 73 |
5. Inevitável | resultado da queda | Jó 5:6-7; Sl. 14:1-4 |
6. Misterioso | caráter e plano de Deus não são plenamente conhecidos | Jó 11:7; Ec. 3:11 |
7. Fortuito e sem sentido moral | tempo e acaso afetam a todos | Jó 21:23-26; Ec. 9:11-12 |
8. Vicário | um sofre por outro ou por muitos | Dt. 4:21; Sl. 106:23; Is. 53:3,9,12 |
Judá reconheceu merecer o castigo como execução da justiça da Javé (Lm. 1:5,14,22; 4:13)
O abandono divino
Uma das consequências do julgamento de Javé foi seu abandono de Judá. Este assunto do abandono divino de seu templo e povo foi registrado também pelos povos mesopotâmicos. Nesta literatura a divindade deixa o templo em razão da destruição da cidade porque foi incapaz de corrigir a situação.
Entretanto, o abandono de Javé foi devido à falta do cumprimento da Aliança pelo povo e não pela incapacidade do Senhor. Por causa disso Deus removeu sua glória do Templo.
Na literatura mesopotâmica, o abandono da divindade provocava clamor para seu retorno e a confissão de pecados. Em Judá, o efeito foi justamente o contrário, pois, aproveitando a ausência do Senhor se rebelaram e pecaram ainda mais.
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