Aí chega Jesus no templo e passam o rolo pra ele. Ele abre o rolo num trecho profético do livro de Isaías. Esse trecho dizia mais ou menos assim:
O Espírito de Deus está em mim
Ele me escolheu para levar a Mensagem das boas novas aos pobres,
Me mandou para anunciar perdão aos prisioneiros e livrar os cegos da cegueira
Para livrar os que estão preocupados e os violentados
Para anunciar que esse é o “Ano de Deus para agir!”
Depois de ler o trecho todos olham meio surpresos pra Jesus, esperando que ele diga alguma coisa. Vale lembrar que Jesus ainda não era aquele profeta ou professor super conhecido que ele viria a ser uns três anos pra frente. Até aqui ele já tinha feito alguns milagres, já tinha pregado alguns ensinamentos bem interessantes e já tinha causado alguma curiosidade da liderança eclesiástica da época, mas ainda era um famoso desconhecido.
Bem, estava todo mundo olhando pra ele, a espera de algum esclarecimento, já que ele tinha tocado num assunto bem delicado, a questão do de um cara que vinha pra libertar Israel de toda a opressão.
Calmamente, Jesus olha a sua volta, percebe os olhos sedentos por esclarecimento, abre sua boca, e diz: Isso que eu acabei ler está consumado agora, vocês são testemunhas disso aqui, nesse lugar.
Todo mundo arregala os olhos e depois de um longo segundo de silêncio — aquele momento eterno que a ficha cai em câmera lenta — um homem levanta do meio da multidão e urra de felicidade. Logo atrás um outro cara da outra a ponta começa a pular de felicidade, quando você vê todos estão cantando e dançando. Eusébio, que era um ancião muito respeitado começa a dar ordens: “João, pede pro Luiz matar um boi que nós temos que comemorar; Lúcio, bota a cerveja pra gelar; Jorge chama o bloco, a ciranda vai rolar solta que salvador tá aqui com a gente” e aos poucos a palavra ia passando de boca a boca, a festa que o Reino de Deus tinha sido inaugurado ia se espalhando e aos poucos ela foi tomando conta do mundo inteiro pois todos sentiam com todo seu corpo que Deus estava conosco.
Mas… infelizmente não foi bem assim. Na verdade todo mundo olhou pra Jesus, estupefato com sua afirmação e o consideraram um louco, um herege. Obviamente não deram um jeito ali no momento, pois ali era o templo, o lugar santo onde habitava Iaweh e derramar sangue ali seria algo pra lá de injustificável. Mesmo que matar era um dos mandamentos chave que o próprio Deus tinha entregue a Moisés os representantes eclesiásticos carregaram Jesus pelo colarinho e iam jogá-lo morro abaixo; mas Jesus, ligeiro como só, dá um olé que nem as pernas tortas de Garrincha foram capazes de realizar e meio que passa entre aqueles o jogariam morro abaixo e sai ileso vivo e doido pra continuar pregando sua mensagem de salvação, mudança de ideias e hábitos.
Jesus e sua bela mensagem ainda seriam suportados por mais um tempo; ele só seria morto quando ficasse claro que a religião pregada pelos fariseus não tinha nada a ver com o Deus que supostamente eles adoravam. Ia demorar um pouquinho pra pregar esse herege na cruz; sua mensagem tinha ficar mais insuportável e óbvia para que nós, pecadores, não conseguíssemos mais suportá-la.
Kyrie eleison
A imagem que ilustra esse post é do francês Rodin e se chama João Batista pregando.