Introdução ao Livro de Ester – Nos bastidores da aliança
O livro de Ester, devido ao seu estilo literário e trama cinematográfica, gerou muitos debates acerca de sua canonização na Bíblia Hebraica.
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O livro de Ester, devido ao seu estilo literário e trama cinematográfica, gerou muitos debates acerca de sua canonização na Bíblia Hebraica.
A narração está ambientada em Susã, capital do Império Persa, e não utiliza em nenhum momento o termo Deus ou Javé. De fato, a história descrita neste livro foi e continua sendo o enredo básico de muitos filmes e séries de televisão em consequência da estrutura de sua narrativa e construção dos personagens. Este livro retrata a jovem estrangeira órfã que se casa com o rei, vítima da manipulação de todos e sempre contrariado por sua rainha. Esta jovem descobre o plano do vilão para matar seu povo e arquiteta um contra golpe para salva-lo. Ao final da trama o vilão morre na própria armadilha que construíra, e seu tutor é elevado ao cargo de grande responsabilidade no reino, tomando o antigo lugar do vilão. Após longo debate sobre sua canonicidade, o livro passou a constar na lista dos livros inspirados divinamente.
Alguns estudiosos consideram esta trama espetacular demais para ser real, muito embora a realidade possa ser, por vezes, muito mais espetacular. A maioria aceita que, embora o livro tenha realmente uma trama novelesca, ele está repleto de elementos históricos, dificeis de negar. Ademais, o livro contém detalhes do sistema administrativo persa, que apenas Mardoqueu e Estar poderiam saber. Outros aspectos administrativos citados são os seguintes:
- conselho de sete nobres – 1:14
- sistema postal do império – 3:13; 8:10
- crença em dias grandiosos – 3:7
- manutenção de registros reais – 2:23; 6:1
O verso 10:2 deixa bem claro a intenção do livro de Ester, que foi registrar, por meio da bravura de Mardoqueu, o livramento e permenência do povo judeu. Para narrar estes fatos o autor recorreu a registros históricos de fontes extra canônicas, ou seja, mesmo que o livro não tenha intenção de ser um relato histórico per si, ele está baseado em fatos históricos registrados em outras fontes e aponta para a precisão de dados que o autor se preocupou em pesquisar.
Mardoqueu foi um dos nomes cogitados como possíveis autores do livro, entretanto há poucas evidências que sustentem esta posição, por isso a autoria anônima é unanimidade entre os especialistas.
A história narrada no livro se passa na Pérsia durante o século V a.C., portanto durante o exílio babilônico e alguns anos antes da viagem de Esdras e Neemias a Jerusalém. Esta informação nos leva à conclusão de que provavelmente o livro foi escrito num período posterior a esta época. Podemos datar a produção do livro antes século II a.C., devido à análise do hebraico usado em sua escrita.[/tab][tab title=”Estrutura”]
O livro de Ester pode ser estruturado da seguinte maneira:
- Ester é feita rainha da Pérsia – 1:1 – 2:20
- Hamã conspira o extermínio dos judeus – 2:21 – 3:15
- Ester lidera a defesa do seu povo – 4:1 – 5:8
- A queda de Hamã – 5:9 – 7:10
- O triunfo dos judeus sobre seus inimigos – 8:1 – 10:3
Os especialistas em literatura bíblica concordam que o livro está estruturado sob o formato literário de reversão, isto é, a trama evolui no sentido contrário ao esperado e, no seu clímax, há a inversão da situação presente. Este padrão é verificado na exaltação de Mardoqueu, a queda de Hamã e a vitória final dos judeus contra os persas.
O livro de Ester também contém uma dose de ironia. A ironia acontece quando o leitor possui informações que um dos personagens da trama não tem. Este recurso literário é empregado, por exemplo, quando Hamã vai ao palácio do rei pedir permissão para executar Mardoqueu, porém, o rei pede uma opinião sobre um modo de lhe conceder grande honra. Hamã pensa que o rei queria honrá-lo, quando na verdade estava se referindo a Mardoqueu. O recurso da ironia chega ao seu ponto mais elevado quando Hamã concede tal honra a Mardoqueu, a quem queria assassinar e acaba morrendo na própria armadilha que preparara para Mardoqueu.
O recurso da ironia e reversão no livro de Ester ressaltam o controle de Javé sobre a história e ensina que o plano da sua aliança não pode ser detido.[/tab][tab title=”Propósito e mensagem”]
Basicamente o livro de Ester trata dos seguintes assuntos:
- Javé age em prol da aliança mesmo nos bastidores da história
- O plano de Javé para o povo da aliança não pode ser detido
- As conspirações dos ímpios são condenadas
Durante a história, Israel havia recebido de Javé diversos livramentos miraculosos, tais como os dez sinais, a libertação da Egito, a abertura do Mar Vermelho, a queda dos muros de Jericó e até mesmo o retorno dos judeus exilados na Babiblônia. Contudo, no enredo de Ester, a mão miraculosa de Javé parece estar encolhida. Porém, não pode ser apenas coincidência a insônia de um rei e a descoberta quase acidental da trama para eliminar os judeus.
No desenrolar da narrativa a esperança, fundamentada nas profecias de libertação e julgamento dos inimigos (Zc. 1:21), ainda permeava a vida e o pensamento do povo judeu, mesmo que não visse tão claramente a mão de Javé como nas ocasiões anteriores.
Portanto, mesmo que os métodos de Javé mudem na história, seu propósito continua o mesmo, e seu povo reconhece sua soberania no livramento do extermínio e preservação da aliança que fizera com seus antepassados.
Purim
O purim é uma festa de comemoração ao livramento dado por Javé aos judeus que habitavam a Pérsia no período de retorno a Jerusalém. Alguns especialistas afirmam que o livro de Ester foi escrito para legitimar uma festa que não nasceu em solo palestino.
O nome “Purim” é adequado, pois significa sorte, indicando que o oivramento do Senhor não aconteceu por algum modo visivelmente miraculoso, mas de uma forma que muitos considerariam um acaso, porém esta festa legitima o ensino da Providência divina, indicando que Deus age tanto de modo visivelmente miraculoso quanto de modo aparentemente casual.
O povo de Deus
Nós estudamos em Gênesis a escolha de Abraão e sua descendência para o propósito do anúncio do nome de Javé entre as nações. Porém, conforme observamos, o povo hebreu falhou neste intento.
No livro de Ester o livramento de Javé não foi dado para que as nações o conhecessem, mas a intenção foi fortalecer a fé de quem cria na soberania de Deus, em detrimento do ceticismo de alguns.
Embora Deus quisesse que seu povo mantivesse um relacionamento com ele, no período pós-exílio, a atribuição do povo judeu de revelar Javé ao mundo perdeu sua importância e, aqui, temos um desvio de paradigma, quando o povo judeu passa a ser um povo exclusivista.
Entretanto, mesmo diante desta mudança de paradigma, o livro de Ester mostra que, indiretamente, o nome de Javé foi anunciado, conforme observamos em 6:13, onde a esposa de Hamã reconheceu que os planos do seu marido não seriam concretizados em virtude da origem judaica de Mardoqueu.[/tab][/tabs]
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