Me preparando para entrar, fiquei lembrando de um jovem sentado em um dos tantos bancos de uma das tantas igrejas,de uma das tantas cidades desse país, ouviu a voz de Deus… de Deus?, bem, que seja, ou era Deus ou era o desejo de servir à aquele povo de maneira digna, já que sentar numa carteira qualquer de uma faculdade qualquer de uma cidade qualquer já o capacitaria e ser um bom cristão… Se colocou a balir:
– Eeeeuuu! Eeeeuuu! Eeeeuuu!
Quando do alto do púlpito um licantropo líder eclesiástico uivava
– Dentre vós, há alguém q será levantado para liderar uma multidão, será posto entre os grandes desta nação, e trará uma chave nas mãos, que abrirá os grilhões dos cativos de satanás… (frases incompreensíveis) quem dentre vós quer receber o dom pastoral nessa manhã.
Ainda era 9:30, de um sábado qualquer, de uma semana qualquer de um mês qualquer em que este jovem acabará de fazer 19 anos… Os uivos do pulpito vinham contra seus ouvidos e dando-lhe ainda mais certeza, que a partir daquele dia, sua vida iria mudar.
– Um jovem entre 17 e 22 anos…
– Só pode ser eu – pensou
– Que está aqui porque não sabe como será seu futuro,que está procurando se encontrar no mundo, mas sabe que não pertence a este mundo. Levanta ai no seu lugar – (frases incompreensíveis)…
– Sou eu, só pode ser, ele está, com este uivos, descrevendo minha vida.
Antes de se dar conta, outros dois jovens já estavam em pé, aos prantos, balindo em alta voz e clamando por misericórdia, e outras tantas frases compreensíveis, repetidas freneticamente, as quais ele tentava imitar durante todos os períodos de oração.
Lembro que muito tempo passou, e entre tantas dificuldades, o jovem entrou em uma das tantas escolas de teologia, ligada a uma das tantas instituições eclesiásticas, em uma uma das tantas cidades do Brasil. Entre dificuldade para transporte, para alimentação, para material e, em especial, para compreender os uivos dos mestres, (Quem é acostumado a balir, geralmente fica amedrontado diante de tantos uivos) que pouco a pouco foi se tornando cada vez mais familiarizado com esses barulhos novos. Já não balia como antes, nem admitia que não sabia orar em línguas estranhas, imitava os mestres e tudo se encaixava enquanto ninguém desconfiasse disso.
– Somos homens de Deus… Temos obrigação de colocar as pessoas para dentro da igreja…
– Quantas almas já resgatou na sua igreja?
– Qual é a arrecadação do seu templo?
– Já irá conseguir construir o templo maior?
Dia após dia, foi ouvindo e imitando, como imitava as orações de seus pastores nos cultos, imitava a maneira e o discurso dos mestres, mesmo percebendo que muitos deles achavam seu modo de balir muito diferente do uivo dos demais, ainda assim o permitiam nas rodas,
– Com o tempo ele aprende – Era dito quando ele se afastava, entre risos e olhares… E ele sempre ouvia.
Em um dia especifico de um mês especifico de um ano especifico, quando completou 23 anos de idade, chegou o momento da formatura e de então assumir seu compromisso, casando (uma noiva especifica, não poderia ser qualquer uma) e também com a igreja específica (também não poderia ser qualquer uma), nada poderia impedir este sonho de se concretizar. Os uivos já não eram mais problemas, reconhecia um por um, e sem pestanejar, respondia… Perdeu o sotaque caprino, agora ele fala igual aos mestres… Ele é, de fato um mestre, ele fala como um mestre, ele age como um mestre, não fala como qualquer um, ele é um metre especifico.
No primeiro dia, do primeiro culto, ao abrir a boca e tentar balir, só se pode ouvir um uivo… O uivo foi seguido por balidos e aplausos, tentou novamente, e mais uma vez… nada de balidos, só uivos…
– Eles não estão entendendo nada… Eu não estou mais falando a língua deles – Pensou enquanto continuava a uivar – Eles não conseguem compreender, mas mesmo assim, me aplaudem… Eu não consigo mais balir, esqueci como se faz isso depois de tanto tempo imitando uivos.
Um dia segue o outro, o incomodo vai passando e mesmo sabendo que não está se fazendo entender, teimava em aceitar que de alguma forma misteriosa, aquele povo qualquer, sentado naquela igreja qualquer, balindo como um rebanho qualquer, estava entendendo oque ele tinha acumulado durante tantos anos de seminário e além disso, se não estivessem entendendo, não teria tanto problema também, afinal é só mais um rebanho qualquer, de uma igreja qualquer, de uma cidade qualquer igual a todas as outras…
Já estou preparado para entrar, já ouço os balidos, já estou salivando, já posso uivar.