Nego bate no peito e diz:
– “Vocês não sabem nada de Bíblia e nem de teologia. Ficam relativizando e colocando versículos em cheque, questionando tudo que a Bíblia diz. Olhem a bíblia gay que inventaram, o livro dos Mórmons e tantos outros livros religiosos/doutrinários baseados em alterações e omissões de trechos bíblicos!”

Existe uma brutal diferença em DISTORCER e QUESTIONAR. Distorcer é alterar. É ser cúmplice de que uma forma se altere e permaneça alterada e portanto distinta de uma primeira impressão inicial. Questionar é abrir, expor a luz, deixar em aberto, para que a forma respire, tome ar, seja avaliada, percebida, consentida e por fim, TALVEZ, compreendida, individualmente e em conjunto.
Considerando isso, ficam algumas perguntas: QUESTIONAR a Bíblia, vai alterá-la? Fazer perguntas olhando por céu seria capaz de mudar a Deus? Colocar a Bíblia inteira debaixo de uma grande lupa, pode alterar tudo aquilo que está entre Gênesis e Apocalipse? A resposta é “Não”.
Portanto, questionar, está longe de ser uma atitude, vista por muito crente “certinho” por aí, como atitude petulante ou vaidosa.
Questionar talvez seja, entre todas as atitudes de um cristão, a que mais represente com fidelidade a tamanha pobreza existencial do ser humano, e portanto completamente inofensiva ao cristianismo. Nada mais fatal para a Igreja do que crente que interpreta algo de um jeito, dogmatiza aquilo dentro de si e discipula outros a fazerem o mesmo. Além do mais, esta também é a receita de muito televangelista milionário neo-pentecostal sugador de grana de gente ingênua e ignorante: uma teologia bonitinha, formatada e acima de tudo inquestionável.
Entenda isso: colocar a Bíblia em cheque não a deixa amarela e questionar a Deus não lhe faz cócegas. Se na “teologia da dúvida” existem possíveis problemas como a incerteza e os erros de interpretação, nas teologias recheadas de certezas existe o problema da falsa e arrogante noção de estar a par sobre tudo que Deus pensa. Fico com a primeira. Tudo a respeito de Deus é absolutamente sinuoso e o deslumbramento do “não sei” ainda é o caminho que me leva mais rápido para perto do Deus da cruz.