É um tanto quanto inquietante o fato de Jesus ter escolhido fundamentar sua pregação em cima de parábolas; nenhum filósofo ou pensador defendeu suas ideias com histórias, Sócrates tinha lá seu método das perguntas, que também é um tanto quanto incomum, mas é bem filosófico; Nietzche fez uso de um personagem, mas no fim das contas é só um personagem filosofando; o método de Jesus é entretenimento, e entretenimento, como todo mundo sabe, não é coisa de se levar a sério.
Porém não bastava Jesus ter baseado sua pregação em histórias, ele simplesmente não explicava elas. Explicou algumas, umas duas ou três, eu acho, e explicou só para os doze mais próximos, ou seja, só quem estava realmente próximo de Jesus é que teve a oportunidade de ouvir algo além das histórias saído da boca do Nazareno.
E disso eu tiro duas conclusões — e essas conclusões são minhas, partilho aqui, porque as acho digna de serem partilhadas, mas não pretendo ir além do que partilhar um pensamento.
A primeira: se o reino de Deus é dos pequeninos, talvez o contar histórias seja o meio mais adequado mesmo, talvez o se tornar como crianças, parar, se aquietar e ouvir um barbudo maluco contar histórias é o que deveríamos fazer, parar de tentar racionalizar e simplesmente saborear uma boa história.
(E as histórias tem esse poder, nem sempre elas nos dizem algo, as vezes simplesmente nos divertem, mas outras vezes elas nos transformam, causam um mudar de pensamento, causam uma transformação, algo que por si já é divino.)
A segunda: se Jesus só explicou suas parábolas para os doze que estavam mais próximos, não há outra forma de entender seus ensinamentos do que andando junto com ele.
E talvez, somente talvez, pra poder caminhar com ele, a gente tem que parar de tentar explicar as coisas e simplesmente ouvir e brincar, assim como fazem as crianças.
Kyrie eleison
A imagem que ilustra esse post é uma pintura da parábola do filho pródigo feita pelo pintor holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn.